Ao sair fora da curva dos romances clichês, A Fotografia entrega uma jornada romanticamente envolvente.

O gênero de romance não é algo novo e atualmente anda complicado de vingar, talvez por causa da saturação, ou porque na maioria é direcionado para o público jovem, sem muita profundidade. Um bom filme de romance necessita uma história interessante, normalmente com um casal que tenha uma boa química e que não tenha uma história tão piegas. Em “A Fotografia” (The Photograph, 2020), a narrativa tenta exatamente sair fora dos padrões e da estrutura de um romance formulaico e talvez por isso mereça uma atenção diferente.
O interessante é que existe poucos romances direcionados ao público negro que fazem grande sucesso entre as massas, apesar de atingir bem seu público-alvo. O que se vê na narrativa de “A Fotografia” é a capacidade de se criar uma história que seja envolvente o suficiente e que atinja um público além de seu próprio nicho. Desta forma o longa dirigido por Stella Meghie (Insecure) traz duas estrelas em ascensão em Hollywood, a sempre ótima Issa Rae (Um Crime Para Dois) no papel da carismática Mae Morton e o talentoso e competente Lakeith Stanfield (Sorry To Bother You) no papel do contido Michael Block.
A narrativa de “A Fotografia” não se entrega inteiramente ao romance puro, ele existe sim na maior parte da trama, porém o drama também é algo bastante presente na história dando uma base bastante consistente principalmente para personagem de Mae Morton. A história é sobre o envolvimento de Mae e Michael, mas também é sobre o romance de Christine Eames (Chanté Adams) e Isaac Jefferson (Y’lan Noel) contada em flashbacks, duas histórias em épocas diferentes com desfechos diferentes que vão se entrelaçando principalmente porque Christine é mãe de Mae e lhe entrega cartas revelando mais sobre seu passado após seu falecimento precoce.

O maior problema de “A Fotografia” é conseguir acertar o tom desta história e seu ritmo, este último é bastante problemático, pois chega a ser cadenciado mais do que necessário, neste ponto a direção de Stella Meghie necessitava ser mais eficiente em trazer mais dinâmica no desenvolvimento da história. Os incessantes cortes e transições entre presente e passado, sem situar o expectador as vezes tornam tudo homogêneo demais, já que as paletas de cores e a fotografia não mudam muito para indicar o tempo em que os personagens se encontram.
Se por um lado o ritmo é problemático, ao menos o roteiro consegue criar uma história que bastante interessante de acompanhar. O romance entre o casal principal se desenvolve aos poucos e muito bem, o texto é muito bom em abrir espaço para que os atores possam trabalhar a química entre os personagens aos poucos, a cada novo encontro, a cada nova conversa, a cada novo olhar, tudo é muito bem dirigido neste quesito e a química entre os atores realmente ajuda neste processo, impossível não se envolver e torcer para que ambos terminem juntos, mesmo que as circunstâncias não pareçam favoráveis.
É neste ponto que “A Fotografia” se diferencia de outros romances do gênero, o roteiro prefere uma pegada mais pé no chão para esses personagens, com dramas cotidianos. Ao mesmo tempo que a narrativa mostra a complexidade e como escolhas afetam o destino de Christine e Isaac no passado, no presente temos também Mae e Michael que querem viver intensamente este romance que esta apenas começando, mas que precisam lidar com mudanças na vida de um deles que pode afetar o futuro desse relacionamento.

Os constantes conflitos são bem escritos em diálogos interessantes de assistir, ainda que sejam em alguns momentos carregados de velhos clichês que estamos acostumados a acompanhar. A narrativa não tem grandes surpresas, a segunda metade funciona melhor que a primeira metade, talvez porque os flashbacks são extensos demais, mas isso não atrapalha o resultado que ainda é bastante consistente e positivo.
Além da dupla protagonista, é importante destacar o elenco coadjuvante que é muito bom, destaque para: Rob Morgan (Mudbound: Lágrimas do Mississipi), Kevin Harrison Jr. (Luce), Lil Rel Howery (Corra!), Jasmine Cephas Jones (Ponto Cego), Teyonah Parris (Se a Rua Beale Falasse) e Courtney B. Vance (Notas de Rebeldia).
De uma forma geral, “A Fotografia” é um bom filme pelo simples fato de ser um longa com protagonistas negros que tem uma ótima química um com o outro e onde o romance é tratado de uma forma mais sóbria, com o pé no realismo, onde os sentimentos estão a flor da pele e são vividos com bastante paixão, mas precisam enfrentar as drásticas mudanças do dia-a-dia. Este filme é sobre relações amorosas, mas também é sobre escolhas e como elas podem impactar sua vida a longo prazo, pode se perceber uma certa melancolia latente na narrativa mostrando que o arrependimento pode ser devastador, mas a lição que fica é que mesmo que a vida apresente dificuldades no caminho, um sentimento como amor precisa ser vivido, intensamente.
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