Com uma primeira metade voltada para o mistério e terror, e uma segunda metade para voltada para a ficção científica intercalada com suspense, transforma essa série em uma das boas surpresas deste começo de ano.
Spoilers Moderados da Primeira Temporada

Seriados são formas de entretenimento com uma capacidade enorme de estabelecer mitologias próprias e surpreender o público no decorrer de suas temporadas sempre levando em conta a jornada dos protagonistas e as reviravoltas ao longo do caminho. Seriados de terror são peças raras de serem bem sucedidas nesse quebra cabeça, pois é difícil manter o suspense e o terror por muito tempo sem que isso se transforme em algo monótono ou previsível para o seu exigente público-alvo.
Digo isso no intuito de falar do novo seriado de terror da Netflix baseado no podcast criado por Marc Sollinger e Dan Powell, “Arquivo 81” (Archive 81, série, 2022), que foi adaptado por Rebecca Sonnenshine (The Boys) em forma de seriado contendo oito episódios em sua primeira temporada. Assim como na premissa do podcast, a série conta a história desse personagem que pesquisa e restaura arquivos de vídeo de uma pessoa desaparecida que acaba o colocando no centro de uma teia de mistérios, mortes e conspirações.
O personagem principal aqui é Daniel Turner (Mamoudou Athie), mais conhecido como ‘Dan” o restaurador de vídeos antigos é contratado por um misterioso milionário Virgil Davenport (Martin Donovan) para recuperar fitas VHS de 27 anos atrás, mas que por conta de uma série de situações inexplicáveis acaba se apegando a figura Melody Pendras (Dina Shihabi), cineasta responsável pelos vídeos das fitas que supostamente desapareceu no Hotel Visser onde dezenas de pessoas morreram num incêndio misterioso em meados dos nos anos 90.

A série nos apresenta logo de cara uma trama bastante envolvente que vai intercalando com presente onde Dan tenta descobrir mais sobre os estranhos eventos de 1994, enquanto ao mesmo tempo a narrativa nos guias através das filmagens de Melody onde acompanhamos em tempo real seu envolvimento com os moradores do intrigante prédio que parecem estar ligados a uma seita demoníaca.
E isso é tudo que você precisa saber para embarcar nesta história, pois “Arquivo 81” traz mais surpresas do que se pode imaginar ao fazer o expectador levantar uma série de perguntas com poucas respostas ao mesmo tempo que estabelece um clima macabro que vai aumentando a cada novo episódio assistido. O piloto “Mystery Signals” (1×01) consegue ser bastante eficaz em apresentar seus personagens, criar uma atmosfera tensa e ainda entregar boas reviravoltas em seus minutos finais.
O melhor deste seriado é flertar com vários gêneros que vão de filmes de suspense e terror conhecidos e ainda assim conseguir entregar algo que soei novo e completamente rico de boas ideias. Os episódios “Wellspring” (1×02) e “Terror in the Aisles” (1×03) mostram que a série tem personalidade e sabe arriscar, a forma como vai nos entregando informações, ao mesmo tempo que cria um clima melancólico e macabro, lembra bastante os momentos de suspense de “Atividade Paranormal”, para citar um exemplo semelhante e de sucesso recente.

A série também bebe muito dá água de “Além da Imaginação” ao trazer sempre no começo dos episódios propagandas estranhas que servem para explicar eventos sobrenaturais bizarros que acabam por servir como antecipação do que está por vir na trama. Ao focar na história trágica de Dan e na estranha jornada de Melody no Hotel Visser, a trama aumenta intensidade sem apelar para os sustos fáceis, conseguindo subir o nível em um dos melhores e mais chocantes episódios da temporada em “Spirit Receivers” (1×04).
A narrativa em sua primeira metade cria o suspense calcado no terror e na sensação de que algo terrível irá acontecer a qualquer instante. Neste momento os aspectos técnicos da série se sobressaem, a trilha sonora constante oscila de forma dosada se intensificando em momentos inesperados, sem falar que a fotografia mais densa nas cenas dentro do Hotel ajuda a criar um clima claustrofóbico que deixa o expectador apreensivo mostrando que o terror constante muitas vezes é melhor do que o terror momentâneo feito de “jump scares” presentes na maioria das produções atuais.
A segunda metade da série abre mão do crescente terror o que pode decepcionar quem queria ver mais dessa pegada da série até o fim, mas a mudança de tom traz revelações onde a trama começa a convergir seus arcos criando episódios de puro deleite como o revelador “Through the Looking Glass” (1×05) e o chocante “The Circle” (1×06) onde o seriado se entrega ao suspense psicológico, a paranoia do desconhecido, o receio do sobrenatural e principalmente a ficção científica ao trazer respostas interessantes sobre o lado mais digamos fantástico da narrativa.

As atuações de “Arquivo 81” são boas na medida do possível, confesso que gostei de ver o protagonismo negro de Mamoudou Athie (Caixa Preta) ganhando espaço numa história que talvez não exija muito dele em termos de atuação, mas com certeza consolida o fato de que o ator consegue segurar bem liderando a trama, conseguindo trazer um apelo emocional de um personagem desesperado por respostas sobre uma pessoa desconhecida, ao mesmo tempo que tenta desvendar os mistérios da sua própria vida.
A atriz Dina Shihabi (Altered Carbon) atua bem como Melody Pendras e surpreende por ter uma química boa com Athie mesmo os personagens vivendo em realidades diferentes. A atriz consegue convencer como uma cineasta curiosa que documenta todas as coisas estranhas que acontecem no misterioso Hotel Visser. Outros destaques são: Martin Donovan (Tenet) no papel de Virgil Davenport, Matt McGorry (How To Get Away With Murder) no papel do melhor amigo de Dan, Mark, e ainda temos a pequena Ariana Neal (Fruitvale Station: A Última Parada) e Julia Chan (Gotham) fechando a lista dos bons coadjuvantes da série.
No geral “Arquivo 81” se torna uma grata surpresa por trazer lendas sobre ocultismo, seitas, lendas Folk e universos paralelos à tona numa trama envolvente não segue por caminhos fáceis, se consolidando por criar uma mitologia que evolui bem ao longo da temporada tendo seu ápice no intrigante episódio “The Ferryman” (1×07) onde a origem da misteriosa família Vox é revelada.

Produzido por Rebecca Sonnenshine, Paul Harris Boardman (O Exorcismo de Emily Rose) e James Wan (Maligno), este seriado de terror é um dos ótimos exemplares deste começo de ano até o momento por trazer um entretenimento que te deixa empolgado e curioso do início ao fim, além de abrir várias possibilidades consistentes no episódio final “What Lies Beneath” (1×08), que deixa pontas soltas e um gancho espetacular que promete deixar seu público louco para mais uma temporada que se acontecer, promete ainda mais mistérios, arrepio na espinha e loucuras sobrenaturais para o público se deliciar.
Gostou? Veja o trailer abaixo. Se já maratonou a série, diga o que achou nos comentários.

Um comentário sobre ““Arquivo 81” – 1° Temporada – Crítica”