O velho e bom blockbuster! A coluna Elo Preto retorna com o longa produzido por Lewis Hamilton e Jerry Bruckheimer, dirigido por Joseph Kosinski e protagonizado por Brad Pitt e Damson Idris entrega ação, boa trilha sonora, mas cai de produção quando precisa impressionar.

A fórmula de um bom blockbuster é bastante óbvia, você precisa de uma história clichê que crie uma empatia imediata com público, se tiver cenas de ação bem executadas melhor ainda, se o elenco for atrativo com uma estrela carismática de Hollywood liderando, é quase certo que irá virar um sucesso de bilheteria se todos estes elementos funcionarem a contento.
É com todos estes adjetivos que a superprodução da Apple TV Studios distribuída pela Warner Bros, “F1: O Filme” (F1 – The Movie, 2025), tenta repetir o sucesso de “Top Gun: Maverick” trazendo de volta o diretor Joseph Kosinski a frente do longa estrelado por Brad Pitt (Era Uma Vez Em Hollywood), um veterano da Fórmula 1 chamado Sonny Hayes, que é retirado da aposentadoria por um velho amigo, Ruben (Javier Bardem), para compor a equipe APXGP, onde precisa trabalhar em equipe com um novato, Joshua Pearce (Damson Idris), cheio de personalidade e atrevido.
Com base nesta pegada que o filme tenta atrair não só fãs do gênero ação, mas também amantes do esporte de alta velocidade, principalmente daqueles que adoram assistir Fórmula 1 nos finais de semana. O longa de Kosinski possui uma ambientação impecável e seu estilo de filmagem coloca o expectador dentro da ação e do cockpit dos pilotos. As primeiras cenas, principalmente nas sequências em circuitos de fórmula 1, são um deleite sensorial e visual, com uma execução precisa e resultado não menos que imersivo.

Então por que “F1: O Filme” parece nunca atingir o êxtase completo? Talvez porque o roteiro falhe em conseguir um equilíbrio entre os elementos fictícios e os elementos reais. A ambientação utilizando circuitos reais da fórmula, bem como diversas participações especiais de pilotos famosos da atualidade como: Verstappen, Sainz, Charles Leclerc, Tsunoda, Hamilton (que é produtor do filme), Alonso, dentre outros famosos do meio esportivo, dá um ar realista para trama que é muito bem executada.
Porém, quando roteiro precisa inserir a história de Sonny Hayes como um veterano da categoria e a história de Joshua Pearce como um piloto arrojado e cheio de ego, além dos membros da equipe APXGP como parte fictícia neste mundo real, o texto sofre um pouco em tentar emular um ambiente esportivo glamouroso, cheio de tecnologia, rico e complexo, ao mesmo tempo que precisa se apoiar em velhos clichês do gênero para fazer a trama funcionar.
Veja bem, falta a escrita de Ehren Kruger (Top Gun: Maverick), algo que nos faça vibrar de forma genuína com as manobras realizadas por Hayes para ajudar a APXGP pontuar no campeonato onde a equipe se encontra na última colocação. Infelizmente, tudo é muito telegrafado e previsível, onde o expectador sabe onde os conflitos começam, onde o romance acontece, onde as surpresas vão acontecer, sem que isso seja algo surpreendente dentro da narrativa.

No entanto, o que salva “F1: O Filme” de não sucumbir totalmente as previsibilidades do roteiro, é a forma como a parte técnica com apoio do elenco consegue deixar os pontos mais manjados com um certo peso narrativo que até mesmo o público mais exigente irá se encantar com o longa.
A junção começa exatamente na excelente fotografia de Claudio Miranda (As Aventuras de Pi) com planos abertos grandiosos com locações globais e circuitos automobilisticos maravilhosos, em contraponto temos tomadas mais intimistas nos boxes ou nas sequências de corrida que dá um tom mais charmoso e atraente. A trilha sonora de Hans Zimmer (Homem de Aço) é um espetáculo a parte e uma de suas melhores em muito tempo. A direção de Joseph Kosinski é insana, daquelas que te deixam imerso na experiência de viver uma corrida pelos bastidores, seja na pista pelo ponto de vista dos pilotos, seja pela experiência de acompanhar pelo ponto de vista dos membros da equipe.
E isto só seria possível, com um elenco certo, a começar por Brad Pitt, o ator está super a vontade, sua jornada do cara ultrapassado que sofreu um grave acidente e precisa se provar nas pistas, cai como uma luva para um artista que tem presença de tela ofuscando a todos quando está em cena. O ator Damson Idris (Snowfall) é um contraponto perfeito da juventude rebelde que conversa com a geração Z voltada para redes sociais num personagem que é igualmente carismático ao lado de Pitt.

O restante do elenco se sustenta com a presença canastrona, mas com charme do Javier Bardem (007 – Operação Skyfall) no papel do dono da APXGP, Tobias Menzies (Outlander) no papel do empresário com ar de vilão Peter Banning, serve como bom entretenimento. Sarah Niles (Ted Lasso) no papel de mãe coruja de Joshua, ajuda a humanizar o personagem perante o público.
De todos os coadjuvantes, Kerry Condon (Skeleton Crew) é a que merece uma grande menção, porque sua personagem Kate McKenna, engenheira chefe da equipe é um poço de carisma, beleza e inteligência, basicamente a cola que une a dupla protagonista, sem falar que a atriz mostra versatilidade em uma personagem que poderia ser apenas comum, mas com ela ganha camadas e apelo perante o público.
Por tudo que foi comentado, “F1: O Filme” pode até não ser um espetáculo de narrativo, inclusive falha muito em alguns momentos de tensão por conta da previsibilidade, mas tem o mais importante para tornar a produção uma sensação, coração. Os aspectos técnicos, as reviravoltas, as sequências de ação bem dirigidas com uma edição afiada que acentuam através do som incluindo uma sequência final de arrepiar, compensam qualquer ressalva que o longa possa ter merecendo ser visto na maior tela possível. Junte isto a um Brad Pitt em estado de graça, um elenco afinado e uma direção sólida, temos aí um dos blockbusters mais viscerais do ano.

Elo Preto
Personagem: Joshua Pearce
Ator: Damson Idris
Idade: 33 anos
O destaque da coluna Elo Preto deste mês, vai para Damson Idris, um dos atores negros em ascensão mais promissores da sua geração. No papel de Joshua Pearce, o ator inglês traz charme, juventude e beleza para o papel do piloto cabeça quente e arrojado que desafia o personagem de Brad Pitt a cada cena. Idris mostra talento e presença mesmo com Pitt roubando a cena como protagonista. O ator é famoso pela série da FX, “Snowfall”, mas já participou de algumas produções interessantes, como a minissérie “Enxame” da Amazon e o filme sci-fi de ação junto com Anthony Mackie, “Zona de Combate”. O ator promete ficar ainda mais em evidência em breve ao protagonizar a aguardada adaptação “Filhos de Sangue e Osso”.


