“Sem Remorso” – Crítica

Mesmo com uma boa presença de tela de Michael B. Jordan, esse thriller de ação deixa um gosto ruim e aquém do esperado por se vender como um longa de ação ininterrupto, mas que na verdade é um thriller de ação e suspense bastante previsível.

Fonte: Amazon Studios

Marketing é uma peça-chave para o sucesso de um longa, quando é malfeito pode levar a um fracasso de produção e perdas financeiras inestimáveis, quando é bem-feito, pode gerar bastante expectativas em torno de um projeto e se ele for realmente bom, pode gerar um sucesso sem precedentes. No meio disso tudo, existe o público-alvo, que atualmente está afoito por bons produtos e mais críticos com o que consome devido ao acesso fácil da internet a críticas e vídeos dessas produções hollywoodianas.

Disse tudo isso, porque a nova produção da Amazon Prime, baseado no livro de Tom Clancy de 1993 e spin off da famosa série de livros “Jack Ryan” deste mesmo autor, “Sem Remorso” (Tom Clancy’s Without Remorse, 2021) protagonizado por Michael B. Jordan (Pantera Negra) cai exatamente no famoso caso do marketing bem-feito, mas que vende algo totalmente diferente do que você encontra quando assiste a trama completa.

A premissa da obra conta a história de John Kelly (Jordan) que lidera uma equipe de SEALs para resgatar um agente da CIA que está na mão de terroristas do Estado Islâmico. O problema é que durante a missão eles descobrem que os terroristas eram russos e não islâmicos, levando a uma retaliação de Kelly e sua equipe. O longa segue a trilha de vingança de Kelly que após perder tudo que tinha se vê no meio de uma conspiração enquanto tenta se vingar daqueles que tiraram seus bens mais preciosos.

Apenas com essa base “Sem Remorso” tem toda uma trama que realmente atiça a curiosidade de quem gosta de um thriller de ação recheado de conspiração governamental. O grande problema é que a narrativa escrita por Taylor Sheridan (A Qualquer Custo) e Will Staples (Os Eleitos) começa costurando a história muito bem, mas acaba seguindo por um caminho muito familiar e pouco inventivo, seguindo a cartilha do gênero sem trazer boas reviravoltas ou mesmo surpreender na parte mais política da trama.

Fonte: Amazon Studios

O pior é que o filme começa muito bem, consegue em sua primeira metade estabelecer bem o universo de John Kelly e das operações secretas dos SEALs, tudo aqui funciona a contento numa direção bastante eficaz de Stefano Sollima (Sicário: Dia do Soldado) que sabe dirigir boas cenas de ação e sabe colocar seu protagonista em situações intensas. A narrativa começa a oscilar para baixo quase na metade do segundo ato, onde o foco muda para um suspense e uma tentativa do filme de se estabelecer como thriller de conspiratório.

O roteiro desenvolve pouco seus coadjuvantes e acaba jogando isca para o expectador tentar adivinhar quem é a mente por trás dessa trilha de sangue e morte deixada para fechar as pontas soltas e tendo John como alvo principal. Temos a amiga e oficial superior de Kelly, Karen Greer (Jodie Turner-Smith) como aliada, temos o chefe de operação Robert Ritter (Jamie Bell) e o secretário do governo Clay (Guy Pearce) como pessoas influentes, mas nada confiáveis para temperar o caldo das peças do governo que podem ou não estar envolvido na tramoia.

O filme tenta a todo momento intercalar essas conspirações, com cenas de ação, mas elas praticamente perdem força na sua segunda metade, infelizmente falta equilíbrio para Sollima em tentar segurar o mistério, ao mesmo tempo que tenta entregar cenas mais agitadas que no final das contas ficam devendo porque ou são curtas demais, ou são apenas mecanismo narrativos que acabam por preencher espaço, sem causar nenhum tipo de emoção ou empolgação genuína.

Fonte: Amazon Studios

Talvez “Sem Remorso” valha a pena pelo esforço de Michael B. Jordan em entregar um papel que o expectador tente se importar, toda a tragédia envolvendo sua esposa Pam (Lauren London) serve como catalisador para sua vingança e o personagem atormentado pela culpa tenta de todas as formas preencher o vazio tentando achar a pessoa por traz de tudo. Jordan é ótimo nas poucas cenas dramáticas na produção, assim como nas cenas de ação apresentando uma forma física invejável, mas infelizmente o ator podia ter sido mais bem aproveitado, pois nas poucas sequências que precisa encarnar um herói de ação, ele é muito bom, porém como citei, essas cenas são escassas e as vezes curtas demais, ele realmente merecia cenas mais intensas, cenas que filmes como “John Wick” e o recente “Nobody” entregam muito bem, por exemplo.

Além de Jordan, o resto do elenco está apenas operante, Guy Pearce (Homem de Ferro 3) está ok como secretário do governo, Jamie Bell (Rocketman) não tem muito o que fazer, apesar de seu personagem exigir certa dualidade do ator. Temos ainda Jodie Turner-Smith (Queen & Slim) que talvez tenha um papel um pouco mais desenvolvido, mas ainda assim a atriz faz muito com pouco soltando frases de efeito aqui e ali, mas sem grandes efeitos dramáticos entregando apenas o que se pede dela.

No geral, “Sem Remorso” não chega a ser um desastre completo, mas é bem mediano no final das contas, com um começo bem promissor, mas com uma reta final muito previsível e sem inspiração mesmo que deixe ganchos para uma possível sequência (sim tem cena durante os créditos). A verdade é que o filme vale a pena pelo esforço de Michael B. Jordan em segurar nosso interesse fazendo um bom protagonista, mas até ele merecia algo melhor e com mais desenvolvimento, algo que foi mostrado nos trailers, mas que não se concretizou durante a narrativa, afinal o homem é um dos atores negros mais promissores desta geração e merece um filme de ação a altura de seu prestígio, algo que esta narrativa tenta, mas acaba entregando um mais do mesmo que falta bastante tempero no quesito entretenimento.

Gostou? Veja o trailer. E se já assistiu ao filme, diga o que achou nos comentários abaixo.

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