Visceral! O novo longa de Paul Thomas Anderson é sua narrativa mais representativa numa produção que escancara a realidade nua e crua num futuro próximo e assustadoramente atual. A coluna Elo Preto destaca a atriz Teyana Taylor.

O cinema quando se faz político pode ser poderoso. Hollywood e outros estúdios pelo mundo, crescem em termos de arte, quando provocam e marcam quando são incisivos. Muitos filmes nos últimos anos, tem procurado ser mais politizado (não que tenham deixado de ser antes), sempre entregando tramas atuais ou de época que perpetuam ainda hoje, fazendo o público pensar e se sentir desconfortáveis enquanto assistem.
Este cinema que provoca e não tem medo, é a espinha dorsal da superprodução da Warner Bros que estreou na última semana nas salas de todo Brasil, “Uma Batalha Após a Outra” (A Battle After Another, EUA), que conta a história de um grupo de revolucionários num futuro não muito distante que realizam uma série de ataques para se contrapor a um governo autoritário.
O longa dirigido por Paul Thomas Anderson (O Mestre) é daqueles que atiçam a plateia a observar os detalhes e entender o contexto, assim como é também sobre se deixar levar por uma narrativa tão fluída que nem parece ter três horas de duração, na verdade, a sensação de terminar este filme, é nada mais do que ter anseio de querer mais daquele universo.

O mais incrível deste filme é sua capacidade de ser atual e urgente tornando cada cena tão reconhecível e ao menos tempo assustadora. O grupo revolucionário “French 75” liderado por Perfidia (Teyana Taylor) e Bob (Leonardo DiCaprio) funciona como uma célula de resistência que liberta imigrantes de prisões, invade bancos tocando o terror e causa instabilidade por onde passa em constantes ataques organizados.
O primeiro ato funciona como um grande e frenético cartão de visitas de uma trama que não descansa, com o expectador não sabendo exatamente em tempo passa aquela história, mas se vê que é algo próximo da nossa realidade. O humor e ação se intercalam de forma dar ritmo a uma narrativa que tem poucos respiros e um sentimento de perigo eminente.
É curioso como o roteiro escrito pelo próprio Paul Thomas Anderson corre risco ao trazer a paleta étnico cultural para o contexto da narrativa, ao colocar este grupo diverso formados por brancos, negros, outras etnias e gêneros fluídos, em rota de colisão contra um governo que vai sendo revelado aos poucos como conservador, racista e xenofóbico bastante semelhante as ideias do atual presidente que governa um certo país da América do Norte.

Existe aqui um senso de colocar o dedo na ferida enquanto acompanhamos a construção do envolvimento de Perfidia e Bob, que tem uma reviravolta com a inserção obsessiva do vilanesco Coronel Steven J. Lockjaw (Sean Penn), que é o antagonista que persegue o grupo revolucionário na intenção de elimina-los de uma vez por todas.
É interessante entender que “Uma Batalha Após A Outra” é um filme que tem estilo, é graficamente vibrante e utiliza esse contexto étnico político para tecer críticas e escancarar a hipocrisia da política atual. Confesso que inicialmente fiquei assustado na forma como Anderson sexualiza a personagem de Perfidia, mas posteriormente entendemos a personalidade forte da personagem é o fio condutor que vai potencializar toda a segunda metade da narrativa.
A verdade é que estamos diante de um filme muito bem produzido carregado pela trilha sonora magnifica de Jonny Grenwood (Licorice Pizza) que pauta cada cena elevando e abaixando a tensão de forma orquestrada ajudado por uma montagem impecável de Andy Jurgensen (Licorice Pizza), somado isto a uma direção em estado de graça de Anderson.

