Um thriller de suspense clichê e pouco inspirado, mas que prende a atenção trazendo Queen Latifah e Ludacris Bridge como protagonistas numa história com um final absurdamente trash.

Os chamados thrillers são narrativas divertidas de acompanhar, na maioria das vezes misturam bem ação, suspense e aventura, conseguindo prender nossa atenção e proporcionando um entretenimento que funciona como um bom passatempo. Thriller misturados com gênero “road trip” normalmente estão ligados a filmes de terror e normalmente são intensos, porém outros focados no suspense e na ação costumam ser uma alternativa interessante para que não gosta de tramas mais macabras e assustadoras.
Estou falando sobre esse gênero para citar o novo filme da Netflix, “Fim da Estrada” (End of the Road, 2022), longa protagonizado por Queen Latifah (Arremessando Alto) e o rapper Chris “Ludacris” Bridge (Velozes e Furiosos 9) que estreou na última sexta feira e que traz a história de uma família negra que após sofrer uma perda levando a uma instabilidade financeira, pega a estrada de mudança para a cidade de Houston no Texas, se vê numa trilha de morte lutando pela sobrevivência ao serem perseguidos por um dono de um cartel perigoso.
A premissa pode parecer mais do mesmo, mas o longa dirigido por Millicent Shelton (Insecure) consegue transformar algo comum em algo no mínimo desafiador, ao colocar essa família negra liderado pela matriarca Brenda (Latifah), seu irmão Reggie (Ludacris) e seus filhos, a inteligente Kelly (Mychala Lee) e o pequeno Cam (Shaun Dixon) numa estrada em uma região no sul dos EUA onde o racismo e o preconceito ainda são um problema vigente, cria todo uma narrativa racial bastante provocadora mostrando a vulnerabilidade para pessoas pretas nestas regiões.

O roteiro na primeira parte da narrativa é eficiente em criar uma forma de suspense sobre a questão, colocando inclusive cenas em que a família fica em perigo real ao serem provocadas na estrada por caipiras racistas. Particularmente queria que o texto escrito originalmente Christopher J Moore (Meet The Browns) e reescrito por David Loughery (Obsessiva), aprofundasse na questão e virasse um drama com camadas, infelizmente a questão é tratada na primeira metade para estabelecer uma atmosfera e depois dá lugar a um thriller de sobrevivência.
O arco de “Fim da Estrada” segue essa mudança de tom na segunda metade, ao se transformar também num filme de sequestro. É claro que nem sempre o filme consegue segurar a tensão e os personagens tomam decisões estúpidas em alguns momentos, mas na maior parte do tempo a trama prende a atenção e acabamos por embarcar na jornada desta família que acaba entrando em mais confusões do que deveria se encontrando em situações absurdamente perigosas.
A verdade é que o longa não traz grandes novidades, mas consegue ter ação suficiente para empolgar quem assiste e as vezes no entretenimento isto é suficiente. Sem falar que tudo fica mais interessante com Queen Latifah como protagonista, esta atriz negra de 52 anos que já fez de tudo um pouco entre comédias, romances, drama e agora mais presente em filmes e séries de ação, consegue segurar a história com carisma e entregando nas cenas de lutas, fazendo inveja em marmanjos da mesma idade.

Outros destaques são: Chris “Ludacris” Bridge que não é um primor na atuação, mas não compromete, ainda temos Beau Bridges (Uma Noite Em Miami) como xerife bem intencionado que ajuda a família que está sendo perseguida pelo misterioso Sr. Cross. O resto do elenco não é de todo mal e conseguem entregar um bom trabalho mesmo que o roteiro não seja inspirado nos diálogos.
Em termos técnicos o filme tem uma fotografia interessante seja para enfatizar o vazio do deserto em termos de isolação do resto do país, ou a noite quando é usado cores para dar mais vida a um ambiente hostil. A produção é modesta, mas ainda assim em termos de direção o longa é bem executado na maior parte do tempo e como disse anteriormente, isso ajuda muito a criar um clima de tensão e suspense que é sustentado na maior parte da história.
No geral “Fim da Estrada” é o passatempo sem grandes pretensões, que se diferencia ao colocar uma família negra sendo vítima de racismo cruzando territórios predominantemente ocupado por pessoas brancas. O filme também é uma narrativa de sobrevivência e perseguição, esse equilíbrio nem sempre funciona, mas quando isso acontece o roteiro funciona e a tensão consegue elevar uma simples história para um thriller com adrenalina e urgência até seu final que é no mínimo caótico, flertando bastante com cinema B e fugindo um pouco do óbvio que estamos acostumados. No final das contas é um filme bom para passar o tempo e nada mais, redondinho e sem grandes complexidades, apenas feito para entreter e isso ao menos é entregue de forma honesta do começo ao fim.
Gostou? Veja o trailer e comente logo abaixo.
