“Irracional” – Minissérie – Crítica

Loucura e paranoia! A nova minissérie da Netflix protagonizada por Colman Domingo derrapa em trazer uma trama mais redonda, porém ainda assim expõe uma realidade assustadora cercada de notícias falsas, extremismo e conspirações.

Fonte: Netflix

Irracional é tudo aquilo que é feito fora da razão lógica, sem um propósito, um ato que foge do bom senso e da sensatez. Estes atributos normalmente são usados quando agimos fora do senso comum, de forma animalesca a situações que estão fora no nosso controle quando estamos encurralados ou no limite das emoções.

Digo isto, pois o drama da Netflix de mesmo nome “Irracional” (The Madness, 2024), traz uma trama instigante capaz de prender o expectador numa teia de mistérios e conspirações protagonizado pelo ótimo Colman Domingo (Rustin), que interpreta o jornalista Muncie Daniels, que após sair para um descanso em um local isolado, acaba se envolvendo em um assassinato que desencadeia uma conspiração ainda maior que faz o personagem correr contra o tempo para provar sua inocência.

A Minissérie criada Stephen Belber utiliza-se de uma premissa com bastante potencial para tecer comentários sociais interessantes. Ao visitar a casa deste vizinho, na verdade Muncie acaba testemunhando a queima de arquivo de Mark Simon (Tahmoh Penikett), que não é um desconhecido, mas um famoso supremacista branco, dando ignição ao Piloto (1×01) que desencadeia uma série de eventos.

Fonte: Netflix

A série começa muito bem, os elementos de um bom thriller estão lá, ainda mais por Muncie ser um homem negro, íntegro, que se vê num beco sem saída por supostamente matar uma pessoa branca ligado a extremistas racistas. É basicamente uma bomba relógio que gera boas discussões sobre notícias falsas e desinformação em um mundo contemporâneo que poderia simplesmente ser baseado em fatos, apesar de ser ficção.

A temática atual serve de propulsor para atiçar o interesse do público em “Irracional”, é neste ponto que os episódios “Djibouti” (1×02) e “Discord” (1×03) revelam o potencial de uma narrativa que mostra Muncie tentando limpar seu nome ao mesmo tempo que tenta proteger a ex-esposa Elena Powell (Marsha Stephanie Blake) e o filho caçula Demetrius (Thaddeus J. Mixson), além da filha mais velha Kallie (Gabrielle Graham), tudo isso com ajuda do amigo Kwesi Dupree (Deon Cole) e posteriormente do agente do FBI, Franco Quiñones (John Ortiz).

A série, infelizmente, vive de altos e baixos, transitando muito entre as questões morais de certo e errado enquanto aprofunda e traz personagens em profusão que vão cruzando a vida de Daniels à medida que vai descobrindo mais sobre a vida de Mike, inclusive ganhando na esposa do moribundo, Lucie Simon (Tamsin Topolski), uma importante aliada para chegar nos líderes dos supremacistas brancos.

Fonte: Netflix

A primeira metade é construída de uma forma não linear com bons ganchos que vão puxando nossa atenção para o episódio seguinte. A série começa a dar sinais que vai surpreender quando o episódio “Radioactive” (1×04) vira de tal forma que vai acelerar a trama chegando no também ótimo “Icarus” (1×05), quando Daniels começa a chegar nos principais jogadores da conspiração.

O fato é que “Irracional” surpreende em muitos momentos, mas cozinha a trama em outros o que traz um pouco de irritação a quem assiste, principalmente quando o protagonista age de uma forma insensata. Talvez seja por conta do título da própria minissérie, que mostra Muncie no limite tomando decisões duvidosas se colocando em mais riscos do que o necessário, expondo inclusive a família a muitos perigos.

A série não é uma produção medíocre, é até bem produzida, a começar pela abertura estilosa, passando pela fotografia e trilha sonora decente, além é claro das boas atuações do elenco, a começar por Colman Domingo, que apesar de não entregar nem de longe seu melhor trabalho, consegue carregar a trama bem na maior parte do tempo. Outro destaque vai para os atores Gabrielle Graham (Sombra Lunar) e John Ortiz (Ficção Americana), além da participação de Alison Wright (The Americans), cuja a personagem não irei falar mais para não estragar as surpresas.

Fonte: Netflix

É uma pena que a série perca força na sua metade final, talvez oito episódios tenha sido um exagero, até porque todo comentário social sobre extremismo, desinformação e racismo acaba esticando de tal forma que se perde um pouco principalmente no meio, antes de voltar com força nos últimos episódios, inclusive mostrando como o sistema contaminado pela corrupção para condenar pessoas inocentes é fortalecida pela ineficiência das instituições, alienação da mídia televisiva e conglomerados que se tornam parte do problema movido por pessoas inescrupulosas como podemos ver nos episódios “Loco” (1×06) e “DNA” (1×07).

De uma forma geral, “Irracional” é uma boa minissérie e talvez um bom passatempo para os menos exigentes. Ainda que se desenvolva mais do que o necessário, o ritmo mesmo que as vezes irregular dos episódios acaba servindo de propulsor para o expectador assistir numa maratona quase que ininterrupta. Colman Domingo e o elenco não fazem feio, e apesar do roteiro oscilar entre altos e baixos em determinados momentos, tudo é compensado com as revelações do episódio final “No More Madness” (1×08) que traz uma crueza revelando um sistema difícil de combater, mas que talvez seja vencido exatamente pela racionalidade em meio ao caos, algo que o protagonista e a audiência descobrem da forma mais satisfatória possível, compensando a jornada de uma história boa, e porque não, bastante atual.

Gostou? Veja o trailer abaixo e comente sobre o que achou da minissérie nos comentários.

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