“Meu Pai e Outros Vexames” – 1° Temporada – Crítica

Um mais do mesmo divertido! Esta nova sitcom protagonizada por Jamie Foxx tem sim alguns momentos mais ou menos, mas ainda assim continua sendo um bom exemplar dentro das comédias feitas para o público negro.

Fonte: Netflix

Comédias no formato sitcom já tiveram seu momento, hoje apenas sobrevivem, mas não tem a mesma popularidade de outrora. Este formato quando é focado em personagens negros, normalmente fazem sucesso, mas todas seguem uma linha bastante familiar com poucas diferenças, porém sempre com um ator ou atriz negros carismáticos no papel de protagonista que ajudam a não só popularizar o seriado, como a segurar o interesse do público.

Sucessos como “Um Maluco No Pedaço”, “Eu, a Patroa e as Crianças” dentre outras de grande repercussão seguem essa premissa, aliás, a primeira ajudou Will Smith ainda no começo de carreira a se tornar um dos maiores astros do planeta. Seguindo essa mesma linha, vem Jamie Foxx, que entre 1996-2001 era bastante popular com sua série “The Jamie Foxx Show”, um sitcom que não só ajudou na projeção de Foxx, como também ajudou o ator a ser um dos atores/comediantes mais populares dos anos 90 e começo dos 2000.

Então chegamos a 2021, vinte e cinco anos depois com Jamie Foxx (Soul), agora ganhador do Oscar de melhor ator pelo drama biográfico “Ray” que contava a história do Ray Charles, além de ser um dos atores mais respeitados e requisitados de Hollywood, voltando ao formato que o projetou na comédia em “Meu Pai e Outros Vexames” (Dad Stop Embarrassing Me, 2021), baseado na história da sua vida pessoal e de sua filha Corinne Foxx (que assina como produtora da série) contando as peripécias de um pai solteiro que tenta criar sua filha adolescente gerando várias confusões e conflitos entre eles.

Este seriado da Netflix é uma das apostas do ano não só pelo retorno de Foxx no formato de séries, mas também por ter chances de ter um grande apelo na comunidade negra dos EUA. A verdade é que o seriado em seus oito episódios oscila muito entre altos e baixos no quesito história, mas na minha visão, consegue entregar boas risadas, mesmo que em alguns momentos soei meio vergonhosa e batida.

Fonte: Netflix

A narrativa conta a história de Brian Dixon (Foxx), um empresário dono de uma empresa de cosméticos chamada “Bay” que se vê lidando com os desafios da paternidade ao tentar criar a filha adolescente Sasha (Kyla-Drew) recém-chegada em Atlanta, depois do falecimento de sua mãe. Ajudando Brian nesta empreitada, temos sua irmã Chelsea (Porscha Coleman) e seu pai Pops (David Alan Grier) que vivem também na mesma casa.

A série começa um pouco desajustada no piloto “#BlackPeopleDontGoToTherapy” (1×01) com Brian e Sasha indo por engano a uma terapeuta sexual na tentativa de resolver seus conflitos de pai e filha. A trama aqui apresenta bem os personagens, mas falta timming no humor, Foxx começa a duzentos por hora, mas precisava ser um pouco mais devagar, a química pai e filha inicialmente não funciona tão bem, mas ainda assim o episódio traz alguns momentos engraçados, mesmo que embaraçosos.

Os dois episódios seguintes “#Godastamaste” (1×02) e “#YeezysAndShrimp” (1×03) são melhores, o primeiro apesar entregar uma trama muito religiosa, se sai bem em equilibrar drama e humor, explorando inclusive a dificuldade de Sasha em aceitar uma religião depois de perder a mãe. O segundo mostra a série mais a vontade com si mesma, os personagens começam a funcionar melhor e as piadas também, inclusive personagens como Pops e a melhor amiga de Sasha, Zia (Miracle Reigns) começam a se destacar principalmente pelas as frases sem noção gerando boas risadas.

