Amor preto em tela! A série produzida por Regina King traz doçura, encantamento e amor da melhor qualidade ao explorar a relação de um casal adolescente em meio a transição para fase adulta.

Um encontro casual, uma troca de olhares e imensas possibilidades. O primeiro amor é um dos sentimentos mais fortes que já existiram, que te pega de guarda baixa, que faz você perder o senso de realidade, nem que seja por alguns segundos, onde tudo parece fazer sentido, onde nasce algo que você não pode controlar. Quando essa força te arrebata e a pessoa que você se conecta lhe preenche por inteiro, normalmente este sentimento é o que chamamos de amor.
Toda esta filosofia e contextualização, se deve ao fato da série “Para Sempre” (Forever, 2025-Presente), nova produção da Netflix conseguir encapsular exatamente todos estes sentimentos citados anteriormente ao contar a história de amor dos jovens Keisha Clark (Lovie Simone) e Justin Edwards (Michael Cooper Jr.), que se encontram e se conectam de tal forma que suas vidas acabam por serem impactadas para sempre.
Este drama adolescente criado por Mara Brock Akil é baseado no best seller de mesmo nome escrito por Judy Blume. A série é produzida pela vencedora do Oscar, Regina King (Se a Rua Beale Falasse), que também dirige os dois primeiros episódios “Reunion” (1×01) e “Ghosted” (1×02), que dão o tom para o restante da temporada capturando toda a aura do universo juvenil que se passa na década passada, começando inicialmente no final de 2017 até chegar no final de 2019.

É neste ponto que somos levados a testemunhar o primeiro encontro de Justin e Keisha em uma festa de forma inusitada, mas que de imediato mostra uma conexão que prende nossa atenção não só pela ótima química do casal principal, mas pela ambientação de uma Los Angeles solar, vintage e cheia de personalidade que fica ainda melhor embalado por uma trilha sonora que aqui funciona perfeitamente para dar ritmo a narrativa.
Como toda série de romance, “Para Sempre” não foge dos clichês do gênero, mas os abraça de tal forma mostrar um romance com duas pessoas pretas de realidade diferentes que se unem em prol um sentimento incontrolável que só é barrado pela realidade de seus próprios futuros. Afinal tanto Keisha como Justin, estão prestes a se formar no high school (o ensino médio dos EUA) e precisam decidir que caminho irão seguir com a pressão de serem aprovados em universidades que almejam.
A forma como o seriado aborda não só o romance, mas o drama é de uma sobriedade incrível. Enquanto Keisha vem de uma realidade mais dura, com a sua mãe Shelly (Xosha Roquemore) se desdobrando trabalhando dia e noite para dar um futuro melhor para filha. Por outro lado, Justin possui uma rede de apoio mais sólida vindo de uma família negra de classe média tendo todo o futuro traçado para mãe coruja Dawn Edwards (Karen Pittman) e pelo pai Eric (Wood Harris).

A primeira metade da série explora muito os conflitos adolescentes, além dos encontros e desencontros dos protagonistas, mas sempre mostrando de forma bastante desenvolvida os dois mundos deste casal que aos poucos vai se conhecendo, se envolvendo, nos levando junto numa jornada de autodescobrimento e bastante ternura.
Os episódios “Fourth Quarter” (1×03) e “Run It Back” (1×04) são episódios focados na realidade que impedem o casal de ficar juntos, mas também nas qualidades que os atrai cada vez mais. A narrativa é muito bem desenvolvida ao ponto de estarmos completamente obcecados pelos personagens.
Méritos da produção, que possui uma direção eficaz que capturar a emoção do casal principal, ao passo que a cinematografia dá um charme a mais as locações de Los Angeles, bem como o roteiro que dá profundidade não só a Justin e Keisha, mas a seus pais e amigos, todos envolvidos em uma teia de acontecimentos que dá dinamismo ao seriado. A trilha sonora é outro ponto forte, tão boa e tão vital para trama que funciona como uma aura reproduzindo emoções (ouça abaixo) que representam o humor dos personagens.

Por conta de um acontecimento envolvendo Keisha, a série consegue traçar todo um drama que se utiliza deste fato em particular para gerar diversos conflitos durante os oito episódios, causando as principais idas e vindas dos protagonistas. O melhor da narrativa é quando se apoia em diálogos muito bem escritos para trazer um choque de realidade aos personagens e é aonde também temos os melhores momentos do seriado em si.
O episódio “The Vineyard” (1×05) é daqueles episódios maravilhosos que começam com desencontros até culminar numa bela celebração do amor que resiste as diferenças e indecisões. A série também sabe usar estes momentos para criar bons ganchos e reviravoltas, nunca deixando que os personagens permaneçam muito tempo em uma zona de conforto.
É maravilhoso como a showrunner Mara Brock consegue capturar uma época pré-pandemia de uma forma tão esperançosa explorando a conexão deste casal e suas respectivas famílias mostrando inclusive que famílias negras não são todas iguais, cada uma vivendo em uma determinada classe social, tendo apenas como denominador comum a identificação pela negritude e cultura, ao que une comunidades negras nos EUA de uma forma bastante contundente e aqui é explorada de uma forma bastante completa, como podemos ver no episódio “The Honeymoon” (1×06).

Os dois últimos episódios “Deep End” (1×07) e “Forever” (1×08) exploram de forma madura o amor além do romance focando nas emoções a flor da pele revelando um outro lado desses personagens a se depararem com entraves da chegada da vida adulta e repleta de responsabilidades, talvez isto faça o ritmo do seriado diminuir e esfriar, mas ganha em nuances mostrando como Keisha e Justin são opostos, mas trazem o melhor um do outro ao enxergarem seus futuros em busca de um lugar no ensino superior.
Dizer mais é estragar todas as surpresas, mas devo dizer que “Para Sempre” é daquelas pérolas raras do audiovisual feita com esmero, que traz um recorte de uma década maravilhosa recheada de fulgor, juventude e sentimentos, com um toque narrativo muito apurado de um roteiro que explora as mazelas do amor em seus altos e baixos de uma forma sensível e avassaladora com a química entre os atores Lovie Simone e Michael Cooper Jr exalando em cada enquadramento dessa belíssima série que termina com aquele gostinho de quero mais. Simplesmente um clássico moderno imperdível.
Observação: Devido a boa repercussão, a série foi renovada para segunda temporada.

Ouça a belíssima trilha sonora que embalou o romance de Justin e Keisha abaixo.
