“Só Se For Por Amor” – 1° Temporada – Crítica

Pouco divulgada, esse romance nacional regado a música da boa promete te surpreender com uma trama simples, interessante, movimentada, com um elenco talentoso e que mostra que séries brasileiras tem muito espaço nos streamings para entregarem algo de qualidade.

Fonte: Netflix e Camisa Listrada

Estamos vivendo numa era com um turbilhão de conteúdo saindo toda semana. A guerra de streamings tomou proporções gigantescas com tantos produtos que variam entre séries, filmes e especiais, que o expectador comum não consegue acompanhar mais. Desta forma, passa a funcionar um filtro mental do público, onde as séries mais hypadas são vistas (Stranger Things, House of the Dragon e Os Anéis do Poder) e as séries mais modestas são esquecidas (The Umbrella Academy, Paper Girls e Locke & Key) e pouco comentadas.

Digo tudo isso, para falar da nova produção nacional da Netflix em parceria com a produtora brasileira Camisa Listrada, “Só Se For Por Amor” que estreou dia 22 de setembro, com pouca divulgação e uma história que com certeza tinha todo potencial para viralizar, o seriado acabou sendo ofuscado por outras estreias, mas acabou sendo vista por aqueles que vos escreve e que agora vai dar o veredito do saldo da temporada para que você tenha oportunidade de conferir.

A trama criada por Luciano Patrick (A Vida Secreta dos Casais) e com colaboração de João Falcão (Nada Será Como Antes), Isabel Falcão e Fábio Montanari, conta a história de Deusa (Lucy Alves) e Tadeu (Filipe Bragança), um casal apaixonado que decide criar uma banda com os amigos Valdo (Micael Borges), Patrício (Giordano Castro) e Nelton (Adriano Ferreira), porém após a morte de um cantor sertanejo famoso, a banda viraliza com vídeo de uma música dele na internet chamando a atenção de uma gravadora famosa de Goiânia que pode levar ao surgimento de uma estrela, assim como um conflito interno na banda recém formada.

Fonte: Netflix e Camisa Listrada

O que você precisa saber sobre “Só Se For Por Amor” é que a produção possui uma qualidade técnica impecável, mostrando que a Netflix esta disposta em investir em produções nacionais com conteúdo sem parecer caça níquel. Se com o fenômeno “3%” o Brasil começou a chamar atenção lá fora no formato, as produções recentes como esta começam a consolidar todo um potencial narrativo que se esforça para capturar características da nossa cultura, neste caso o sertanejo, que permeia por toda a trama que além de drama, traz todo um aspecto musical.

A narrativa em sua essência é clichê, fala sobre o eterno sonho de alguns brasileiros de se tornarem famosos através da música e o roteiro foca exatamente nessa busca pela fama e como ela pode transformar a vida de uma pessoa da noite para o dia. Ao assistir ao piloto “Não Teve Tchau, nem Despedida” (1×01), podemos notar como Luciano estabelece bem aquele universo, com personagens cheio de personalidade, um clima amigável e uma trilha sonora regada a muita música sertaneja.

O seriado foca em várias tramas e subplots, isso mantém o interesse do expectador o tempo todo. Enquanto acompanhamos os conflitos e jornada de Deusa e Tadeu com a banda que posteriormente ganha o nome que dá o título a série, a trama da jovem Eva (Agnes Nunes) começa a ser moldada em paralelo quando acompanhamos sua jornada de se tornar uma grande compositora e fazer uma música que compôs estourar.

Fonte: Netflix e Camisa Listrada

À medida que vamos avançando, percebemos uma história que bebe muito da aura novelesca que o Brasil tem, mas de certa forma consegue se encaixar no formato de série ao conseguir imprimir um ritmo que desenvolve bem seus personagens e seus arcos, mesmo que algumas construções sejam bem previsíveis. Ao usar de ganchos para deixar seu público engajado, a série consegue envolver usando clichês do gênero, mas sem subestimar a inteligência do expectador.

A série explora muito a indústria da música brasileira e como ela consegue adquirir e descartar um talento sem nem pensar duas vezes. Nos episódios “Dona de Mim” (1×02) e “Só Eu Amei, Você Não Me Amou” (1×03) vemos Deusa trilhar um caminho oposto do seu amado ao surgir uma oportunidade de virar uma grande cantora, enquanto Tadeu, precisa seguir com a banda e achar uma nova vocalista para suprir a falta da amada que parece distanciar cada vez mais dos sonhos que construíram.