Fonte: Netflix

Em “Meu Pai e Outros Vexames”, o roteiro não tem medo de abraçar o ridículo, uma coisa que fica claro é que a série sabe que não se leva a sério e brinca muito com isso, inclusive tem vários momentos de quebra da quarta parede, elas nem sempre funcionam, mas ficam melhores ao longo da temporada. A série mantém uma linha aceitável de humor bagaceiro nos episódios “#NipplesOrNuts” (1×04) e “#TheMotherPucker” (1×05), se você está acostumado com as frases toscas cheias de referências a cultura pop, seja ela relacionada a basquete, filmes (incluindo os próprios filmes protagonizados pelo Foxx), séries dentre outros formatos, dificilmente você não vai se divertir assistindo a esses episódios.

A série tenta explorar bastante a relação pai e filha, e ela consegue isso melhor nos primeiros episódios, mas peca um pouco quanto a isso nos últimos. Falta aos personagens Brian e Sasha aprenderem mais lições e amadurecimento um com outro, em certos momentos fica nítido o desequilíbrio entre o pai querendo controlar tudo que a filha faz, em contraponto com a filha no auge da sua adolescência querendo curtir à vida, falta algo no roteiro desta sitcom para desenvolver melhor essa relação que as vezes fica muito a desejar, apesar de a série sempre se apoiar em conflitos aparentemente resolvidos no final dos episódios.

A série segue uma linha linear nos episódios “#ThrillaOnTheGrilla” (1×06) e “#RichDadWokeDad” (1×07) mostrando um equilíbrio melhor do elenco e com as piadas ficando mais afiadas e ordinárias na tela, e prá mim funciona, contando que você entenda exatamente o tipo de humor que a série quer entregar. Muito do que faz a série “Meu Pai e Outros Vexames” ser boa de assistir é seu elenco, gosto muito de Jamie Foxx aqui, ainda que no começo seu personagem soe exagerado, o ator consegue depois equilibrar melhor os trejeitos e o timming cômico ao longo da temporada. Ainda não sei dizer se gostei realmente de Kyla-Drew (A Casa da Raven) no papel de Sasha, por um lado ela é boa de drama, sua personagem é de uma adolescente madura e forte, mesmo que seja as vezes meio irresponsável, mas falta um pouco de talento no humor, que prá mim não funcionou tão bem assim, apesar de ter um suporte bem grande Foxx quando ambos dividem a cena juntos.

Outros destaques do elenco são: David Alan Grier (In Living Color) que está ótimo e engraçado como Pops, assim como Jonathan Kite (2 Broke Girls) no papel do policial Johnny e melhor amigo de Brian. Temos também a engraçada Porscha Coleman (Good Girls) no papel de Chelsea e a bela Heather Hemmens (Roswell, New Mexico) no papel de Stacy, interesse amoroso de Brian e quem cuida do marketing de sua empresa. Por último temos a sem noção e engraçada Miracle Reigns no papel de Zia e Valente Rodriguez (High School Musical: A Série: O Musical) no papel de Manny, que funciona como estereotipo ambulante latino (que particularmente não gosto), mas que as vezes gera boas piadas.

Fonte: Netflix

De uma forma geral, “Meu Pai e Outros Vexames” é uma boa comédia e ainda que seja para um nicho especifico, ela funciona como algo descompromissado. Eu sempre digo que comédia depende muito do tipo de humor que você gosta, existe aquelas mais elaboradas e outras mais simples feitas para passatempo e esta se encaixa na segunda opção, como fica claro no season finale “#MaybeItsBayBelline” (1×08) que não é dos melhores ao inserir um assunto sério que é tratado de forma superficial, mas isso não atrapalha a evolução dos episódios anteriores, mas deixa um gostinho de que podia ter sido mais bem desenvolvido.

Olhando como um todo e como citei o roteiro não é elaborado, as piadas são boas se você conseguir pegar as referências na maioria delas (na maior parte relacionado a cultura norte-americana), os conflitos pai e filha as vezes funcionam, as vezes falta desenvolvimento, e o elenco coadjuvante sólido ajuda muito o humor da série a alavancar. O retorno de Jamie Foxx a este formato de sitcom não é tão inspirado, mas vale a investida para mostrar a versatilidade do ator em vários papéis dentro da narrativa. No final das contas essa comédia sobre pai e filha talvez seja o entretenimento escapista e divertido que você precisa neste momento turbulento que estamos vivendo, ainda que soei como algo já visto antes.

Gostou? Veja o trailer. E se já assistiu a temporada, comente abaixo o que achou.

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