O rei da trapaça foi trapaceado! A terceira série produzida pela Marvel Studios finalmente traz peso ao seu universo cinematográfico e usa o arco do seu vilão mais famoso para mudar a fase 4 como conhecemos.
Alerta de Spoilers da Temporada

Depois que os Vingadores derrotaram Thanos e seu exército no final de “Vingadores: Ultimato” decretando o fim da fase 3 e também da saga do Infinito, muitos fãs ficaram ansiosos para saber o que a empresa comandada por Kevin Feige faria em seguida. O começo da fase 4 com “WandaVision” tocou apenas na ponta do iceberg em termos de mistério e fantasia, enquanto “Falcão e o Soldado Invernal” e a recente estreia de “Viúva Negra” trouxeram thrillers de ação frenéticos que se encaixavam no canon, porém apenas apontavam sementes para o futuro. Eis que “Loki” apresentou seu último episódio ontem e finalmente a fase 4 tomou fôlego trazendo uma grande mudança para seus próximos longas.
Tudo se resume a “poder, manipulação e mentiras”, essas três palavras sintetizam o que foi a série “Loki” nestes seis episódios de sua primeira temporada, uma narrativa que começa exatamente a partir de uma das pontas soltas deixadas no último filme dos Vingadores focando no vilão de Thor e trazendo de volta o carisma, charme e presença de tela de Tom Hiddleston (Thor Ragnarok) para explorar ainda mais as várias faces do deus da trapaça.
A trama criada por Michael Waldron (Ricky and Morty) mantém o senso de novidade das duas séries anteriores, porém com ainda mais liberdade, expande o Universo Cinematográfico da Marvel de uma forma única e ainda aproveitando para humanizar seu protagonista de tal forma mostrar um lado do personagem que ainda não tínhamos testemunhado até o momento.
O piloto da série “Propósito Glorioso” (1×01) segue a versão de Loki que escapou com o cubo cósmico durante os eventos de Ultimato, o roteiro parte exatamente daquele ponto com Loki caindo no deserto e em seguida abordado por agentes estranhos que se revelaram parte de uma organização chamada TVA que significa “Time Variance Authority” ou “Autoridade de Variância do Tempo” responsável por proteger a linha tempo principal evitando que anomalias e ramificações surjam e possam causar algum distúrbio no multiverso.

É tudo sobre “poder, manipulação e mentiras”, o roteiro da série não só mostra que existe um universo vasto que precisa ser monitorado, mas também explora facetas além do lado vilão de Loki o colocando para caçar a si mesmo sobre a supervisão do engraçado Mobius (Owen Wilson) e da séria agente B-15 (Wumni Mosaku) mesmo com a desconfiança da juíza Ravonna Renslayer (Gugu Mbatha Raw).
Por mais que a série tem um lado que gosta de expandir sua mitologia trazendo a organização TVA como um lado do universo cinematográfico da Marvel que a gente não conhecia, a narrativa mostra que seu foco principal ainda é o desenvolvimento de Loki como personagem. Se no piloto o vilão leva a se questionar qual é seu propósito após se descobrir que sua versão original morreu pelas mãos de Thanos e que sua mãe morreu pelas mãos de um elfo negro, no episódio “A Variante” (1×02) o personagem ganha um propósito e se vê num jogo perigoso ao confrontar seu maior inimigo.
Os dois primeiros episódios são frenéticos, bem desenvolvidos e com ganchos pontuais que fazem da série “Loki” o melhor início de um seriado da Marvel até o momento, porém o terceiro episódio que deveria acelerar ainda mais as coisas, diminui o ritmo em favor do desenvolvimento de personagem. Em “Lamentis” (1×03) vemos Loki e a vilã Sylvie (uma versão feminina do Loki) nas peripécias de um planeta preste a ser destruído.
Um dos pontos positivos do seriado é saber aproveitar bem o seu valor de produção, a trilha sonora é uma das melhores já concebidas pela Marvel e a fotografia dos episódios são praticamente perfeitas, com uma variação que vai de verde, roxo e outras cores que dão um tom ainda mais fantástico a uma aventura que não tem receio de impactar seu expectador quando é preciso. Os efeitos visuais são outro ponto forte, fazendo valer os milhões gastos para produzir a obra.
É claro que com essa pompa toda e um roteiro complexo que mexe com manipulação do tempo, variantes e multiverso traz também seus pontos negativos. As vezes falta “Loki” ser mais seriado tradicional, algo que foi também notado em “WandaVision” e “Falcão e o Soldado Invernal”, os arcos as vezes se abrem em determinados pontos, mas em outros momentos falta um cuidado melhor para fechá-los de uma forma mais satisfatória, sem falar que por conta disso fica evidente que seis episódios por temporada para seriados como este são insuficientes para polir todos os arcos abertos.
Ainda que tenha essas ressalvas, “Loki” é uma trama envolvente, principalmente se você gosta de um bom mistério e divagar sobre teorias em relação ao futuro do MCU, Waldron, que também assina o roteiro do futuro “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, e seus roteiristas não só introduzem bons ganchos, mas também produzem várias pistas e easter eggs em uma proporção gigantesca, mas desta vez sem pegadinhas como fez a série protagonizada por Elizabeth Olsen, aqui finalmente vemos pela primeira vez uma série deste universo com peso de impactar todas as produções que virão a seguir.

