A nova produção da Netflix flerta com comédia romântica, mas abraça o romance e evolui para um drama sobre maturidade, aceitação de si mesmo e independência feminina, tudo na medida certa.

O gênero comédia romântica é um dos mais divertidos e escapistas para o expectador que está procurando algo mais simples que entrega boas cenas de romance regadas a muito clichê. É claro que existe que comédias que acabam saindo um pouco desse lado mais leve e entregando algo mais amadurecido e as vezes até complexo que aprofunda a relação dos casais principais trazendo algo a mais para ser trabalhado na história.
A comédia romântica “A Descoberta Perfeita” (The Perfect Find, 2023) que estreou na última sexta feira na Netflix, tenta enveredar por este caminho dando mais densidade a algo que inicialmente seria mais simples, mas acaba entregando algo um pouco mais complexo do que se esperava. Dirigido por Numa Perrier (Jezebel), a trama conta a história de uma famosa editora de moda, Jenna Jones (Gabrielle Union) que vê seu retorno profissional ameaçado ao descobrir que o rapaz que ela beijou em uma festa é um colega de trabalho e, pior, filho da sua nova chefe.
É através desta premissa que o roteiro de Leigh Davenport baseado no livro best seller “The Perfect Find” de Tia Williams explora a relação de Jenna e do jovem cineasta Eric (Keith Powers), que acabam se conhecendo por acaso e descobrindo uma química que nenhum dos dois esperava que acaba de forma abrupta sem que ambos pudessem trocar números. É através dessas peripécias urbanas que o filme explora a vida de Jenna após seu divórcio que acabou sendo alvo de críticas em desastre midiaco que levou a editora ao fundo do poço.

O mais interessante de “A Descoberta Perfeita” é a forma como constrói sua estrutura narrativa, primariamente como uma comédia romântica assumida, com boas piadas, algumas de cunho sexual que faz o filme flertar com humor que lembra o filme “A Viagem das Garotas” de 2017, que vai se desenvolvimento de uma forma bastante leve conseguindo explorar seu lado mais adulto com Jenna e suas amigas saindo para uma noitada.
Existe um equilíbrio bastante interessante neste filme que o torna mais atraente do que as comédias que estamos acostumados, que é o choque de gerações no relacionamento entre Jenna e Eric, enquanto a primeira é uma quarentona bem sucedida em busca de um novo começo, o segundo é um garoto de vinte e pouco anos recém saído da faculdade que está disposto a construir sua própria história, é explorando essas facetas tão distintas que a diretora Numa Perrier faz o filme crescer de tal forma envolver o expectador ao trabalhar a química desse casal negro que vai se construindo de forma leve e dinâmica entre dois primeiros atos.
A jornada dos personagens que precisam manter tudo em sigilo da mãe de Eric, a glamourosa Darcy (Gina Torres) dona da empresa Darzine, ganha maturidade em diálogos gostosos de acompanhar que faz o público criar um vínculo com a dupla principal. É claro que ao se entregar ao clichê, o filme demora a se decidir qual gênero vai abraçar de forma definitiva, saindo um pouco da comédia romântica, se tornando romance puro a moda antiga antes do terceiro ato que acaba por mudar a atmosfera do filme completamente ao adicionar um pouco de drama.

Talvez o ponto mais positivo de “A Descoberta Perfeita” seja a forma como foca no ponto de vista da mulher preta bem sucedida dentro da sociedade, suas qualidades, seus receios, suas inseguranças, estão todos ali retratados através da personagem de Jenna, bem como sua chefe Darcy, ambas com jornadas diferentes, mas que no final das contas tem muito em comum. É algo também que Numa Merrier também retrata em tela ao colocar uma estética que mostra não só um resgate da elegância da mulher preta na alta sociedade através da moda, como também um certo amor pelo cinema com várias referências interessantes a era de ouro de Hollywood.
É através dessa vertente que o filme cresce, mas muito se deve também por conta da atuação de Gabrielle Union (Doze É Demais [2022]) no papel de Jenna, a atriz que já participou de filmes de ação, comédias e suspense, aqui oferece um lado dramático sólido que faz com que a jornada de sua personagem seja algo que o público crie uma empatia imediata torcendo para que ela fique com o “príncipe” no final.
Falando em par romântico, gostei da presença de Keith Powers (A Guerra do Amanhã) aqui, o ator tem um carisma palpável e uma aparência atraente que faz com seu personagem Eric ganhe um charme que fica ainda mais acentuado com a boa química que o ator tem com Gabrielle Union, aliás, os dois atores funcionam bem juntos, seja num jantar romântico, seja num momento mais íntimo num quarto, ou indo ver um filme num “drive in”, tudo na medida, tudo muito bem equilibrado.

Em termos de produção, o longa é visualmente bom, os figurinos são estilosos, porém o grande destaque é a trilha sonora que mistura músicas R&B modernas, intercalado com sons clássicos de divas como Aretha Franklin. O roteiro apesar de ter alguns clichês óbvios do gênero, ganha pontos positivos por trazer uma reviravolta inesperada no final, infelizmente algumas discussões de relação ficam no meio do caminho necessitando de mais polimento para funcionarem melhor.
No geral, “A Descoberta Perfeita” não traz grandes novidades, as vezes até segue uma linha mais do mesmo, no entanto, é uma comédia romântica corretinha que ganha pontos por trabalhar crise de meia idade e maturidade profissional com sua protagonista, além de trazer complexidade para um relacionamento que tem diferenças de idade, criando conflitos que exploram dilemas enfrentados pelo casal principal e que ao meu ver são tratados de uma forma realista e honesta no final, mesmo que isto faça a opinião do expectador se dividir. A comédia romântica com toque de drama é uma grata surpresa pelo grau de maturidade e por trazer um fechamento satisfatório onde a narrativa mostra que não existe relacionamentos perfeitos, mas existe relacionamentos que foram feitos para dar certo, principalmente quando destino entra em jogo.
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