Dando voz aos anônimos! Este longa indicado ao Oscar é sensível e emocionante, resgatando a humanidade em nós através das atuações marcantes de Colman Domingo e Clarence “Divine Eye” Maclin.
| 3 Indicações ao Oscar 2025 |
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| Melhor Ator – Colman Domingo |
| Melhor Roteiro Adaptado – Clint Bentley Greg Kwedar, Clarence Maclin, John Divine G Whitfield |
| Melhor Canção – “Like a Bird” – Abraham Alexander e Adrian Quesada |

É incrível o poder transformador da arte, esta que se comunica através de várias mídias e conversa com expectador de formas que na maior parte do tempo tendem a ser algo transcendente. Longas de drama costumam ser mais profundos que outros gêneros, exatamente por trazer esse tom reflexivo sobre a linguagens artísticas a níveis que nos faz sair da zona de conforto que narrativas mais comuns não conseguem.
O longa dirigido por Greg Kwedar (Do Outro Lado da Fronteira), “Sing Sing” (Sing Sing, 2023), que está atualmente em exibição nos cinemas brasileiros, resgata exatamente o cinema no seu molde mais tradicional, mas com uma linguagem totalmente artística ao contar a história de um grupo de detentos que participam de um programa reabilitação através das artes na Prisão de Segurança Máxima de Sing Sing.
Esta produção da A24, acompanha o grupo na criação de uma peça centrando sua história no detento John “Divine G” Whitfield (Colman Domingo), que foi acusado por um crime que não cometeu, mas que aqui serve como os olhos do público para este lado pouco retratado em tela, a reabilitação de detentos que neste caso veem na arte, a única saída para redução de pena e possível liberdade.

O mais impactante desta trama baseada em fatos, é a forma sensível como o Greg Kwedar a dirige, com um tom que mistura um pouco documentário, com uma fotografia que traz um tom mais antigo através da sua película que dá a impressão que estamos vendo um corte histórico de determinada época.
Assim como o excelente “Nickel Boys”, o apuro técnico é usado de forma exemplar dando o tom da história que fica mais autêntica quando percebemos que apenas três pessoas são atores profissionais no elenco principal, sendo o restante composto por ex-detentos que viveram na instituição, participaram do programa e aqui interpretam a si mesmos.
É neste lugar que “Sing Sing” nos toca de forma mais objetiva, pois nos convida a conhecer estas pessoas, que por algum motivo foram condenadas a cumprir pena e precisam ser isoladas do mundo lá fora, encontrando na arte uma forma de se redescobrirem e se expressarem.

Ao enxergar pessoas, além dos delitos, o filme mostra o caminho da reabilitação através deste grupo, que vai sendo desenvolvido da forma mais emocionante possível. A câmera de Greg é curiosa e observadora, privilegiando os diálogos da forma mais simples e cativante, abrindo espaço que a narrativa gire em torno da concepção da peça.
Dando assim espaço para dois personagens importantes brilharem, o primeiro vivido pelo ator Colman Domingo (Rustin), mostra que seu John Whitfield é um cara complexo, que ajuda seus companheiros a se motivarem para se apresentar na peça, enquanto vive seus próprios dilemas pessoais, acentuado posteriormente por uma fatalidade que acontece no meio da trama.
Domingo mais uma vez entrega uma atuação ótima, daquelas marcantes em todos sentidos, seja na forma como se expressa, seja forma como rouba praticamente todas as cenas em que aparece, principalmente na sequência do desabafo durante a peça. Felizmente, o ator não é o único a brilhar, o ex-detento na vida real Clarence “Divine Eye” Maclin entrega outra boa atuação que vai entre a fúria e sensibilidade fazendo papel de si mesmo, sendo um dos personagens mais peculiares do filme.

E a narrativa não para por aí, “Sing Sing” apesar de ser um longa que flerta muito com documentário, ainda é um drama tradicional com toques de cinema indie da melhor qualidade, com um enredo que não tem pressa para se desenrolar, então a trama tem uma cadência inicial que pode afastar os mais impacientes, mas compensa na forma como aprofunda no principal objetivo deste presídio de segurança máxima, reabilitar.
É incrível como o texto mostra que cada personagem possui uma história, um objetivo, um ideal, uma vontade, que são expressados através da peça e também no convívio da preparação antes da apresentação, com rodas de conversas que soam naturais e irreverentes, capturando a humanidade dessas pessoas seguiram um caminho errado, mas parecem ter encontrado na arte, uma forma de seguir o caminho certo.
Por tudo que foi comentado, “Sing Sing” é um belíssimo filme, daqueles dramas menores em termos de produção, mas grandiosos na forma como entrega sua mensagem que fala sobre humanidade, senso de comunidade e liberdade, tudo isto, elevado por uma direção correta e atuações impecáveis de Domingo e Maclin. Este longa é o resgate do que nos faz humanos, um olhar ao extraordinário que transcende a tela principalmente se levarmos em conta a linda sequência final, onde não importa se é dentro ou fora de uma prisão, o viver livre é algo que deve ser permitido a todos.
Gostou? Veja o trailer abaixo, ouça a música indicada ao Oscar, “Like a Bird” e comente se assistiu ao longa nos comentários.
Canção: “Like a Bird” – Abraham Alexander e Adrian Quesada