No episódio “O Evento Nexus” (1×04), a série volta ao ritmo dos dois primeiros episódios trazendo boas reviravoltas numa narrativa que começa a transformar tudo aquilo que estabeleceu nos primeiros episódios, afinal, tudo é questão de “poder, manipulação e mentiras”, e a série brinca com esses conceitos o tempo todo, desafiando seu público a enxergar até onde vai as mentiras, manipulações e influências de seus personagens.
E isto tudo não seria possível se o elenco não fosse bom, começamos aqui por Owen Wilson (Uma Noite No Museu 3) no papel de Mobius, engraçado e carismático na medida, o personagem tem uma química tão bom com Tom, que fica impossível não gostar desse bromance. Gugu Mbatha Raw (Belle) no papel da juíza Ravonna Renslayer é uma das personagens com mais potencial, mas que a construção ainda fica devendo devido ao pouco tempo de tela que tem na reta final.
Outra atriz que sai prejudicada aqui é Wumni Mosaku (O Que Ficou Prá Trás) no papel da agente B-15, que tinha um arco dramático bem interessante, mas que acaba por ser resumido no decorrer dos episódios. Sophia Di Martino (Yesterday) no papel de Sylvie é uma grata surpresa, não só por conseguir ser uma antítese do Loki, mas também por ser cheia de personalidade em uma personagem cheia de fervor. Tara Strong (Batman: A Piada Mortal) como o enigmático holograma Miss Minute é outra surpresa boa desta temporada.

Porém de todos citados, quem ainda governa o show é Tom Hiddleston no papel de Loki, um personagem que após ver a jornada trágica de sua versão original toma um caminho diferente indo além da mera faceta do vilão que quer derrotar mocinhos. Hiddleston traz uma interpretação melancólica, humanizada e que começa a enxergar o todo de uma forma muito mais precisa do que aqueles a sua volta.
É tudo sobre “poder, manipulação e mentiras”, e nada mais certo do que Loki para entender o grande jogo por trás da perturbação que quer derrubar o véu do multiverso. O episódio “Jornada ao Mistério”(1×05) quando Loki encontra versões de si mesmo é basicamente uma prévia do que veremos daqui prá frente no que diz respeito a multiverso, em um dos episódios mais interessantes e inventivos da série, temos aqui o tubo de ensaio do MCU do futuro e sem falar que é muito bacana ver várias versões do personagem com vários rostos e personalidades diferentes (vida a longa ao “alligator Loki”).
A reta final do seriado é recheada de ganchos, mas é claro que fica a sensação de que a série ainda precisa controlar melhor suas reviravoltas, que muitas vezes não levam a nada e a lugar nenhum em determinados episódios, porém felizmente isso não acontece no consistente “Por Toda Eternidade. Sempre” (1×06) episódio que fecha esta temporada, que por mais que em muitos aspectos soei um pouco anticlímax, é também o desfecho narrativo mais ousado de uma série da Marvel até o momento, não só trazendo um grande vilão, mas também abrindo tantas possibilidades que fica impossível não abrir um sorriso quando os créditos começam a rolar.

De uma forma geral, “Loki” é uma série boa de assistir, muito porque sabe criar uma mitologia própria e sabe desenvolver bem seu protagonista, pois somente esse Loki mais passivo poderia entender a grande ameaça que está por vir, afinal ele sabe que tudo se resume a “poder, manipulação e mentiras”. É claro que a narrativa não é perfeita, falta mais espaço para desenvolvimento de alguns coadjuvantes e um melhor desfecho para seus arcos secundários, porém o roteiro consegue amarrar toda mitologia ligada ao tempo de uma forma bastante complexa e eficaz, abrindo as portas do multiverso e dando um peso para uma série que terá um impacto em praticamente todos os filmes e seriados produzidos pela Marvel virão posteriormente.
Talvez a série não seja a melhor do MCU até agora, mas com certeza é a mais importante já lançada no Disney Plus e tem seu valor de produção conseguindo entregar um entretenimento para ser discutido e dissecado por muitos fãs por um longo tempo. E quem diria que uma narrativa focada no deus da trapaça poderia render tanto e causar tanto frisson quanto uma série de super-heróis badalada como os Vingadores, esse é o poder de Feige e sua trupe em sempre esforçar para trazer algo original e cheio de frescor para seu público, quem ganha somos nós.

Elo Preto
Personagem: Ravonna Renslayer
Atriz Gugu Mbatha-Raw
Idade: 38 anos
O destaque da coluna de hoje vai para a bela Gugu Mbatha-Raw, a atriz interpreta a durona e manipuladora juíza Ravonna Renslayer, que nos quadrinhos era esposa de Kang, o Conquistador, aqui ela surge como a líder da TVA e uma personagem dúbia que não parece confiável, apesar de aparentar seu uma boa pessoa. Gugu interpreta bem uma personagem que gera muito potencial para ser uma das personagens negras mais interessantes do MCU até o momento. A atriz entra com pé direito no MCU, mas já participou de produções recentes como “Uma Dobra No Tempo”, “A Bela e a Fera” e “Miss Revolução”.
Gostou? Veja o trailer. Se já assistiu a temporada, diga nos comentários o que achou.

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