A nostalgia encontra um dilema. A série que conta a história de um dos personagens mais aclamados do universo Star Wars sofre para encontrar um bom enredo e entrega um resultado aquém do esperado.
Spoilers Moderados Abaixo

Após o polêmico e fraco “Star Wars – Episódio 9 – Ascensão Skywalker”, a Disney entrou num dilema deixando os fãs com o pé atrás e incertos sobre o futuro Star Wars no cinema. Foi então que em novembro de 2019 nossos olhos viraram para TV, com o streaming Disney Plus estreando, entramos em uma nova era e com isso ganhamos a série “The Mandalorian”, mais contida, com um grande orçamento para os padrões da televisivos, mas cheio de amor ao universo Star Wars tendo Jon Favreau (Homem de Ferro) e Dave Filoni (Star Wars Clone Wars) por trás da empreitada, conseguindo assim restaurar nosso amor por essa rica mitologia espacial.
Depois de quase três anos desde o início da saga Star Wars na TV, um fantasma volta assombrar os fãs e os amantes da saga. “The Mandalorian” continua sendo excelente e um sucesso, mas abriu um leque de possibilidades ao expandir o universo que criou dando a sensação de novidade e esperança de acender a fagulha apagada pelo último filme da saga no cinema, porém “O Livro de Boba Fett” que estreou final de 2021 acendeu o alerta vermelho ao entregar uma minissérie ambiciosa, porém capenga e em muitos aspectos, o resultado foi frustrante.
A expectativa então recaiu sobre a minissérie “Obi-Wan Kenobi”, baseado em um dos personagens mais aclamados da saga Star Wars e que merecia uma série a sua altura e trazendo a volta de Ewan McGregor (Christopher Robin) no papel título revivendo o personagem 17 anos depois do fim de “Star Wars – Episódio 3 – A Vingança dos Sith”. O seriado também prometia o retorno de Hayden Christensen (Star Wars – Episódio 3: Vingança dos Sith) no papel de Anakin Skywalker, também conhecido como Darth Vader, o maior vilão da cultura pop mundial.

Estávamos diante então da tempestade perfeita, a minissérie tinha soltado bons trailers e a expectativa estava bastante alta, ainda mais depois que a Disney e a Lucas Film confirmaram a estreia da série no dia 27 de maio durante o evento “Star Wars Celebration” com direito a episódio duplo e batendo de frente com outro gigante, a parte 1 da quarta temporada de “Stranger Things” também cercada de expectativas pelos fãs ao redor do mundo.
Eis que finalmente a série finalizou seu último episódio no último dia 22 de maio e após assistir aos seis episódios, é quase unânime que o seriado podia ter entregado muito mais do que mostrou e podia ter ido muito além do que uma simples missão de resgate cerne dos seis episódios que compõe a narrativa. Quando se trata se Star Wars, não tenha dúvida, as expectativas são sempre altas, mas como fã, esperamos o mínimo de coerência e um enredo que seja envolvente, mas infelizmente “Obi-Wan Kenobi” não consegue atingir esse nível de satisfação.
Os dois primeiros episódios são um misto de sentimentos, o “Capítulo I” (1×01) consegue estabelecer muito rápido a linha do tempo em que a série se passa com os temíveis inquisidores, grupo de elite do Darth Vader que caçam os jedis remanescentes do massacre ocorrido em Coruscant e que ainda tentam escapar das garras do império. A premissa aqui de longe é muito boa e consegue finalmente trazer os Inquisidores em live action pela primeira vez, que inclui o Grande Inquisidor (Rupert Friend) e a misteriosa terceira irmã, Reva (Moses Ingram).

A trama encontra Obi-Wan (McGregor) escondido, sofrendo com os erros do passado e se escondendo no deserto de Tatoinne, ao mesmo tempo que mantém seus olhos no pequeno Luke que vive com os tios e longe do foco do império. O roteiro entrega inicialmente o que esperamos ver na série, mas vai por um caminho inesperado ao trazer a pequena Leia Organa (Vivien Lyra Blair) na trama de Alderaan que ainda traz de volta seu pai Bail Organa (Jimmy Smits) e sua esposa Breha Organa (Simone Kessell).
A narrativa a partir deste ponto, a história segue um arco de sequestro e resgate da princesa Leia forçando Obi-Wan a abandonar seu exílio e resgata-la das mãos dos inquisidores. Enquanto primeiro episódio é bom em estabelecer o mundo pós “Vingança dos Sith” e os inquisidores como vilões seguindo as ordens diretas de Darth Vader (voz James Early Jones / Hayden Christensen), o segundo episódio começa a abrir espaço para encontrarmos os primeiros problemas da série.
Veja bem, o roteiro escrito por Joby Harold (No Limite do Amanhã), Hossein Amini (Drive) e Stuart Beattie (Colateral) nos “Capítulo II” (1×02) e “Capítulo III” (1×03) sofre para encontrar um senso de urgência e ritmo mais adequado, se por um lado, a escrita acerta em focar em um Obi-Wan machucado e com problemas para se conectar com a força, vemos uma história que não consegue empolgar com a ameaça do trio de Inquisidores que caçam os Jedis pela galáxia.

