Essa sou eu! O fim de uma era, a temporada final de “A Casa da Raven” é cheia de altos e baixos, porém encerra o ciclo não só de sua família, mas também de sua trajetória de uma forma bonita, engraçada e satisfatória.

Em muitas das minhas críticas, mencionei que as séries infantis da Disney têm data de validade, normalmente são encerradas com quatro ou cinco temporadas, raramente passando além disto. Quando passam, é sinônimo de sucesso e que a empresa realmente valorizou a popularidade criada em torno do produto, dando espaço para que o elenco crie um vínculo ainda maior com audiência.
O seriado “A Casa da Raven” (Raven’s Home, 2017-2023) foi um dos poucos que conseguiu essa façanha. Continua direta de um seriado de sucesso nos anos 2000, “As Visões de Raven”, esta sequência conseguiu conquistar o público antigo e atraiu um novo público trazendo Raven (Raven-Symoné) e Chelsea (Anneliese van der Pool) juntamente com seus respectivos filhos Booker (Issac Ryan Brown) e Nia (Navia Ziraili Robinson) da Raven e Levi (Jason Maybaum) da Chelsea, em muitas confusões em Chicago numa comédia deliciosa e com cara de Disney.
Depois de uma espécie de reboot na quinta temporada, a série surpreendeu por conseguir trazer consistência e mais nostalgia, levando a trama para San Francisco, mas sem perder o charme. O retorno de Victor Baxter (Rondell Sheridan), um foco maior na carreira de estilista da Raven, além de focar nas confusões de Booker no High School (o ensino médio dos EUA) com seus novos amigos Ivy Chen (Emmy Liu-Wang) e Neil (Felix Wolfe), assim como nas confusões da prima da família, a pequena Alice (Mykal-Michelle Harris), foram suficientes para fazer a série ganhar novo fôlego.

A sexta temporada estreou no Disney Plus do Brasil este ano, apesar de ter sido exibida ano passado, agora finalmente podemos falar com mais propriedade, principalmente quando uma notícia recente confirmou que esta foi a última temporada do seriado. Então tudo ficou ainda mais significativo, pois a narrativa deste ultimo ano começou com uma viagem a Europa, com Raven, Booker e Alice indo parar em Londres em uma visita a Victor e Tanya num episódio em duas partes com ecos de “Operação Cupido”.
Assim como o filme protagonizado por Lindsay Lohan, Alice descobre que tem uma princesa que é a sua cara, desta forma em “European Rae-cation: Part 1” (6×01) e “European Era-cation: Part 2” (6×02), envolve a troca entre Alice e sua sósia real, assim como Raven surtando conhecendo os pontos turísticos londrinos. Estes dois primeiros episódios são divertidos, e trazem todas as peripécias que gostamos de assistir no seriado, clichezinho, mas dá um ar frescor, principalmente porque o elenco sai um pouco do cenário de San Francisco.
A verdade é que o começo desta temporada, apesar da premiere divertida, demora um pouco para empolgar, os episódios “Sold to the Highest Fibber” (6×03) e “Blue Beard’s Revenge” (6×04) são bem padrõezinhos e sem muita inspiração do que a comédia já mostrou. A temporada começa a empolgar mesmo, quando traz o retorno de uma personagem conhecida em “Tess Friends Forever” (6×05), com a participação especial da atriz Sky Katz no papel de Tess visitando Booker e Raven, criando uma rivalidade com Neil, que sente ciúmes de sua amizade com melhor amigo.

O fato é que “A Casa da Raven” passa por um momento de estabilidade que só começa a decolar mesmo quando o arco do reality show toma forma, os episódios “A.I., A.I., Oh… Snap!” (6×06), “Lizard Let Lie” (6×07) e “Reality Check” (6×11) trazem Raven lidando com a oportunidade de ganhar um programa de TV e muitas confusões que acabam sendo inteligentemente criando um seriado dentro do seriado numa trama divertidíssima.
A série cresce também não só quando se sustenta em um bom arco, mas também ao trazer temas sociais e raciais importantes, como episódio “Ain’t That a Sidekick in the Head” (6×08) e “What Had Happened Was…” (6×09), o primeiro fala sobre uma questão simples quando Booker e Neil se tornam voluntários no hospital para entreter crianças doentes, o segundo fala sobre questões que levaram ao fim da escravidão na escola, que tornam Alice o centro da trama num dos episódios mais sóbrios e educacionais da série.
Enquanto estas tramas menores ajudam a preencher a temporada, “A Casa da Raven” prepara sua narrativa para graduação de Booker no high school e suas expectativas para faculdade, enquanto em paralelo Raven começa a crescer como estilista em duas jornadas que acabam desenvolvendo no decorrer da temporada dando um ar de despedida que vai crescendo principalmente na segunda metade.

