Visceral, violenta e imprevisível, esta série britânica é uma das melhores surpresas dos últimos anos em termos de história e ação.

Controle e poder! Essas duas palavras ecoam bastante durante os episódios da primeira temporada da série britânica “Gangs of London” (ou “Gangues de Londres” na tradução literal), uma das gratas surpresas do ano passado que tive a oportunidade de assistir apenas este ano. Uma produção da Sky Original inglesa e que aqui no Brasil está disponível no streaming Starz Play é salpicada de violência e ação da boa, ideal para quem fã do gênero.
A série criada pela dupla de roteiristas do filme sensação “Operação Invasão” ou “The Raid” para quem está mais familiarizado com o nome em inglês, Gareth Evans e Matt Flannery trazem uma narrativa que conta a história de Londres sendo despedaçada devido uma disputa intensa entre gangues internacionais que tentam dominar cada centímetro do local depois do assassinato do patriarca da família criminosa mais poderosa da cidade.
Para saber se você vai gostar de “Gangs of London”, o verdadeiro teste é passar pelo longo piloto de uma hora de trinta e três minutos (basicamente um piloto duplo), nele você vai ser apresentado a cada personagem, cada família, cada relação de poder entre essas gangues que dominam a cidade, tudo que você precisa saber sobre a série esta praticamente sementada neste primeiro episódio. É claro que o ritmo lento em alguns momentos pode parecer um pouco “chato”, mas aqui é tudo sobre construção de um universo que você vai percebendo a cada nova cena que é mais complexo e extenso do que se pode imaginar.
Os primeiros minutos do piloto dirigido também Gareth Evans, cria uma tensão aparente que começa exatamente com assassinato de Finn Wallace (Colm Meaney) e depois é desenvolvida posteriormente com a repercussão deste acontecimento, sentido pela sua esposa Marian Wallace (Michelle Fairley) e seus três filhos: Sean (Joe Cole), Billy (Brian Vernel) e Jacqueline (Valene Kane), além de seus amigos próximos formado pela família Dumani liderados por Ed (Lucian Msamati) e seus filhos Alexander (Paapa Essiedu) e Shannon (Pippa Bennett-Warner), que ainda tem Danny (Taye Matthew) filho de Shannon como membro mais novo da família.

A família Wallace e Dumani formam um grupo poderoso que é responsável por controlar todas as outras famílias num acordo que vai desde transações financeiras até grandes empreendimentos por toda Londres. Com a morte de Finn e tendo Sean como sucessor para liderar esse empreendimento, gera uma desconfiança entre as outras famílias resultando em um jogo de poder e disputas. Ainda temos a chegada de um estranho no ninho, Elliott Finch (Sope Dìrisù) que vai ganhando a confiança de Sean aos poucos, gerando certa desconfiança de seus aliados.
Se o começo do piloto é um pouco mais lento, a segunda metade dele é de pura ação, como em “Operação Invasão”, as lutas aqui são violentas, cruas, muito bem coreografadas e com um grau de periculosidade altíssima, algo que só Evans consegue fazer numa direção primorosa e estilo único que deixou ele conhecido na série “The Raid”. Se o piloto realmente agradar, os outros oito episódios são ainda melhores.
Nos episódios 1×02 e 1×03, temos Sean continuando sua caçada feroz atrás dos assassinos de seu pai e paralisando cada operação que os Wallaces e os Dumani estão coordenando, levando as outras famílias a mexerem seus pauzinhos para continuar seus empreendimentos mesmo sem seu consentimento. Uma coisa que se percebe em “Gangs of London”, é seu clima de máfia no melhor estilo “O Poderoso Chefão”, ao mesmo tempo que planta diversas conspirações e narrativas paralelas que vão se intercalando tomando o centro da história à medida que a temporada vai progredindo, isso tudo é salpicado com muitas reviravoltas e lutas sensacionais.
Uma das qualidades dessa série é seu elenco bastante diverso, eu devo dizer que adorei muito os personagens negros serem influentes na narrativa, ganhando personalidade, história e poder de decisão em diversos momentos, como fica claro com a família Dumani, sem falar que Eliott é basicamente um co-protagonista desta história, e talvez o personagem negro que mais cresce durante a trama. E a série não para pôr aí, famílias irlandesas, famílias nigerianas, famílias russas, famílias paquistanesas e outras nacionalidades povoam a narrativa, ainda que careçam de desenvolvimento em alguns momentos, muitas delas em determinados momentos são jogadores cruciais neste jogo de poder que é um verdadeiro ninho de cobra comendo cobra.

