Emocionante! Baseado em fatos e dirigido por Tyler Perry, este longa de guerra é cercado de clichês, mas através da sua forte premissa e boas atuações, acompanhamos a trajetória de mulheres negras que fizeram história na Segunda Guerra Mundial.
| Uma Indicação ao Oscar 2025 |
|---|
| Melhor Canção – “The Journey” – Performance por H.E.R – Escrita por Diane Warren |

Existe uma engrenagem que move o mundo, esta engrenagem normalmente é invisível, mas crucial para funcionamento de coisas básicas que ajudam a funcionar o todo. Nas entrelinhas, muitas pessoas fazem parte da história, mas as vezes nunca são reconhecidas da forma correta como parte do sucesso, mas elas permanecem lá, até que sejam lembradas por historiadores e outras mídias, como o cinema, que resgatam histórias incríveis que inspiram e merecem ser contadas.
Uma dessas histórias, que inclusive fazem parte da analogia da engrenagem citada acima, está sendo contada na superprodução da Netflix, “Batalhão 6888” (The Six Triple Eight, 2024), longa baseado em fatos inspirado nos relatos do artigo “Fighting a Two-Front War”, que estreou no último dia 20 e conta a história do batalhão de mulheres negras que recebeu uma tarefa quase impossível durante o período da Segunda Guerra Mundial, catalogar e entregar cartas de soldados a seus familiares que estavam sem notícias desde o começo do conflito.
O filme dirigido e escrito por Tyler Perry (Mea Culpa) traz todos os elementos do gênero de uma forma bem feita, a começar pela boa ambientação com um design de produção caprichado, maquiagem e figurino bem feitos, uma boa trilha sonora que tem até mesmo a ótima canção “The Journey” cantada por H.E.R e escrita por Diane Warren nos créditos finais, além de razoáveis efeitos visuais que conseguem retratar bem as escassas, porém sólidas sequências de ação e combate na guerra.

Neste ponto técnico “Batalhão 6888” é um acerto, dentro das suas limitações é claro, porém a narrativa do longa sofre um pouco para abraçar seu lado cinematográfico sem que caia no clichê novelesco típico das produções de Perry. Explico, o filme conta a história primariamente de Lena Derriecott King (Ebony Obsidian), uma jovem negra que se apaixona por um rapaz judeu branco chamado Abram David (Gregg Sulkin) que está preste a ir para guerra, mas tem sua vida mudada após uma tragédia que a leva a se alistar no exército para servir seu país.
O primeiro ato do longa é basicamente um romance com ecos de guerra que foca no desenvolvimento da protagonista, enquanto alimenta uma subtrama das cartas escrita por soldados no front de batalha que nunca chegam as famílias, uma específica de um jovem que morreu em batalha que parece ter algum significado para trama.
O mais difícil para Perry aqui talvez não seja seu papel como diretor, onde o cineasta acerta mais que erra, porém em termos de roteiro, os diálogos carregados de frases de efeito e patriotismo barato atrapalham um pouco a imersão. Falta a Tyler maturar melhor a forma como os personagens entregam certas frases, que só soam autênticas, quando a parte racial do filme fica mais evidente, afinal estávamos num período de segregação pesada nos EUA.

O filme ganha pontos por expor não somente o racismo no exército em relação as pessoas negras, mas principalmente as mulheres negras, que sofrem pela cor da pele e também pelo sexismo num ambiente masculinizado onde subestimavam até mesmo suas capacidades intelectuais duvidando se conseguiriam exercer suas funções como soldadas, enquanto mulheres brancas ganhavam missões sem este tipo de questionamento.
O fato é que “Batalhão 6888” se eleva quando foca sua trama no batalhão em si, abrindo espaço para personagens como a Major Charity Adams (Kerry Washington), responsável por recrutar e treinar aproximadamente 855 soldadas negras para o exército dos EUA. Assim como Lena, outras recrutas começam a se destacar como Capitã Campbell (Milauna Jackson), Bernice Baker (Kylie Jefferson), a ousada Johnnie Mae (Shanice Shantay) e Dolores Washington (Sarah Jeffery), esta última por sinal traz a questão do colorismo por um breve momento no filme, porém não é explorado de forma mais profunda, infelizmente.
A face do racismo no filme é representada pelo General Halt (Dean Norris), mas vozes mais progressistas representado pelo presidente Roosevelt (Sam Waterson) e sua esposa Eleanor (Susan Sarandon), além da educadora e ativista negra dos direitos civis, Mary McLeod Bethune (Oprah Winfrey), são responsáveis por retirar o Batalhão 6888 do ostracismo e leva-los para Europa na missão de fazer as correspondências chegarem nas casas dos norte-americanos.
É por conta deste fator motivacional que a narrativa cresce, a dinâmica da Capitã Charity com suas soldadas de chegar num continente desconhecido para muitas ali, transformar o lugar que teriam usar como quartel general, bem como entender como identificar, catalogar e criar mecanismos para entregar as cartas. Mesmo com Halt e outros soldados brancos tentando sabotar toda ação dessas bravas mulheres que muitas vezes atuavam em condições precárias sofrendo humilhações com um prazo insano de seis meses para finalizar a tarefa.

Aqui vemos uma certa maturidade de Tyler Perry na direção, ainda que os clichês inundem a tela e alguns personagens sejam bem estereotipados, notasse um respeito em contar a história dessas mulheres da melhor forma possível. É neste ponto que as atuações de Kerry Washington (Django Livre) e Ebony Obsidian (Wu-Tang: An American Saga) se destacam, a primeira pela altivez e firmeza enfrentando racismo e machismo, enquanto a segunda pela sensibilidade e senso de justiça, mesmo sofrendo por conta de uma perda. Ambas atrizes entregam atuações sólidas.
De uma forma geral, “Batalhão 6888” é um ótimo filme, talvez soei genérico e mais do mesmo em alguns momentos, porém existe um esforço para entregar o melhor produto onde o longa dirigido por Tyler Perry acerta, o cineasta é bom salientar entrega seu melhor trabalho em muito tempo. Com atuações consistentes e uma produção caprichada, temos um filme que é tocante por conseguir mostrar a história de personagens que ajudaram a mudar os rumos da guerra de uma forma motivacional, inteligente e inspiradora.
Mulheres negras com uma força tremenda para enfrentar as dificuldades e entraves sócio raciais para cumprir seu dever cívico numa narrativa desconhecida por muitos, mas que ganha holofotes merecidamente em um filme que prende do início ao fim. As imagens nos créditos são lindas e é impossível não se emocionar com os vídeos reais, mostrando o grande feito dessas personagens que não só fizeram história, mas provaram que contra todas as adversidades serem capazes de levantar o ânimo de uma nação inteira.
Gostou? Veja o trailer abaixo e comente sobre o que achou do filme.


2 comentários sobre ““Batalhão 6888” – Crítica”