Percebe-se também um amadurecimento dos personagens, mas sem perder os trejeitos que nos fizeram gostar deles incialmente. Enquanto Booker, Neil e Ivy são personagens continuam a se meter em confusões, ambos acabam enfrentando desafios da própria idade, Booker, por exemplo, enfrenta a insegurança de saber que profissão vai seguir, como fica claro no episódio “You’ve Got Sale” (6×16), ou arranjar um par para o baile de formatura no caso de Ivy, no divertido “Cuda I Have This Dance?” (6×15), inclusive este episódio reforça ainda mais a amizade do trio, assim como no episódio “Working for the Weeknd” (6×12), quando tentam criar uma boa memória indo ao show do The Weeknd.
O amadurecimento não se estende só ao trio mencionado, mas também a pequena Alice, chegando na pré-adolescência tendo que lidar com fato que não brinca mais de bonecas como fazia antes. O vovô Victor também começa a lidar com fato que está preste a se aposentar e a própria Raven, apesar de continuar se metendo em confusões, começa a vislumbrar um futuro profissional bastante promissor.
Esta última temporada de “A Casa da Raven”, portanto é sobre seguir em frente, ao mesmo tempo que é também sobre criar laços. A série sofre um pouco com vestígios de desgastes, episódios como “Sneaks and Geeks” (6×10), por exemplo, mostram que a fórmula não funciona bem como nas temporadas anteriores, principalmente porque os personagens começam a envelhecer e algumas piadas se tornam repetitivas.

No entanto, é de se admirar que o seriado ainda tenha fôlego para encerrar sua trajetória. E parece que os roteiristas entenderam isto, moldando a segunda metade da temporada para fechar o arco desses personagens. A atriz Raven-Symoné continua sendo o centro das atenções, além de atuar com trejeitos e um carisma absurdo como Raven, a atriz também continua produzindo e dirigindo vários episódios deste ano mostrando um controle criativo que não deixa o seriado cair de produção.
O restante do elenco é bom, mas claramente o seriado não seria o mesmo sem a Raven sendo a cola narrativa aqui, seguida de perto de Booker que traz a vibe conhecida estabelecida nas quatro primeiras temporadas. No final das contas, a comédia constrói a temporada para encerrar uma história, que começou lá em 2003 com “As Visões de Raven”, com a protagonista com visões do futuro que almejava ser estilista.
E agora “A Casa da Raven” encerra este arco, primeiro com o ótimo episódio de formatura “Gown to the Wire” (6×17) com Booker finalmente se graduando (infelizmente apenas mencionaram sua irmã Nia, mas faltou uma participação), encerrando logo em seguida no belo, engraçado e nostálgico final de série “Whose Line is it Anyway?” (6×18), com Raven finalmente realizando o sonho de ser uma grande estilista e mostrando que a série sempre foi sobre ela, uma adolescente atrapalhada que se tornou uma grande mulher, teve grandes amigos, se meteu em grandes confusões, teve lindos filhos e agora é uma grande estrela da moda. O final é satisfatório, um grande presente para os fãs e termina com a afirmação da própria personagem “É essa sou eu!”. Sim essa é você Raven e obrigado por ser quem você é.

Quer ler mais sobre as temporadas de “A Casa de Raven”? Leia os textos abaixo:
- A Casa da Raven – 1°- 3° Temporadas, leia aqui.
- A Casa da Raven – 4° Temporada, leia aqui.
- A Casa da Raven – 5° Temporada, leia aqui.
Gostou? Veja o trailer da sexta temporada e comente sobre o que achou da série.
Observação: “A Casa da Raven” pode ter acabado sua jornada, mas o universo da série não irá parar de expandir. Produzido pela própria Raven-Symoné, o spin off “Alice In The Palace” deve focar na pequena Alice e suas aventuras em Londres. O seriado ainda não tem data, mas deve rolar novas informações em breve.

2 comentários sobre ““A Casa da Raven” – 6° Temporada – Crítica”