O super-heróis do gueto. Esta nova série da Netflix lembra inicialmente “Heroes”, porém o showrunner Rapman traz uma trama bem costurada com seres especiais que surgem em profusão no sul de Londres em uma narrativa viciante que tem personalidade própria.
Spoilers Moderados Abaixo

O mundo do entretenimento tem uma grande capacidade de se renovar de tempos em tempos, mesmo reciclando ideias. Os seriados seguem esta mesma tendência, gerando novos fenômenos de audiência e pequenas pérolas. Infelizmente, toda esta renovação na era do streaming, anda se perdendo com séries menores que acabam surgindo, mostrando potencial, mas nunca sendo valorizadas como se deve.
Este é o caso da série britânica da Netflix, “Supacell” (Supacell, 2024), criada pelo rapper Rapman, conta a história de um grupo de jovens negros de periferia que descobrem ser portadores de habilidades especiais, e precisam se unir para deter uma ameaça em comum e evitar que um futuro apocalíptico aconteça.
Sim, você já viu esta história antes e sim, a comparação com “Heroes” é inevitável. Só que ao contrário da série criada por Tim Kring, esta tem um orçamento bem mais modesto e com ambições bem controladas tendo praticamente desconhecidos no elenco. A trama ganha pontapé no piloto “Michael” (1×01), com o personagem título descobrindo a habilidade de viajar para o futuro, é onde vê uma pessoa próxima ser assassinada por um misterioso oponente, mas também é onde conhece outros quatro indivíduos com habilidades especiais que parecem formar uma equipe para detê-lo.

O texto não tem grandes novidades, talvez a maior dela é ambientar a trama no Sul de Londres, lar de tramas como a ótima comédia romântica “Rye Lane – Um Amor Inesperado” e da série musical “Champion”, e que agora aborda a temática de super-heróis do gueto com bastante personalidade conseguindo de forma inteligente intercalar o cotidiano dos descendentes de imigrantes com a mitologia fantástica crescente episódio após episódio.
Desta forma “Supacell” cresce, não só aumentando nossa curiosidade, mas forma como vai trabalhando a trama de cada personagem e intercalando narrativas que vão se misturando da forma mais orgânica possível como podemos ver nos dois bons episódios “Tazer” (1×02) e “Sabrina” (1×03), o primeiro focado em garoto líder de uma gangue local e o segundo focado em uma enfermeira, ambos descobrem habilidades e passam a usá-las para resolverem seus próprios problemas pessoais.
É claro que o seriado, tem sim suas ressalvas, mas ao menos não subestima a inteligência do seu público, algumas previsibilidades no texto dão lugar a uma narrativa que foca nos dramas humanos e utiliza-se do fato de pessoas comuns descobrirem que tem poder pelo olhar da periferia, de pessoas que estão em busca de realizações profissionais, achar seu lugar no mundo ou simplesmente viverem seus grandes amores, equilibrando o drama de pessoas pretas com uma mitologia fantástica em grande expansão.

A série cresce aos poucos e consegue dar espaço para o núcleo protagonista com estes cinco personagens se encontrando aos poucos numa escalada de boas surpresas e ação que vai ficando mais intensa a cada novo episódio. É claro que com uma produção modesta, os efeitos são razoáveis, mas são bem usados, sem falar que a direção dos episódios sabe dosar bem os momentos de ação com os momentos mais calmos, usando os conflitos para sobrepor as limitações do orçamento.
O episódio “Andre” (1×04), além de focar neste pai de família que tenta dar uma vida decente para o filho, também culmina os arcos formados numa sequência bacana gera um dos melhores ganchos da temporada. Isto mostra, o quanto a série consegue atiçar nossa imaginação e prender nossa atenção, principalmente quando nos faz importar com os protagonistas e também quando começa a desvendar toda a conspiração envolvendo uma organização misteriosa puxando as cordas por trás dos acontecimentos.
Outro ponto importante é o elenco, é claro que podemos questionar algumas atuações meia boca, ou um pouco acima do tom, mas na maior parte do tempo, o elenco é bom. Calvin Demba (Kingsman: O Círculo Dourado) no papel de Rodney, traz carisma e senso de entretenimento ao aproveitar de suas habilidades para tirar um pouco de vantagem para si. Nadine Mills (The Strangers) no papel de Sabrina é outro bom destaque. Os atores Josh Tedeku (Moonhaven), Eric Kofi Abrefa (O Livro de Clarence) e Tosin Cole (Bob Marley: One Love) estão bem e completam o grupo de supers com destaque.

De uma forma geral, “Supacell” é um ótimo seriado, irá te surpreender por conseguir trazer uma trama bem costurada, que possui suas limitações realmente, mas claramente merece uma atenção maior da Netflix e ser descoberta pelo público. Com uma narrativa com boas reviravoltas que só ficam melhores nos dois últimos episódios “Rodney” (1×05) e no final da temporada “Supacell” (1×06), que é nada mais do que explosivo, sangrento e com um gancho que vai te deixar louco por uma segunda temporada. Se continuar com esta qualidade, os super-heróis negros do Sul de Londres terão vida longa pela frente.
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