O curta metragem indicado ao Oscar traz reflexões sobre violência urbana e sobre como lidar com o luto em meio a tragédia.
| Uma indicação ao oscars 2024 |
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| Melhor Filme Curta |

Uma vez ou outra eu gosto de assistir curtas indicados ao Oscar, pois são histórias breves, mas ao mesmo tempo trazem boas lições para refletirmos em cima. O último que escrevi “Dois Estranhos”, trazia uma reflexão sobre o racismo e violência policial numa trama inteligente que usava looping temporal de um homem negro tentando mudar o próprio destino trágico. A dica de hoje é sobre o uma história que fala sobre o luto.
O curta metragem “E Depois?”(The After, 2024) é protagonizado pelo ator David Oyelowo (Selma) que estreou na Netflix na última semana e que conta a história deste motorista de aplicativo que passou por uma tragédia no passado e tenta lidar com o luto dando prosseguimento a vida da melhor forma possível. O roteiro desenvolvido por John Julius Schwaback e Misan Harriman que também dirige, prefere um trazer um começo impactante que mergulha o expectador no meio de um caldeirão de emoções deixando as sutilezas de lado e indo direto ao ponto.
O choque pela tragédia é sentido não só por quem assiste, mas pelo protagonista, que depois de uma breve passagem de tempo acompanhamos sua rotina como motorista. A trama tem poucos diálogos, lida muito com reações, olhares, expressões, por isso o posicionamento da câmera aqui é crucial, tanto para vermos as reações do motorista como das histórias que escuta das pessoas que sentam no banco de trás de seu carro.
É desta forma que Misan vai nos fazendo acompanhar esta trama de 18 minutos de duração que mostram que o motorista ainda lida com a perda e a internaliza para que possa fazer seu trabalho. A verdade é que “E Depois?” tenta mostrar que o ser humano é complexo na forma como lida com tragédias, algumas são reativas, outras são silenciosas, as vezes funcionando como uma bomba relógio pronta para explodir.

O curta lida também com nossa imprevisibilidade, toda vez que a câmera captura uma história no banco de trás, causa algum efeito no protagonista no banco da frente, seja de amigos indo para algum evento, ou irmãs descobrindo algum problema familiar, ou de um casal com relação instável com uma filha pequena, que remete exatamente ao passado do personagem.
A história também é sobre se identificar com a dor do outro, é sobre lidar com tragédia que nos afliges e é sobre deixar os sentimentos aflorarem, afinal a dor não tem hora nem lugar para se manifestar. É claro que as vezes o curta exagera um pouco na dramatização, e as vezes sentimos que cinco minutos a mais faria bem para narrativa, mas acredito que no geral consegue passar sua mensagem de forma clara e objetiva.
O curta metragem “E Depois?” é uma boa dica do HN para você, mas talvez não seja aconselhado para pessoas que passaram por dores recentes, devido aos diversos gatilhos, principalmente porque eles vêm sem aviso. Ainda assim vale a pena conferir e refletir sobre o que está sendo mostrado. É um curta que fala sobre tragédias, fala sobre mudanças, fala sobre luto, mas também fala sobre empatia, que as vezes falta para o ser humano enxergar em seu semelhante.
A sequência final é triste e dilacerante, mas não menos importante para mostrar que a vida passa rápido, e que devemos aproveitar os pequenos momentos, pois tudo pode mudar. No final das contas as boas lembranças e a eterna saudade são as únicas coisas que nos impedem de sucumbirmos as nossas próprias tristezas e abismo profundo da solidão.
Gostou? Veja o trailer abaixo e comente sobre o que achou do curta.


2 comentários sobre ““E Depois?” – Crítica”