O canto do cisne da quebrada! Uma das séries nacionais mais bem sucedidas da Netflix, chega ao seu final apostando no seguro finalizando a trajetória de Nando, Rita e Doni.
Spoilers da Temporada Abaixo

Quando a quarta temporada desta série nacional terminou e a Netflix anunciou que esta quinta temporada seria a última, confesso que fiquei feliz, estava na hora. Quando um seriado chega no seu pico, é importante saber quando terminar, senão as histórias acabam perdendo força e virando um imbróglio narrativo que só gera reclamações apagando a jornada dos personagens.
E isto, quase acontece com “Sintonia” (2019-2025), que estreou sua temporada final no último dia 5 de fevereiro com a missão de finalizar de forma digna a trajetória iniciada em 2019 do trio de amigos: Nando (Christian Malheiros), Rita (Bruna Mascarenhas) e Doni (Jottapê Carvalho).
O último corre, como o marketing espalhado por São Paulo e pela internet denominou esta temporada, que se passa anos após a prisão de Nando e meses desde que ficara trancafiado na solitária. O tempo passou, Doni seguiu em frente tocando sua gravadora VA Records, enquanto Rita finalmente se formou advogada, com a missão agora de se encontrar neste seguimento profissional.

O primeiro episódio “Surpresas da vida” (5×01) começa de forma morna, ainda que a cena de abertura seja uma calorosa batalha de Rap com a equipe da gravadora de Doni, o episódio tenta na maior parte do tempo situar o expectador terminando com um gancho com Nando pretendendo não passar muito tempo preso.
É a partir disto que “Sintonia” entra numa trama mais clichê sempre intercalando os arcos narrativos do trio principal. Não existe novidade aqui, o avanço linear crescente da série, parece ter chegado no pico na temporada anterior, por isso que este último ano parece algo mais do mesmo, sem grandes momentos de brilhantismo.
Desta forma, a narrativa se apoia muito no clima de despedida e utiliza algumas pequenas surpresas no caminho para ao menos deixar o expectador mais interessado, como a descoberta de que Doni vai ser papai, de um relacionamento que não vimos desenvolver em tela, o que torna tudo um pouco desinteressante, apesar de ser um passo novo para o personagem.

A trama de Rita é melhor, com seus desafios na advocacia seu arco é mais atrativo por ter dilemas étnicos que a personagem precisa enfrentar ao entrar para uma firma que vai exigir que ela amadureça muito rápido ao longo dos episódios, a começar no episódio “Aqui se faz, aqui se paga” (5×03).
Mesmo com estas histórias, a trama de Nando, é o que faz a série andar, na verdade desde que o personagem ascendeu no mundo do crime lá no começo da série, roubou todas as cenas para si. A série passa boa parte do tempo focando na fuga do personagem da cadeia, neste ponto o texto acaba se tornando bem previsível ao trazer um gancho que deveria ser chocante, mas que no episódio “Bom ou Ruim” (5×02), acaba sendo tudo, menos surpreendente.
Para “Sintonia”, a vantagem é que Scheyla (Julia Yamaguchi) que ganhou bastante destaque na temporada anterior, continua tendo papel crucial para aumentar a carga dramática da série. Ao mostrar o inferno mental que Nando está passando na prisão, inclusive tendo visão de velhos conhecidos, a série também mostra o lado sem ele no lado de fora representado por sua esposa.
Esses dois lados da moeda, servem como dilema moral para o personagem realizar seu plano mais ambicioso em prol da família, levando seus amigos Doni e Rita a entrarem num conflito que bota em risco até a amizade do trio de anos sobre acobertar ou não sua fuga em determinado ponto da história.

