“Passageiro Acidental” – Crítica

Se apoiando nos dilemas morais de seu quarteto protagonista, este drama de ficção científica carrega tensão e suspense até seu final prometendo dividir opiniões.

Fonte: Netflix

Ultimamente filmes de ficção científica tem explorado bastante as viagens de ida e volta a planetas desconhecidos para colocar seus personagens no limite, alguns utilizam bom humor para desenvolver sua narrativa, como é o caso de “Perdido em Marte”, drama de sobrevivência protagonizado por Matt Damon, outros usam a melancolia e um futuro mais tecnológico e distópico para tecer a jornada de seus personagens como é o caso de “Ad Astra” protagonizado por Brad Pitt e “Céu da Meia Noite” protagonizado por George Clooney, mas existe aqueles filmes mais próximos da nossa realidade que se utilizam de dilemas enfrentados por seus astronautas em situações extremas para gerar tensão em seu público, como é o caso do recente drama da Netflix, “Passageiro Acidental”(Stowaway, 2021).

Este longa dirigido por Joe Penna (Arctic) conta a história de três membros de uma tripulação que embarcam numa missão de dois anos para Marte, mas se veem num dilema após encontrarem escondido na nave um tripulante que ficou por lá acidentalmente e com isso precisam tomar decisões difíceis para evitar que a jornada que mal começaram seja prejudicada com adição desse novo passageiro.

O filme começa muito bem num primeiro ato que consegue apresentar razoavelmente bem os tripulantes da missão que tem como membro a comandante Marina Barnett (Toni Collette), a médica Zoe Levenson (Anna Kendrick) e o botânico David Kim (Daniel Dae Kim). A narrativa familiariza o expectador sobre os personagens, os aspectos da missão e da nave que se torna praticamente uma casa para esses astronautas.

Fonte: Netflix

A direção de Joe Penna é bastante eficaz nesses aspectos, gosto muito das tomadas longas dele dentro da estação acompanhando os personagens, mostrando cada cômodo do local, usando a câmera quase como observador em movimento. A trama ganha fôlego quando a comandante Marina encontra na célula de suporte de vida o até então desconhecido Michael Adams (Shamier Anderson), e com ele problemas inesperados começam a surgir.

Em “Passageiro Acidental”, o roteiro escrito pelo próprio Penna e co-escrito por Ryan Morrison (Arctic) é bastante direto na sua primeira metade, que ganha fôlego quando a tripulação descobre um problema nas instalações que pode levar a morte deles e o fracasso da missão. O texto aqui explora pouco os personagens de forma individual, talvez o personagem de Michael seja o que ganhe mais camadas, pois as motivações são necessárias para que o público sinta que o personagem não está ali de forma proposital, porém personagens como Marina e David, são apenas operantes, Zoe ganha destaque pelo carisma, mas até ela merecia um polimento melhor do roteiro.

É claro que esta falta de desenvolvimento não prejudica tanto, pois a narrativa foca bastante na tensão entre eles e o estranho no ninho Michael, principalmente quando a trama ganha ares de drama e onde os dilemas de moralidade fazem os personagens agirem impulsivamente ou com coração gerando bons conflitos que deixam a história interessante capturando a atenção de seus expectadores.

Fonte: Netflix

A narrativa levanta várias discussões sobre a índole humana, sobre decisões extremas em situações inesperadas e consegue com sucesso trazer uma complexidade para esses personagens que precisam decidir entre a razão e a emoção para sair da situação crítica em que se encontram. Aqui o roteiro de Penna e Morrison é bastante eficaz, ainda que os diálogos não sejam tão elaborados, mas são pontuais para gerar conflitos e questionamentos de quem assiste, além da expectativa de como a história irá se desenvolver.

Este aspecto só funciona, graças a uma certa sintonia do elenco, Toni Collete (Hereditário) não tem muito apelo dramático, mas consegue passar firmeza e racionalidade como Marina Barnett. Daniel Dae Kim (Lost) como David Kim, tem um aspecto que pode levar o público a odiá-lo, mas o ator ainda consegue encontrar humanidade mostrando que nem tudo é preto no branco em suas decisões. Shamier Anderson (Raça) passa uma aura carismática e dramática na pele do engenheiro Michael (adoro personagens negros em cargos importantes), talvez o personagem mais bem desenvolvido, ainda que perca um pouco de espaço na reta final, consegue vender bem um personagem temeroso, mas que se mostra amigável ao cair de para quedas nesta missão.

A personagem de Anna Kendrick (A Escolha Perfeita) é basicamente o coração do filme na pele de Zoe, a personagem que é o total oposto de seus companheiros de viagem, não vê Michael como um problema, mas como uma vida a ser salva, aqui Kendrick com o carisma de sempre ganha espaço num arco bastante dramático, que se intensifica ainda mais na reta final conseguindo trazer emoção genuína para uma personagem que é um poço de bom senso.

Fonte: Netflix

A verdade é que “Passageiro Acidental” se torna um bom filme exatamente por conseguir prender atenção, a direção de Penna tenta a todo momento criar um universo bastante isolado para seus personagens, tanto que você não houve o outro lado da linha quando eles se comunicam com a Terra, dando aquele aspecto de solidão, mas confesso que senti falta desses conflitos com a equipe de comando, mas entendo a preferência do diretor em não mostrar, afinal é algo bastante comum e clichê dentro do gênero.

No quesito aspectos técnicos, o longa tem bons efeitos visuais, uma trilha ok e uma boa edição de som que se destaca principalmente na sequência de pura adrenalina quando Zoe e David precisam fazer uma missão desesperada fora da nave elevando a tensão na reta final do longa que vale praticamente o filme inteiro e mostra a destreza de Joe Penna de guardar o melhor para o final.

De uma forma geral, “Passageiro Acidental” é um bom exemplar do gênero ficção cientifica que se segura bem no suspense e na tensão, ainda que falte mais polimento em relação ao seu quarteto protagonista, o longa levanta bons questionamentos sobre humanidade, sobre sacrifícios e sobre fazer o que é certo na hora certa. Alguns podem sentir que o final fecha de forma abrupta, mas na minha opinião a última cena é simbólica o suficiente para mostrar que no final das contas entre razão e emoção, prevaleceu o bom senso, mesmo que isso signifique uma decisão sem volta, mostrando que escolhas não são fáceis e que mesmo assim, elas precisam ser feitas.

Gostou? Assista ao trailer do filme, se já viu esta obra, comenta abaixo sobre o que achou.

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