The Vince Staples Show” – 1° Temporada – Crítica

Quando a ficção e realidade se misturam. A série de Vince Staples usa de forma inteligente o surrealismo para tecer boas críticas sociais em meio a um cotidiano caótico.

Fonte: Netflix

O dia-a-dia as vezes pode ser imprevisível, começa bem, com todas as coisas planejadas dando certo, mas de repente tudo muda num piscar de olhos, terminando de uma maneira que inesperada. Produções que retratam este tipo de situações normalmente conseguem capturar a complexidade da vida humana e seus percalços na sua melhor forma possível, assim como trazer reflexões pertinentes ao momento em que vivemos em uma determinada época.

Menciono isto, para falar de “The Vince Staples Show”, nova dramédia da Netflix baseado na vida do rapper/ator Vince Staples (Abbott Elementary), que fez sucesso nos EUA, mas ainda é pouco conhecido do público global. Porém, isto deve mudar com esta narrativa que conta a história cotidiana do rapper e suas peripécias desafortunadas na região de Long Beach, cidade onde nasceu.

O mais importante aqui é ir de peito aberto assistir a este seriado, que claramente é um drama com toques de comédia que possui momentos estranhos, engraçados e simplesmente bizarros que resultam em algo mínimo intrigante. Esta última palavra define bem o piloto “Pink House” (1×01), quando Vince é detido por excesso de velocidade e fica preso na delegacia enquanto tenta formas diferentes de tentar pagar sua fiança.

Fonte: Netflix

O senso de normalidade torna o seriado algo curioso de acompanhar, talvez o primeiro episódio consiga em parte trazer um frescor de novidade, mas o que funciona inicialmente mesmo é o humor, que talvez não seja tão universal. Porém se está acostumado com comédias direcionadas ao público negro estadunidense, esta aqui irá encaixar como uma luva em suas preferências, pois consegue misturar boas referências a cultura pop preta e linguajar do gueto de uma forma engraçada e absurda.

Muito de “The Vince Staples Show” surpreende, devido a semelhança de estilo com a premiada série “Atlanta”, na forma como conta sua história. Assim como a série de Donald Glover (que contribuiu criativamente com o próprio Staples na concepção do seriado), o surrealismo urbano domina os episódios para criar um humor esperto e afiado, cheio de personagens inusitados, que só vai ficando melhor a cada nova história.

Em “Black Business” (1×02), por exemplo, quando Vince vai ao banco tentar um empréstimo e lugar acaba sendo roubado por conhecidos dele, é simplesmente emblemático a forma como a série consegue equilibrar bem as maiores loucuras com um tom bem humorado que resulta em comentários sociais e uma franqueza de espirito impressionante num texto que não para de surpreender. Afinal não é todo dia que vemos George Clooney e Queen Latifah sendo referenciados numa mesma frase em um dos momentos mais antológicos da série.

Fonte: Netflix

E o tom cômico só fica melhor em “Brown Family” (1×03), que é o ponto em que o texto confia que o expectador está mais acostumado ao estilo da narrativa, se arrisca os jogando no meio de uma festa familiar cheia de conflitos em sequências engraçadíssimas típicas de famílias negras, que não levam desaforo para casa e resolvem suas desavenças sem filtro. E o legal é que a série sabe não se levar a sério e sabe usar sua suposta normalidade para transitar entre gêneros.

O texto de “The Vince Staples Show” é o principal chamativo da produção, mas a direção também é um ponto forte principalmente quando flerta com o suspense como no intrigante e bizarro episódio “Red Door” (1×04), quando Vince vai ao parque de diversões com sua namorada Deja (Andrea Ellsworth) e os parentes dela comemorar um aniversário, e acaba se perdendo num labirinto de caminhos e pessoas estranhas como vai comprar um simples lanche. É através desse surrealismo que percebemos que estamos testemunhando algo único e especial, muitas vezes bem fora da realidade.

Como todos artistas negros nos EUA, as oportunidades não surgem de uma hora para outra e Vince Staples aproveita bem a oportunidade oferecida pela Netflix para entregar uma série que co-escreve e atua de uma forma exemplar conseguindo oferecer um entretenimento inteligente, bem escrito e cheio de personalidade.

Fonte: Netflix

De uma forma geral, “The Vince Staples Show” é uma série inusitada, que segue por caminhos enigmáticos enquanto examina a nada comum vida de Staples neste cotidiano chamado vida. Particularmente acredito que a série surpreende por ter uma produção caprichada, bem dirigida, com boas atuações, ótimos personagens e situações tão absurdas que fica difícil descrever, você precisa ver para crer.

O episódio final “White Boy” (1×05) é a cereja do bolo de uma narrativa urbana, que ainda guarda seus perigos, mas entrega uma dramédia com potencial que usa seu microverso para falar sobre privilégios de classe, fama e negritude pelo ponto de vista ficcional tendo uma base real. O resultado é uma das comédias mais bacanas e pessoais do ano que merece a oportunidade de ser descoberta pelo público que está órfão de Atlanta, ou que está sentindo falta de um entretenimento de qualidade. Neste ponto o seriado é um verdadeiro achado.

Gostou? Veja o trailer e comente se já conferiu a temporada.

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