A narrativa faz boas críticas sobre como a fama instantânea pode mudar e como a ambição pode acabar com a índole de uma pessoa à medida que as coisas vão acontecendo no âmbito profissional. O seriado não para por aí, o mais bacana aqui é como Luciano Patrick traz uma quebra de conservadorismo que o gênero sertanejo carrega, ao colocar plots que não só exaltam o valor da música, mas como as pessoas envolvidas neste meio são plurais.

Fonte: Netflix e Camisa Listrada

Então espere tramas batidas sobre traição, dor de corno e outras podreiras que carregam a maioria das canções desse gênero, mas espere também outras que falam sobre aceitação com arcos envolvendo personagens negros e lgbts que aqui são inseridos de forma orgânica onde os gêneros convivem em harmonia e o principal objetivo aqui é mostrar que o amor vem de várias formas e várias vertentes.

Outros pontos pertinentes, é o fato que a série abraçar seu lado musical com uma trilha sonora impecável que traz um elenco talentoso que solta a voz sem medo com performances que devem arrancar o sorriso no rosto de quem é fã de Marília Mendonça (a série parece uma grande homenagem a essa estrela que se foi tão cedo), Pabllo Vittar e quem é fã do gênero sertanejo em si, com reinterpretações de várias canções conhecidas que são muito bem entoadas.

E seguindo essa linha, não tem como falar dos talentos envolvidos aqui, Lucy Alves (Velho Chico) no papel de Deusa é uma escolha bastante feliz, essa atriz negra que também é cantora brilha num papel complexo, que nos faz questionar e as vezes até torcer contra quando a personagem começa a crescer na carreira, como fica claro no episódio “Exclusividade” (1×04), onde Deusa tem seu ápice no início da carreira e seu relacionamento com Tadeu fica em risco.

Fonte: Netflix e Camisa Listrada

Outro destaque é Filipe Bragança (Dom), o ator com pinta de galã que se mostra muito seguro como co-protagonista que também entrega boas performances musicais. Temos ainda Micael Borges (Rebeldes) e Adriano Ferreira no papel de Valdo e Nelton, meio irmãos que estão na banda de Tadeu e que também tem arcos narrativos interessante, sendo Adriano o grande destaque aqui ao abraçar sua sexualidade conseguindo fazer um dos sub arcos mais bacanas de acompanhar da reta final da temporada.

Temos ainda Giordano Castro, Jeniffer Nascimento, Clarissa Müller, Laila Garin, Gustavo Vaz e Ana Mametto reforçando um elenco que está em completa sintonia que transparece em tela. Inclusive um destaque inesperado aqui é Agnes Nunes, a jovem cantora que estreia como atriz, tem uma voz hipnotizante e uma inocência que encanta em tela, sem falar que sua química com metade do elenco faz da garota uma ponte entre tramas que ajudam a movimentar o cerne da história que acabam por colocar a mesma nos centros das atenções nos episódios finais.

Por tudo aquilo que foi comentado, “Só Se For Por Amor” é daquelas surpresas que você não espera, mas acaba entregando mais do que promete. Com uma pluralidade e diversidade racial permeando por toda a obra numa história sobre sucesso, fama, desejos e paixões avassaladoras que em seis episódios consegue encantar e deixar um gostinho de quero mais depois de uma avalanche de emoções nos episódios “Fingindo Que Superou” (1×05) e final de temporada “Acidentes Acontecem” (1×06).

Fonte: Netflix e Camisa Listrada

Com uma produção caprichada, fotografia impecável, trilha sonora que promete ficar no seu “repeat” no spotify, além de boas atuações, sem falar na direção (todos episódios dirigidos por mulheres) muito bem executada, mesmo que as vezes os diálogos necessitem de mais polimento, mas no geral temos aqui uma série que merece ser assistida e descoberta como produto nacional de qualidade que é feita com esmero e muito cuidado, mas também feita para resgatar o melhor de nós brasileiros, o calor humano.

Elo Preto

Personagem: Eva
Atriz: Agnes Nunes
Idade: 20 anos

O destaque da coluna de hoje é a cantora e agora atriz Agnes Nunes, a personagem Eva tem um passado misterioso e vai para Goiânia buscar a fama como muitos que querem fazer sucesso no gênero sertanejo, com trejeitos de inocência e uma esperteza aguçada, as características do papel caíram como uma luva para a atriz. Nunes é jovem, mas com talento vocal assombroso, senão conhece as músicas dela, ouça “Pode se Achegar”, “Lisboa”, “São Paulo” e “Cida”. É claro que Agnes ainda precisa se consolidar como atriz, mas em “Só Se For Por Amor” é um início muito promissor para uma jovem negra que tem tudo para se destacar no cenário nacional. 

Gostou? Veja o trailer abaixo e comente se já conferiu a primeira temporada.

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