Utilizando-se de diversas referências, o livro escrito por Silvio Almeida serve não só como uma fonte importante para entendermos como funciona o racismo estrutural, mas para entendermos como ele está profundamente enraizado na sociedade brasileira.

Os livros de não ficção são obras normalmente de cunho pessoal, normalmente ligados a biografia de uma longa trajetória de vida, mas podem ser obras de cunho científico e/ou histórico, que chegam para agregar, somar e servir como estudos e reflexões em diversas questões e temas. Particularmente essa temática é interessante não só para o leitor adquirir conhecimento, mas também para enriquecer seu vocabulário e suas ideias.
Digo isso para falar do livro de Silvio de Almeida, “Racismo Estrutural”, uma obra que faz parte do projeto coordenado por Djamila Ribeiro (Pequeno Manual Antirracista) chamado de “Feminismos Plurais”, que tem o objetivo de dar voz a diversas formas de feminismos de forma didática e acessível, esta coleção de livros é escrito por mulheres negras e indígenas, além de homens negros de diversas regiões do país, cada livro traz um olhar diferente sobre alguma questão importante ligada as desigualdades e preconceitos que ainda são vigentes no Brasil.
No caso desta obra escrita por Silvio de Almeida, temos uma análise bastante embasada onde ele parte do princípio de que o racismo na sociedade é sempre estrutural, ou seja, está integrado em nossa sociedade não só no aspecto econômico, mas também no político de uma forma que é impossível enxergar o todo sem que essas variáveis não estejam atreladas no estudo. Almeida é advogado, filósofo e professor universitário com uma longa bagagem de estudos que lhe confere conhecimento suficiente para analisar o assunto do racismo de uma forma bastante ampla e eloquente.
O livro “Racismo Estrutural” tem pouco mais de 250 páginas que nos ajudam a compreender diversos aspectos do racismo e como ele se espalhou e se espalha pela sociedade brasileira de uma forma silenciosa não só através do nosso cotidiano, mas também no aspecto institucional que acabam legitimando esses tipos de práticas que acabam por impedir a população negra de alcançar se potencial na esfera econômica e social.

Silvio consegue ser didático e bastante criterioso na sua tese de defender como o racismo estrutural funciona, tendo como base diversos livros, teses, estudos sobre assunto de diversos autores negros, cientistas políticos e sociais negros, além de outros estudiosos que ajudam a aprofundar na análise de uma temática que ainda se mostra complexa, mas que não é difícil de entender. O autor escreve pensando em cada detalhe do que quer expor, conseguindo antes mesmo de aprofundar na questão do racismo brasileiro, como ele se diferencia do racismo praticado nos EUA e na África do Sul de décadas atrás.
Este livro requer uma leitura cuidadosa, cada página é meticulosamente bem pensada e desenvolvida afim de não só embasar e solidificar as questões sobre racismo, mas mostrar como isso afeta as pessoas negras em diversas esferas sociais e como isso prejudica a economia, a política e a convivência social de um país o impedindo de alcançar um patamar mais justo e igualitário para seus cidadãos. Silvio, além de mostrar o quão grave é o problema, ele também tenta mostrar o caminho para uma solução através de medidas público sociais que ajude a equilibrar a balança da desigualdade social e racial que ainda é um problema vigente por aqui.
Ler “Racismo Estrutural” com uma mente mais aberta é crucial para entendermos mais sobre a questão do racismo e como isso pode nos ajudar a ser pessoas antirracistas. Por ser um autor negro e intelectual especialista no assunto, Silvio de Almeida consegue em poucas páginas nos enriquecer um pouco mais com seu conhecimento filosófico e social que abre espaço para entendermos melhor sobre a questão do racismo e como ele se compara na questão da raça, da ideologia, da política, do direito e da economia, onde percebemos que estas questões que a princípio andam em paralelo, com a visão do autor nos mostra que estão intimamente ligadas.

Outro ponto importante é notar após a leitura a quantidade de notas referências e estudos feitos por Almeida para amadurecer sua tese sobre racismo estrutural e como essas ligações e trechos de outras obras ajudam a abrir um leque de possibilidades para o leitor que pode conhecer outros autores que aprofundam na temática ao longo de décadas de estudo e análises sobre um assunto que ainda precisa ser disseminado se quisermos entender o problema e assim combater esse tipo de preconceito.
No geral, “Racismo Estrutural” é um livro bastante enriquecedor, didático e acessível, não só por trazer um assunto que é recorrente em nossa sociedade, mas também que requer uma atenção urgente e precisa ser levado mais a sério. É impossível ter uma sociedade mais igual sem trabalharmos a questão do racismo e como combate-lo, Silvio mostra que isso é um entrave político e econômico para o país e se cerca de embasamento histórico para defender seu ponto de vista.
É claro que sua visão não é algo universal, mas com certeza vale a leitura e a reflexão sobre um assunto que precisa ser mais discutido, mais disseminado não só no campo acadêmico, mas no campo político e principalmente na nossa sociedade, pois a única forma de combatermos o racismo é criar política públicas eficazes e um ter um comprometimento não só da população negra, mas da população brasileira em geral numa luta que no final das contas é de todos.
Onde Encontrar? Em qualquer livraria digital como Amazon ou Saraiva, seja o livro físico ou a versão kindle (se você tiver Kindle Unlimited, o livro é grátis).
| Ficha técnica |
|---|
| Livro: Racismo Estrutural |
| Autor(a): Silvio de Almeida |
| N° de Páginas: 256 |
| Gênero: Não Ficção |
| País de Origem: Brasil |