O fato é que o longa prende a atenção, mas não pode ser simplificado como apenas um thriller revolucionário de ação, as camadas complexas características dos filmes de Anderson, estão lá, como um estudo de personagem que torna os personagens complexos, sem pudores, capazes das maiores atrocidades ao mesmo tempo que entendem que estão travando uma guerra sem fim.
E falando do elenco, é impossível não citar que o filme tem grandes atuações em cada centímetro da trama. Teyana Taylor (Mil e Um) é sensacional no papel de uma personagem emblemática, porra loca, complexa e cheia de tesão. Daquelas mulheres pretas fascinantes, que possui defeitos, mas sabe o que quer. Taylor é visceral em muitos aspectos e merece toda atenção que está tendo.
É importante destacar como as mulheres pretas são forças da natureza em “Uma Batalha Após a Outra”, carregadas de sentimentos, raiva, força e sem amarras. Além de Teyana, Regina Hall (Support The Girls) é outra atriz que merece destaque, mesmo com um tempo menor de tela, seu sentimento e comprometimento com a causa e seus conflitos internos são sentidos em cada cena que sua personagem Deandra aparece.
Outro grande destaque vai para revelação Chase Infiniti (Acima de Qualquer Suspeita) no papel da filha de Perfidia e Bob, que acaba tomando conta da segunda metade do longa com uma força e altivez de dar inveja a muito ator veterano. Infiniti atua de forma fascinante, uma jovem filha de revolucionários que tem uma firmeza e segurança no olhar e que parece que a qualquer momento está preste a assumir um papel importante fazendo jus ao legado dos pais.

Por outro lado, temos Leonardo Di Caprio (Assassinos da Lua das Flores) em outro papel memorável, cômico e humano na medida, que deve lhe render outra indicação ao Oscar. Benicio Del Toro (Sicário: Terra de Ninguém) no papel do sensei Carlos é daquelas atuações deliciosas de assistir, carismático e sempre no controle da situação. Porém, o maior destaque, que talvez se compare com Teyana Taylor, é Sean Penn (Milk) no papel do Coronel Lockjaw, um vilão nojento, maluco e racista que se vê na situação inusitada ao ser considerado para entrar no seleto grupo do alto escalação do governo. Penn é simplesmente aterrorizante.
É nesta linha que a obra se torna uma narrativa relevante, ao mostrar como neste futuro o governo autoritário trata imigrantes os colocando em campos de concentração, bem como deixa claro o quão racistas são aqueles que apoiam o governo. As linhas de diálogos são tão extremamente sinceras e incomodas em determinados momentos, com destaque uma cena na reunião de supremacistas brancos para decidir o futuro de um de seus futuros membros, que fica impossível um leigo não entender a mensagem e o quão errado é aquele tipo de regime.
De uma forma geral, “Uma Batalha Após A Outra” é um filme surpreendente, daqueles clássicos modernos que merecem a denominação. Equilibrando ação, comédia e suspense, talvez este seja o elenco mais diverso da carreira de Paul Thomas Anderson e também um dos mais importantes por ser uma narrativa totalmente Anti-Trump trazendo uma temática atual e provocativa. Com uma direção muito bem executada (aquela sequência final de perseguição é de aplaudir de pé), tensão nas alturas, atuações marcantes e um conjunto da obra impecável, temos aqui um dos filmes mais espetaculares do ano.

Elo Preto
Personagem: Perfidia
Atriz: Teyana Taylor
Idade: 34 anos
O destaque da coluna de hoje vai para atriz norte americano nascida em Nova York no Harlem, Teyana Taylor, que rouba a cena na primeira metade de “Uma Batalha Após A Outra” com uma personagem extraordinária, intensa e provocativa que é o centro de uma revolução seja para o bem ou para o mal dela. Taylor entrega uma atuação hipnótica que é sentida até quando não está em tela. A atriz é cantora, dançarina e modelo, começou a se destacar a pouco tempo em Hollwood em produções como a aclamada longa “Mil e Um”, as comédias “Um Príncipe em Nova York 2” e “O Livro de Clarence”, além do recente “Até a Última Gota”. A atriz será vista em breve no filme de Joe Carnahan protagonizado por Bem Affleck e Matt Damon, “The RIP”, além do filme dirigido Tim Story, “72 Hours”, bem como a série do Ryan Murphy, “All’s Fair”.
Gostou? Veja o trailer do longa abaixo e comente sobre o que achou do filme se já conferiu no cinema.



