“Bridgerton” – 1° Temporada – Crítica

Um romance convencional numa era vitoriana que traz diversidade e cor para uma época dominada pela aristocracia branca, mas que ganha novas camadas através do olhar de Shonda Rhimes e seus roteiristas.

Fonte: Netflix

Histórias de romance não são uma grande novidade no mundo do entretenimento, normalmente marcadas pelo clichê do mocinho que se apaixona pela mocinha, ou vice e versa, temos diversos filmes e séries neste formato. O que diferencia essas histórias, é a forma como são contadas, algumas tentam inovar como o recente longa de romance indicado ao Oscar “A Pior Pessoa do Mundo”, outros preferem seguir a linha mais tradicional com um romance salpicado de água com açúcar apostando na química de seus personagens.

A série norte americana “Bridgerton” (2020) da Netflix, estreou há um ano e meio atrás cercada de expectativas por ser um romance adaptado de um popular best seller escrito por Julia Quinn que se tornou um fenômeno literário atraindo mulheres de todas as idades ao contar a história da família Bridgerton que se passa numa fictícia Inglaterra cercada por tradições onde casamentos arranjados eram algo comum e padrão para ser bem sucedido na aristocracia da época.

A narrativa da primeira temporada é baseada no primeiro livro dessa série literária, “O Conde e Eu” se passa pelo ponto de vista de Daphne Bridgerton, que está na idade para entrar no disputado mercado de candidatas a ser o diamante da temporada de casamentos. A série segue a linha de sucessos como “Feira das Vaidades”, “Orgulho e Preconceito”, além de seriados atuais como “Gossip Girl”, ao ter a fofoqueira Lady Whistledown (voz de Julie Andrews) como fonte das informações das notícias mais quentes, bombásticas e escandalosas das solteiras e solteiros cobiçados da sociedade inglesa.

Fonte: Netflix

O bacana de “Bridgerton”, é conseguir ser um drama misturado com romance que não segue os padrões de ter apenas brancos de alta classe sem espaço para outras etnias compartilharem o mesmo universo apenas se destacando em funções subalternas. Isso se deve muito a mão de Shonda Rhimes e sua produtora Shondaland, que não só traz mais voz ao protagonismo feminino, mas também por pautar suas produções trazendo mais diversidade possível.

Então quando você assistir o piloto “Diamond of the First Water” (1×01), você vai notar uma maior quantidade de pessoas negras na produção, em várias classes sociais. A série criada por Chris Van Usen (Scandal) é interessante por criar uma sociedade que ainda tem seus preconceitos, mas que funciona organicamente com personagens negros muito bem inseridos, inclusive o fato do casal principal ser interracial, já é bastante interessante de acompanhar.

O romance entre Daphne Bridgerton (Phebe Dynevor) e Simon Basset (Regé-Jean Page) é o centro da primeira temporada e vai se desenvolvendo aos poucos construindo a química dos personagens nos preparando através de um jogo de gato e rato, flertes e olhares que vai se intensificando a cada episódio ao mesmo tempo que nos apresenta o resto desse universo inglês cheio de personagens ambiciosos que buscam um status social para seus filhos e filhas.

Fonte: Netflix

Enquanto a trama principal vai se desenvolvendo até seu ponto de ebulição, as tramas paralelas vão chamando nossa atenção enquanto vai apresentando melhor os membros da família Bridgerton como a matriarca Violet (Ruth Gemmell), os filhos mais velhos Anthony (Jonathan Bailey), Benedict (Luke Thompson) e Colin (Luke Newton), além da inteligente Eloise (Claudia Jessie), somos ainda introduzidos a outros nomes como Penelope Featherington (Nicola Coughlan), sua mãe Lady Portia (Polly Walker), a romântica e sofredora Marina Thompson (Ruby Barker), a influente Lady Danbury (Adjoa Andoh) e a rainha Charlotte (Golda Rosheuvel).

Com tantos personagens, o trunfo da série é usar o romance e as fofocas como força motriz para não deixar a trama esfriar. Em “Shock and Delight” (1×02) e “Art of the Swoon” (1×03), vemos uma série que mistura bem o romance tradicional e o conservadorismo da época, mas ainda assim consegue desenvolver um roteiro com uma aura bem atual trazendo figuras femininas influentes, que dominam uma sociedade patriarcal cercada por inveja, vaidade, disputas políticas e traições.

