O Rambo Preto? Aaron Pierre é o protagonista ideal neste thriller de ação que prende do começo ao fim num dos filmes mais tensos do ano consolidando o talento do diretor Jeremy Saulnier.

O gênero bastante popular e que sempre tem um filme saindo em algum momento, é o thriller de ação em uma cidade pequena onde o protagonista, seja homem ou mulher, precisa enfrentar o sistema após injustiças cometidas no lugar. Não existe trama mais óbvia, mas não existe trama mais divertida para as estrelas de Hollywood a se popularizarem do que ser heróis de ação batendo no maior número de figurantes possíveis.
A versão da vez é o thriller de ação policial da Netflix, “Rebel Ridge” (Rebel Ridge, 2024), longa que conta a história de um ex-fuzileiro naval (Aaron Pierre) que é abordado pela polícia e tem seu dinheiro roubado revelando um esquema corrupto em uma cidade pequena que se torna uma conspiração ainda maior o fazendo lutar por justiça com as próprias mãos em um violento confronto local.
É claro que o filme não tem muitas novidades, mas é bem desenvolvido, principalmente porque o diretor Jeremy Saulnier (Noite de Lobos) sabe cozinhar bem os elementos de suspense, afinal também assina o roteiro e a parti dali, consegue colocar Terry Richmond (Pierre) numa rota de colisão com a polícia desta bucólica cidade no interior dos EUA, quando o dinheiro que precisava para pagar a fiança do primo é retida por policiais numa ação extremamente fora do comum.

O mais interessante aqui é que além da primeira cena evidenciar um racismo explicito que na maioria das vezes acontece com pessoas negras, tudo fica ainda pior quando vemos que o protagonista está apenas cuidando da sua vida e tentando salvar um parente, quando é simplesmente tragado por um sistema que não tinha ideia do quão sujo poder ser. A má índole das forças locais é representada pelo delegado de polícia Sandy Burnne (Don Johnson) e a única chance de Terry reaver o que é seu a ex-dependente química e advogada Summer McBride (AnnaSophia Robb).
O melhor de “Rebel Ridge” é nos fazer em poucos minutos nos importar com Terry, odiar os policiais locais e torcer para o circo pegar fogo numa trama que é inicialmente bastante contida, mas que vai pegando fagulhas ao longo do caminho se tornando uma narrativa em ebulição crescente que vai ficando mais complicada e complexa forçando o protagonista a tomar medidas drásticas com as próprias mãos.
Fica muito na cara que Saulnier pega muitas referências de “Rambo” e “A Última Resistência”, dentre outros longas do gênero. Porém o diretor ganha pontos por não cair muito rápido no clichê do gênero e descambar para ação desenfreada sem perder o foco do que está contando. Os personagens começam a ganhar camadas, muito disso por conta dos bons diálogos que ajudam a colocar o tema “bem e mal”, as circunstâncias sobre “certo e errado”, e até onde “justiça e corrupção” se cruzam devido as linhas que acabam sendo traçados tanto por Terry, quanto pela própria polícia local.

O confronto em “Rebel Ridge” (que dá nome a delegacia onde acontece o embate final) vai escalando de tal forma que só funciona, porque a escolha de Aaron Pierre (The Underground Railroad: Os Caminhos da Liberdade) como herói da vez é bastante acertado. Sério, com poucos sorrisos, frio e com uma presença de tela bastante eficiente, fica claro que um dos atores negros mais promissores desta geração estava precisando de um longa assim para se consolidar como astro. E é impossível não assistir a narrativa e não torcer para que seja bem sucedido após o desfecho com a história do primo.
O elenco de apoio é outro ponto positivo, a começar por AnnaSophia Robb (Soul Surfer: Coragem de Viver) no papel da jovem Summer, que vê em Terry a única chance de desenterrar os segredos de uma comunidade que se afundou em práticas ilícitas levando a condenação de vários jovens negros de forma injusta em busca de lucro fácil. É desta forma também que o antagonismo de Don Johnson (Entre Facas e Segredos) é bastante acertado, o ator sabe fazer vilões e tipos de má conduta, então fica impossível não o odiar quando coloca entraves na vida do ex-fuzileiro.
A produção deste filme é caprichada, claramente possui um orçamento limitado, mas Saulnier trabalha tão bem o suspense e a ação em momentos pontuais, que fica a impressão de que é até mais caro. A trilha sonora é boa e as sequências de perseguição e luta corpo-a-corpo são bem feitas, e apesar de não empolgarem tanto quando se espera, são bem executadas e mantém o expectador interessado.

Por tudo que foi comentado, “Rebel Ridge” é um ótimo filme, daqueles que se está buscando um entretenimento correto, esta narrativa entrega facilmente um thriller envolvente, que não subestima a inteligência do seu público, que as vezes peca pela cadência excessiva, mas consegue uma escalada de tensão muito boa que é impossível desgrudar os olhos da tela. Tudo isto só funciona, porque Aaron Pierre é um bom protagonista com um bom elenco coadjuvante a sua volta. É verdade que o longa não inova, mas é um produto que bem acabado que utiliza um gênero batido de uma forma eficiente que é empolgante do início ao fim. Definitivamente um dos filmes do ano.
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