Outro problema desses dois episódios, são as perseguições capengas e lutas com a emoção de um pires que acabam por frustrar quem assiste, sem falar que o roteiro parece ter pouco progresso, se apoiando apenas no carisma de Obi-Wan e Leia para segurar os episódios. O que de fato não é algo ruim, mas deixa tudo muito previsível e infantilizado, provocando risos involuntários em situações que deveriam ser de forte impacto narrativo.
A série tenta se firmar ao trazer a figura de Darth Vader para um confronto com Obi-Wan, a sequência do deserto é até boa, mas ainda falta algo para torna-la realmente emocione. Quando a série chega no “Capítulo 4” (1×04) percebemos que a minissérie foi engolida pelo próprio hype, mesmo que o visual ainda seja seu ponto forte, a sequência na base dos Inquisidores tem cenas belíssimas, tanto aquáticas quanto aéreas.
A verdade é que “Obi-Wan Kenobi” tem um grande ponto de interrogação, e o nome dela é Deborah Chow (The Mandalorian). A diretora que é veterana no ramo, dirige todos os seis episódios e em quatro deles, não consegue em nenhum momento acertar o tom da minissérie e talvez pela fragilidade do roteiro, acaba por expor suas deficiências em tentar demonstrar a sensação de um grande evento está acontecendo, ainda que se mostre sólida em alguns bons momentos de drama dos personagens.

Assim como “O Livro de Boba Fett”, esta minissérie só mostra a que veio nos últimos episódios. O “Capítulo 5” (1×05) é de longe o melhor da minissérie, talvez pela presença de Andrew Stanton (Procurando Nemo) co-escrevendo, a série finalmente traz alguma empolgação, com riscos, sequências de ação boas, nostalgia nos momentos certos, além de mostrar Vader como um vilão insano e cheio de fúria.
Esse pico de esperança, se deve a valor de produção de “Obi-Wan Kenobi”, que traz uma boa fotografia, bons efeitos visuais, bons efeitos práticos, um design de produção bem acabado e uma trilha sonora excelente. Ainda que a direção deixe a desejar, é fato que Deborah Chow melhora bastante à medida que vamos chegando ao final da minissérie, o episódio 5 é de longe um de seus melhores no universo Star Wars.
Outro ponto que ajuda muito é o elenco, Ewan McGregor continua excelente no papel título, o ator está super a vontade vestindo o manto do Jedi lendário, sem falar que consegue passar o sentimento de uma pessoa afetada pelas derrotas do passado, mas que precisa encontrar seu caminho e assim retomar seu elo com a força. A pequena Vivien Lyra Blair (Pequenos Grandes Heróis) no papel de Princesa Leia, caiu como uma luva, trazendo um poço de carisma para uma personagem já amada, mas que agora ganha uma versão mirim honrosa.

A atriz Moses Ingram (Gambito da Rainha) é uma grata adição ao universo Star Wars, mas sua personagem Reva só começa a ganhar camadas nos dois últimos episódios, até então Ingram não foi bem aproveitada, sendo ofuscada toda vez que Darth Vader aparecia, aliás, ao colocar o maior vilão da cultura pop como grande ameaça, a série diminuiu muito o papel dos inquisidores, que não passam de vilões de luxo, mas que nunca atingem realmente seu potencial.
O retorno do ator Hayden Christensen no papel de Anakin Skywalker/Darth Vader é um presente, talvez a única parte da série que não tenha defeitos, seja nos flashbacks, seja causando impacto visual no “Capítulo 6” (1×06) com um confronto final com Obi-Wan que vai fazer qualquer fã de Star Wars abrir um sorriso de orelha a orelha, é neste momento que a minissérie mostra a que veio trazendo não só com uma atuação emocionante de Christensen, mas mostrando também uma excelente química com Ewan McGregor.
No final das contas, a minissérie “Obi-Wan Kenobi” termina com uma nota alta, mas o resultado infelizmente é apenas mediano para os padrões de Star Wars, mesmo com uma produção pomposa, a série é bastante irregular e carece de um polimento melhor, ainda que tenha lampejos de boas sequências, isso acaba se tornando uma armadilha narrativa para os próprios fãs, que abraçam esse universo de uma forma apaixonada, mas acabam ganhando um resultado abaixo do esperado, mesmo que reencontro entre Obi-Wan e Anakin no último episódio seja uma das coisas mais espetaculares e explosivas da saga, mesmo que os momentos entre Obi-Wan e Leia sejam maravilhosos, falta há essas séries serem boas do começo ao fim e não apenas um produto caro do mês, como fãs merecemos muito mais.

Elo Preto
Personagem: Inquisidora Reva
Atriz: Moses Ingram
Idade: 28 anos
O destaque da coluna de hoje é atriz norte americana Moses Ingram, que chegou causando impacto devido sua personagem já ser canon de Star Wars através do jogo Fallen Jedi. Reva é uma personagem implacável com um passado misterioso que se mostra não apenas uma vilã, mas também uma anti-heroína à medida que conhecemos mais de sua história. Ingram consegue trazer uma personagem interessante, com camadas e carga dramática, que não atinge seu potencial narrativo aqui, mas bastante potencial para crescer na saga. A atriz ficou conhecida pelo papel na minissérie premiada “O Gambito Da Rainha” e estrelou filmes como “Ambulância – Um Dia de Crime” e o prestigiado “A Tragédia de Macbeth” de Joel Coen.

Gostou? Veja o trailer da minissérie e comente abaixo se assistiu a temporada.


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