Em termos de produção, “Bridgerton” é impecável, tanto nos figurinos, como na forma como é dirigida, com uma fotografia bem solar nas partes externas e bastante luxuosa nas partes internas das grandes mansões, ressaltando também um design de produção que privilegia a arquitetura da época. A trilha sonora muitas vezes ao som de orquestras, trazem músicas atuais como melodia, numa jogada bastante inteligente, quem diria que ouviríamos sons de cantoras como Taylor Swift, além de bandas como Maroon 5 dando um ar romântico ao romance de Daphne e Simon, conhecido como Duque de Hastings.

Fonte: Netflix

A história de “Bridgerton” funciona de uma maneira crescente, utilizando de boas reviravoltas para nos deixar curiosos sobre o que está por vir, como fica claro em “Na Affair of Honor” (1×04). Talvez os episódios sejam um pouco longos demais em alguns momentos, mas na maior parte do tempo, o ritmo não sofre muitas oscilações, quando isso está preste a acontecer, episódios como “The Duke and I” (1×05) e “Swish” (1×06) aumentam a tensão sexual (tirem as crianças da sala) entre seus protagonistas entregando seus melhores episódios da temporada.

Muito da trama funciona devido da química magnética entre a novata Phoebe Dynevor (Younger) e o novato Regé-Jean Page (For The People), ela, uma mocinha destemida, doce e dona de seu próprio destino que a atriz domina bem. Ele um cara bem sucedido, mulherengo e popular, mas com um passado cheio de cicatrizes, algo que ator consegue equilibrar bem através de sua charmosa atuação. O romance entre essas duas figuras opostas não traz nada de muito novo, mas com certeza é bem conduzido de uma forma tão honesta que é difícil não torcer para que o casal termine juntos.

É claro que a série pode atrair mais o público feminino, mas acredito que também pode atrair o masculino, não só por ter uma trama envolvente, mas devido ao seu senso de aventura urbano e por conseguir mesmo tendo um ar de previsibilidade entregar um romance tradicional cheio de boas viradas que no final das contas fecha o arco de Daphne Bridgerton de uma forma correta sem muitas extrapolações como podemos perceber em “Oceans Apart” (1×07) e “After the Rain” (1×08), este último o episódio que fecha a temporada.

Fonte: Netflix

No geral “Bridgerton” é uma boa série, quase uma novelinha, que senão surpreende, mas consegue entreter ao fazer um romance de época soar atual e mais acessível ao trazer uma sociedade inglesa mais diversificada, com personagens negros e de outras etnias que não funcionam apenas como peça da trama, como em outras séries do gênero, mas que são parte integral do seriado, com arcos, profundidade, histórias, passado e ambições. Se a produtora Shondaland chegou para quebrar estereótipos com este romance fora dos padrões, pode-se dizer que está no caminho certo.

Elo Preto

Personagem: Simon Basset (Duque de Hastings)
Ator: Regé-Jean Page
Idade: 34 anos

O ator britânico de Regé-Jean Page não teve grandes papéis de destaque na carreira, mas ao encarnar o charmoso de gênio indomável Simon Basset no fenômeno “Bridgerton”, deu um salto na própria carreira chamando atenção não só por sua química com a atriz Phoebe Dynevor, mas por sua capacidade de fazer um protagonista com potencial de leva-lo a alçar grandes voos na carreira. Regé já trabalhou em produções da Shondaland, como o drama de tribunal “For The People”, além de produções biográficas marcantes, como o remake da série “Raízes” do canal History. O ator em breve estará na super produção da Netflix, o blockbuster “The Gray Man” dos irmãos Russo protagonizado por Ryan Gosling, além de ser um dos protagonistas da fantasia “Dungeons & Dragons” baseado em um popular RPG.

Gostou? Veja o trailer da primeira temporada e se já assistiu, comente abaixo.

3 comentários sobre ““Bridgerton” – 1° Temporada – Crítica

Deixe um comentário