Eletrizante, envolvente, as vezes bagunçado, mas no geral este thriller de suspense e ação é bem sucedido por se apoiar numa narrativa frenética e imprevisível.

A melhor característica de um thriller é saber segurar a atenção do expectador, normalmente quanto a história é frenética ficamos tensos do começo ao fim esperando o desfecho daquela determinada trama. Falo isso porque todos esses elementos estão presentes neste novo filme da Netflix que estreia cheio de mistérios, correria e algumas boas reviravoltas que podem surpreender seu público.
O drama “Beckett” é um filme produzido por Luca Guadagnino (Me Chame Pelo Seu Nome) e o brasileiro Rodrigo Teixeira (Me Chame Pelo Seu Nome), além de ser dirigido pelo cineasta Fernando Cito Filomarino, estreando na direção de um longa, apesar de ter sido diretor de segunda unidade de “Me Chame Pelo Seu Nome”, agora ele tem a oportunidade de dirigir algo só seu numa trama bastante interessante com um ritmo no mínimo alucinante.
A narrativa conta a história de Beckett (John David Washington), um norte americano que está de férias na Grécia com sua namorada April (Alicia Vikander) e após um acidente acaba se envolvendo numa conspiração política o levando a correr contra o tempo para salvar a própria vida de um grupo de perseguidores gregos. A história não tem grandes novidades, a verdade é que o longa parece uma produção de baixo orçamento sem grandes pretensões, isso fica até nítido pela qualidade da filmagem, que parece em alguns momentos algo mais amador.
Não que isso prejudique a produção, mas você sente falta mesmo de um tom mais cinematográfico com uma fotografia melhor cuidada. Tirando isso de lado, a longa tenta em muitos aspectos não entregar todas as suas surpresas de imediato, o roteiro do novato Kevin A. Rice não é lá muito brilhante e não tem diálogos marcantes, mas ao menos consegue dosar momentos de calmaria, com outros totalmente frenéticos num arco narrativo que vai se desenvolvendo de tal forma criar um suspense bastante consistente envolvendo toda a situação do protagonista.

O primeiro ato do filme segue uma linha mais amena, conhecemos mais da vida desse casal de turistas norte-americanos, descobrimos mais sobre relacionamento e onde pretendem ir nas suas férias na Grécia, que naquele momento vive uma crise política (remetendo a crise política de 2008 do país). O roteiro situa bem o expectador neste aspecto, em pouco tempo de projeção, já estamos envolvidos com a dinâmica do casal até que o acidente acontece a história finalmente começa a engatar.
A direção de Filomarino não é excelente, mas fica claro que o diretor tem potencial para crescer, a forma como ele segura a tensão e consegue acelerar a trama quando necessário, é o que faz do filme no mínimo intrigante para quem assiste. À medida que Beckett encara uma tragédia pessoal e se vê isolado num país onde ele não fala a língua, cria um clima de total desespero e expectativa, algo que o longa acerta em conseguir passar para seu público o clima de total impotência e insegurança vividas pelo personagem.
As sequências de ação não são muito elaboradas ou inspiradas, mas ao menos são eletrizantes, acredito que um dos grandes acertos aqui seja que John David Washington (Tenet) consegue vender bem no papel do turista desesperado tentando sobreviver, talvez lhe falte diálogos melhores, mas ao meu ver o ator consegue segurar bem a trama se mostrando um bom protagonista.

O clima de conspiração no ar é bem inserido no contexto, talvez por vermos um lado menos limpo de uma Grécia se mostra instável politicamente, cheia de protestos e grupos extremistas revoltados com o governo, isso torna tudo mais fácil de alimentar a trama. Intercalando entre paisagens campestres e urbanas por onde o personagem passa, vemos um país pouco amigável em alguns aspectos e cheios de perigos a cada esquina, criando um clima incomodo de que algo está para acontecer, apesar de ter belas paisagens diga-se de passagem.
A verdade é que muito do que faz “Beckett” funcionar é a imprevisibilidade que consegue inserir na história, ainda que este tipo de thriller de perseguição e sobrevivência tenha esgotado em ideias advinda de sucessos como “O Fugitivo” e “U.S.S. Marshall – Os Federais”, dentre outros onde o protagonista precisa correr contra o tempo para sobreviver, este aqui ainda consegue trazer reviravoltas o tempo todo conseguindo surpreender ainda que tenha algumas coincidências bem óbvias.
O terceiro ato inclusive é caótico e as vezes bastante bagunçado, mas traz ao menos respostas conseguindo elevar ainda mais a temperatura de uma trama que desacelera pouco, colocando Beckett no meio de um caldeirão de tensões e conspirações não só envolvendo grupos partidários gregos, mas outras forças governamentais que vão além da Grécia numa resolução que no final das contas é satisfatória, mesmo fique claro que falte um polimento melhor no desenvolvimento de alguns coadjuvantes inseridos no contexto.

O elenco no geral é ok, com John David Washington tendo mais tempo de tela, coadjuvantes como Alicia Vikander (Tomb Raider – A Origem), Boyd Holbrook (Logan) e Vicky Krieps (Trama Fantasma) funcionam apenas como pontas de luxo e peças do roteiro sem muito desenvolvimento. Com os antagonistas de Beckett falando literalmente grego, sem tradução nas legendas, não se tem muita noção do que o protagonista está enfrentando, isso por um lado é bom que não sabemos de que lado o perigo vem, por outro soa um pouco frustrante, já que não temos um vilão definido e não sabemos seus reais objetivos, apesar das revelações apontarem para uma conspiração governamental e corrupta sem precedentes.
No geral “Beckett” é um bom thriller, mas talvez falte mais desenvolvimento em alguns aspectos para se tornar algo mais marcante. Apesar do roteiro conseguir estabelecer bem seu protagonista e suas motivações, a verdade é que o filme empolga mesmo por tentar algo diferente em diversos momentos para tentar sair do óbvio, as vezes consegue, as vezes não, mas com certeza consegue inserir boas doses de suspense e ação numa narrativa que tem poucos momentos de descanso, deixando seu público na ponta do assento do começo ao fim, talvez não agrade tanto os mais exigentes, mas aqueles que não forem esperando muito, podem até se surpreender com um longa redondinho que entrega o que promete e entretém na maior parte do tempo.
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