Sem revelar mais para não estragar a experiência de quem ainda vai assistir, posso dizer que “Sintonia” acaba indo por um caminho mais seguro na sua reta final sem adotar o nível de tensão construído nas temporadas anteriores. É claro que em “Fantasmas do Passado” (5×04) e “Primeiro Caso” (5×05), a série não deixa de abordar o mundo do crime e seus perigos, utilizando este fator para entregar uma morte que realmente vai pegar o público de jeito.
A verdade é que o maior mérito da série, é se apoiar na amizade de Doni, Rita e Nando, até porque muito do que fez este produto nacional da Netflix um sucesso, foi exatamente a peripécia e evolução destes personagens nos corres da Vila Aurea, cada um seguindo seus sonhos e almejando algo para si.
As subtramas que ajudam a encorpar a história, só funcionam até certo ponto, a começar pelo arco breve de Cleyton (MC M10), que sofre um acidente de moto e acaba tendo um estresse pós traumático por conta disto. Outros coadjuvantes são utilizados da forma mais breve possível, como Pulga (MC Rhamon), que surpreendentemente teve sua história reduzida aqui o que deve desagradar alguns fãs, mas temos boas surpresas, com um pouco mais de tempo de tela para Jussara (Rosana Maris), mãe de Scheyla que tem uma cena bem emocionante perto do final.

Em termos de atuação, fico dividido em relação a performance de Jottapê (Avenida Brasil) no papel do MC Doni, apesar do personagem mostrar mais maturidade e promover mais benefício a sua comunidade na Vila Aurea, sinto que o ator em si está bastante apático, sem aquele gás e empolgação que teve nas primeiras temporadas, talvez seja algum pedido da direção pós atentado na quarta temporada, ou talvez seja desânimo do próprio ator, que só mostra a que veio quando precisa soltar a voz no Festival que fecha o seriado e também na cena do nascimento de seu filho.
Agora, Bruna Mascarenhas (Maníaco do Parque) brilha no papel de Rita, a atriz mais a vontade do que nunca, traz uma carga emocional muito boa e mostra a melhor evolução do trio, seguindo por um caminho promissor que nos faz torcer muito pelo seu sucesso, principalmente porque precisa se adaptar e encarar um mundo adulto que muitas vezes testa sua saúde mental.
E por último, temos Christian Malheiros (Biônicos), como sempre entregando a melhor atuação dos três, aqui o personagem mais uma vez se vê numa encruzilhada, que traz mais uma vez conflitos internos que o personagem precisa decidir seu futuro, mesmo que tenha que abrir mão do amor da mulher e dos filhos (bastante crescidos). Malheiros domina cada cena que aparece e faz o expectador criar empatia com o personagem, mesmo estando do lado errado da lei.
A série criada por KondZilla, Guilherme Quintella e Felipe Braga sempre desafiou o público, mas sempre trouxe um lado cultural bastante empolgante ao misturar crime, religião e música nesta trama focada em uma favela no berço de São Paulo. O funk sempre foi explorado na trilha sonora e nesta última temporada não é diferente, dando ritmo a história dos personagens e suas jornadas de forma bem sucedida.

Por tudo que foi comentado, “Sintonia” termina de uma forma decente e bastante satisfatória, longe de ser a melhor temporada, ao menos a série finaliza a história do trio principal da forma mais respeitosa possível. Ainda que a narrativa flerte com a romantização do crime e estereotipo racial do preto criminoso, o roteiro não cai no clichê de um final óbvio para um determinado personagem.
Quando o último episódio “Sintonia Final” (5×06) acaba, a sensação é de vazio, ainda mais quando descobrimos o futuro de Rita, Nando e Doni, mas ao menos quando isso acontece, deixa aquele gostinho de que tudo que acompanhamos valeu a pena. O final é mais melancólico do que agridoce, mas ao menos é redondinho na medida, exaltando nossa cultura musical através do funk, nosso povo, dando voz a periferia e mostrando que temos histórias boas que valem a pena serem contadas. No final, a única palavra que conseguimos dizer quando as letras começam a subir é “Muito obrigado, comunidade!”.
Leia o texto das temporadas anteriores abaixo:
Crítica da terceira temporada, leia agora aqui.
Crítica da quarta temporada, leia agora aqui.
Gostou? Veja o trailer da última temporada e comente o que achou abaixo se já assistiu.
Deixo vocês com a música final do menino Jottapê que se tornou o tema dessa quinta temporada.

