“Bad Trip” – Crítica

Engraçada, louca e absurda. Esta nova comédia da Netflix usa o estilo falso documentário com câmeras escondidas e que consegue arrancar boas risadas num mar de vergonha alheia.

Fonte: Netflix

É fato que falsos documentários e narrativas com pegadinhas com câmera escondida não são novidades no cinema, depois que o longa “Jackass – O Filme” de 2002 se tornou um fenômeno de bilheteria quando fez a transição de TV para o formato de longa, elas se tornaram comuns, inclusive este filme protagonizado por Johnny Knoxville que usava um roteiro narrativo inserido em situações reais para fazer pegadinhas com anônimos foi copiada a exaustão, inclusive gerou outro fenômeno em 2006 com o filme “Borat” protagonizado por um até então desconhecido Sasha Baron Cohen.

A introdução acima serve exatamente para chegarmos em “Bad Trip”(2021), comédia da Netflix que estreou dia 26 de março e é estrelada pelos atores comediantes Eric André (O Rei Leão) e Lil Rel Howery (Corra!) que mistura filme com estilo pegadinhas numa trama que ainda tem uma vibe de “road trip” ou “viagem na estrada”. O longa conta a história desses dois amigos negros, Chris Carey (André) e Bud Malone (Rel) que embarcam numa jornada pelos EUA indo da Flórida até Nova York para que o primeiro encontre e se declare para sua amada, Maria Li (Michaela Conlin), uma bela moça que ele é apaixonado desde os tempos de escola e que tem uma galeria na grande maçã.

A narrativa não tem nada demais, aliás, se fosse apenas uma comédia com a premissa mencionada, ela seria só mais uma no gênero abarrotado de mais do mesmo. A grande sacada do filme dirigido por Kitao Sakurai (The Erik André Show) é exatamente inserir o contexto do falso documentário ou câmera escondida, utilizando apenas a linguagem cinematográfica para que a história tenha um começo, meio e fim. Desta forma o que faz “Bad Trip” funcionar, são a situações que Eric André e Lil Rel se metem encarnando seus personagens fictícios deixando que pessoas reais reajam aos absurdos proporcionados pela dupla.

Fonte: Netflix

As primeiras cenas da comédia mostram que o filme não se deve levar a sério além de exemplificar como as pegadinhas inseridas na trama irão ser abordadas. Tudo isso depende do quão convincente os atores vão ser em seus respectivos papéis e nisso o longa acerta muito, já que Eric André (numa veia cômica certeira) consegue carregar o filme muito bem proporcionando várias cenas engraçadas ao longo de sua viagem, cenas estas que chegam num nível tão vergonha alheia, que é impossível você não esboçar ao menos um sorriso no rosto.

O roteiro assinado pelo próprio Eric André juntamente com Kitao Sakurai  e Andrew Barchilon (The Eric Andre Show) consegue fazer com que as pirações de Chris para encontrar sua amada gerem vários tipos de situações constrangedoras para o personagem e a graça esta exatamente aí, afinal são inúmeras situações em que este indivíduo se mete em confusões trazendo como respostas as mais absurdas reações de público anônimo que fica sem noção do que está acontecendo.

A química entre Eric André e Lil Rel é apenas ok, não chega a ser memorável, uma vez que sentimos Rel meio desconfortável no papel, ainda que ao longo da trama ele embarque nas mais confusões proporcionadas para que a dupla passe pelos momentos mais escrotos possíveis. E falando dessas situações, elas acontecem aos montes sendo as melhores e mais inspiradas situadas na primeira metade no filme, inclusive, as cenas que mais me arrancaram risadas foram: a cena do Chris atendendo clientes numa lanchonete, a antológica cena do zoológico, passando pela cena absurda no bar cheio de cowboys brancos com Chris e Bud bêbados e é claro a cena constrangedora do final inspirada no filme “As Branquelas”.

Fonte: Netflix

O elenco aqui é muito bom, além protagonistas, o filme conta com uma engraçada Tiffany Haddish (Viagem das Garotas) no papel da maluca e perigosa Trina Malone, irmã de Bud e de quem os dois roubam o carro para fazer a tal viagem. Haddish está tão à vontade no papel que é fácil comprar que a personagem dela é uma ex-detenta, sua melhor cena na minha humilde opinião é quando tenta dar em cima de um policial. Outro destaque é Michaela Conlin (O Poder e a Lei) no papel de Maria Li, bem convincente no papel, incluindo nas depravadas cenas de sonho de Chris em que ela divide a cena com Eric Andre, inclusive vale elogiar aqui a ideia inteligente do roteiro em usar pegadinhas nestas sequências também.

O filme se desenvolve bem e o ritmo é ditado de acordo com as peripécias da dupla principal, a segunda metade do longa é pouco inspirada, mas nada que estrague a experiência. Ainda que “Bad Trip” não inove no recurso das pegadinhas, a comédia ganha pontos por conseguir gerar humor mesmo nas cenas mais absurdas, é claro que em alguns momentos elas não funcionam e causam mais vergonha do que risos do público, mas aí vai depender muito do seu grau de tolerância a piadas raciais, de cunho religioso e sexual que inundam a narrativa, causando até um certo desconforto nos mais conservadores.  

De uma forma geral, “Bad Trip” é uma boa comédia, não é livre defeitos, mas serve para proporcionar um bom entretenimento, gerado por situações bastante vergonha alheia que apenas funcionam pelo comprometimento do elenco, principalmente Eric André e Lil Rel Howery que se metem em diversas confusões fazendo desconhecidos terem reações incrédulas sem saber que estão sendo alvo de uma piada. O roteiro usa todos os clichês possíveis para montar algo com uma linguagem mais cinematográfica, isso nem sempre funciona e é a parte menos interessante do filme, mas tudo é compensado pelo estilo câmera escondida, que em alguns momentos é tão maluca que ficamos perguntando como foi que conseguiram filmar tais momentos, e pode acreditar, este filme é cheio deles e no final é o que deve proporcionar a diversão que o expectador procura. 

Gostou? Assista ao trailer, se já assistiu, comenta ai embaixo, quero saber o que achou.

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