Em “Gangs of London” nada é o que parece ser e tudo pode ser mais do que você pode imaginar, cada detalhe conta, como fica claro no episódio 1×04, talvez um dos mais surpreendentes da temporada e talvez onde o arco do início da temporada tem seu ápice quando as linhas narrativas se convertem num banho de sangue memorável e assustador. Porém a série entra em outro patamar com arrepiante episódio 1×05, focando sua narrativa em dois personagens coadjuvantes que aqui viram protagonistas de uma grande sequência de ação tão bem filmada, tão bem-feita, tão imprevisível e tão bem dirigida por Gareth Evans e Corin Hardy (A Freira) que é impossível tirar os olhos um segundo, facilmente um dos melhores episódios de ação da história das séries de TV.
A segunda metade da temporada, a partir dos episódios 1×06 e 1×07, a série cria novos arcos se expandindo ainda mais, a tensão e ação desenfreada da primeira parte, dão lugar a algo mais cadenciado, porém repleto de reviravoltas e suspense, uma vez que as verdadeiras pessoas por trás da morte de Finn são reveladas gerando ainda mais tensão entre os Wallaces e os Dumani, ambos são o cerne da série, uma vez que praticamente tudo na narrativa gira em torno deles ou orbita em torno das decisões de Sean e Alex.
Essa série é tão bem desenvolvida e tão envolvente, mas foi assistindo o espetacular episódio 1×08 que cheguei à conclusão de que “Gangs of London” é praticamente uma versão moderna do que seria “Game of Thrones” se fosse trazida para os tempos atuais. Um jogo de poder e controle entre personagens que são imprevisíveis, controlados por outros personagens ainda mais poderosos, sem falar que constante mudança no roteiro cria uma alternância de protagonismo deixando tudo muito em aberto, não deixando o expectador confortável em apenas acreditar na índole de um só personagem, e quando isso acontece, é seguido de alguma reviravolta inesperada tornando a série um produto que vale o investimento, mas que sempre desafia quem assiste, algo que “Game of Thrones” fazia muito nas suas temporadas.

O elenco é um achado, adoro vários personagens, mas prá mim os destaques são: Lucian Msamati (A Grande Mentira) como Ed Dumani, frio e calculista, é um dos personagens mais interessantes da série. Gosto também de Michelle Fairley como Marian Wallace, assim como em “Game of Thrones”, aqui ela tem presença numa personagem feroz e fascinante. Joe Cole (Peaky Blinders) como protagonista Sean Wallace é muito bom também, um personagem atormentado pela responsabilidade de comandar o crime organizado de Londres, ao mesmo tempo que tenta vingar a morte do pai, traz nuances que Cole sabe dominar bem. Sope Dirisu (O Que Ficou Para Atrás) é excelente como Elliot Finch, ainda que alguns momentos o personagem pareça um pouco perdido, na reta final ele cresce de uma forma monstruosa e memorável. Outros bons destaques são: Brian Vernel (The Last Kingdom), Paapa Essiedu (I May Destroy You), Narges Rashidi (The Girlfriend Experience) e Orli Shuka (Save Me).
De uma forma geral, “Gangs of London” é excelente, mas requer paciência do expectador, é uma série que entrega na ação e na história, mas necessita investimento, porém a recompensa é uma narrativa repleta de surpresas, ainda que tenha um excesso de violência (muita violência, tire as crianças da sala), tudo aqui é feito de forma pensada e isso fica claro no episódio 1×09, um season finale que entrega tudo e mais um pouco, deixando fortes ganchos para uma próxima temporada (a série já foi renovada) e uma reviravolta narrativa que vai pegar até o mais atento expectador de surpresa. O seriado tem tudo para se tornar referência no gênero, se mantiver esta qualidade na segunda temporada, a meu ver é uma história que rende muito e tem tudo para consolidar como uma das melhores séries desta década que se inicia.
Gostou? Veja o trailer abaixo, e se já assistiu, comenta o que achou.

2 comentários sobre ““Gangs of London” – 1° Temporada – Crítica”