Um terror com fundo de crítica social, faz desta produção uma interessante crítica aos padrões de beleza impostos pela sociedade.

Nos últimos anos, os filmes de terror e suspense tem ganhado novo fôlego com produções que desafiam a mente dos expectadores, mas a verdade é que poucos possuem um roteiro ou uma trama que tenha muita originalidade. É claro que produções como “Corra!” e “Nós”, coincidentemente dirigidas pelo gênio Jordan Peele, são um alento principalmente para produtos voltados para o público negro no meio daqueles filmes de terror que apesar de bem executados, são mais do mesmo.
Ano passado, um pouco antes do Halloween, o canal de streaming Hulu, nos apresentou uma obra de terror com uma premissa bastante interessante, apesar de parecer bem tosca no papel. A produção “Bad Hair” (ainda sem título em português) se passa em 1989 e conta a história dessa jovem e ambiciosa mulher que alisa o cabelo de forma ser bem sucedida no competitivo mundo da música de televisão, porém as coisas começam a complicar quando ela começa a perceber que seu novo cabelo uma mente própria.
Como citei, a premissa é cafona e estranha, mas o filme dirigido por Justin Simien (Cara Gente Branca) vai além da aura de filme B, trazendo uma estética oitentista bastante interessante criando uma atmosfera retro cheia de personalidade, mas bastante consistente inserir uma obsessão da beleza perfeita, normalmente atrelada a branquitude, aqui representado pela a noção de que as mulheres negras só serão bem sucedidas se largarem sua estética natural e adotarem a chamada “chapinha” como forma de alisar os cabelos.
É claro que existe uma crítica social bastante pertinente aqui aos padrões que a sociedade impõe as mulheres negras e isto é bastante explorado pelo roteiro que aqui não tem pressa de partir direto para o terror, levando um tempinho para se desenvolver no primeiro ato. Talvez “Bad Hair” se perca um pouco por não ter uma consistência no ritmo, que oscila bastante durante a narrativa, em alguns momentos fica lenta até demais comprometendo um pouco o filme.
Ainda assim, “Bad Hair” tem qualidade interessantes, principalmente quando o elemento de terror entra em cena. O fato de usar o cabelo liso como elemento de terror, com ecos de maldição antiga criando uma mitologia bastante interessante, o roteiro também cria um dilema para as mulheres negras da história, principalmente a protagonista Anna Bludso (Elle Lorraine) que já tem um trauma de criança com o processo de alisamento.
Em tempos de aceitação da negritude e do cabelo afro como forma de exaltar a cor negra como um todo, o filme brinca com mito da padronização e transforma o cabelo de Anna numa máquina assassina que pode as vezes arrancar risos involuntários, mas é super eficiente em dar bons sustos no expectador mais desatento e ainda criar um estilo de terror com uma vibe bem original que no geral funciona.

O elenco é consistente, a jovem Elle Lorraine (Insecure) é ótima no papel de Anna, uma personagem que luta contra seus próprios demônios pessoais, mas acaba aceitando uma transformação imposta por uma supervisora (Vanessa Williams) para tentar subir na empresa. Inclusive, existe uma sequência em que aparece transformada e é notada pelos colegas de trabalho mostra o quão a sociedade é superficial e só aceita aquilo que eles julgam aceitável para um terminado de pessoa. O resto do elenco ainda conta com nomes conhecidos como a já citada Vanessa Williams (Desperate Housewives), assim como Lena Waithe (Queen & Slim), Blair Underwood (Olhos Que Condenam), James Van Der Beek (Dawson’s Creek) e a participação dos cantores Kelly Rowland e Usher.
De uma forma geral, “Bad Hair” é um terror bom de assistir, ganha pontos pela originalidade da história, mas as vezes perde ponto por se levar a sério demais, ainda que a narrativa tenha uma espécie de humor que muitas vezes funciona, ainda que não seja universal. O longa tem uma produção caprichada, a fotografia dá um tom realmente de filme antigo, vale também elogio para ambientação dos anos 80 e como a direção consegue capturar isso bem. Em termos de terror, as cenas de morte são boas e lembram os filmes que foram produzidos entre os anos 80 e 90, por isso tem sim uma aura meio trash que funciona e o fim como a maioria dos filmes de terror deste estilo, deixa abertura para continuações, que seriam muito bem vindas, afinal o longa consegue ser um sopro de novidade em meio ao gênero difícil de agradar, mas completamente aberto para histórias originais como esta.
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