Mais sombria, adulta e com escopo maior, a série mais popular da Netflix atualmente entrega uma temporada de tirar o fôlego, boas atuações e sequências espetaculares.

Uma série popular não fica popular por acaso, as vezes é instantâneo e as vezes cresce aos poucos durante o tempo. A série “Stranger Things” possui um pouco dessas duas coisas, começou como um grande sucesso de um dia para noite e a cada temporada foi crescendo em escopo, mistérios e reviravoltas se tornando um verdadeiro fenômeno para Netflix, conseguindo chegar num patamar que apenas séries como Lost ou Game of Thrones conseguiram atingir em suas respectivas épocas.
Após três temporadas, dois anos de hiatos devido a pandemia de Covid, finalmente estreou no dia 27 de maio a quarta e aguardada temporada da série protagonizada por Onze (Millie Bob Brown) e seus amigos de Hawkins enfrentando ameaças sobrenaturais enquanto vivem as mudanças e transições de crianças para adolescentes.
Ao se dividir em duas partes, ganhamos em expectativas e surpresas, além de uma jornada épica com sete episódios chegando no Volume 1 e mais dois episódios no Volume 2 com um intervalo de um mês. No momento em que você ler esta crítica, a segunda parte da temporada já deverá ter sido lançada no dia 1° de julho. Este texto será especialmente dividido em duas partes e mais um veredicto.
Volume 1
“Um vilão assustador e vários arcos narrativos empolgantes”

A nova temporada de “Stranger Things” começa basicamente um ano após os eventos no shopping de Hawkins, muita coisa mudou e essas mudanças já são percebidas de uma forma bastante significativas neste novo ano. A quarta temporada chegou com a expectativa de ter episódios mais longos, o que deixou alguns fãs e a pessoa que vos escreve receosos que isto poderia prejudicar o ritmo da narrativo da série e resultar numa enrolação tremenda.
Depois de assistir aos episódios, posso dizer que a série soube estabelecer um bom ritmo e conseguiu em diversos momentos não soar tão lenta, mas ao invés disso trouxe dinâmica envolvente isso já estabelecido no episódio “Capítulo 1: Clube Hellfire” (4×01) onde vemos o retorno do elenco principal com Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) agora no primeiro ano do high school em Hawkins tentando se encaixar entre nerds e populares da escola.
A outra narrativa acompanha Onze (Millie Bobby Brown) agora vivendo com a família de Will Byers (Noah Schnapp) na Califórnia passando pelos mesmos problemas no high school que os amigos da antiga cidade. A história também acompanha Max (Sadie Sink) na sua jornada pessoal tentando superar a perda do irmão na última temporada. Perda também que acompanha Joyce (Winona Ryder) que após a suposta morte de Jim Hopper (David Harbour), recebe um pacote misterioso vindo da Rússia abrindo um vão para um novo mistério que dá pontapé a temporada.

Talvez o grande trunfo de “Stranger Things” aqui seja não apressar as coisas e entregar os mistérios aos poucos, se no primeiro episódio os irmãos Duffers estabelecem uma nova atmosfera para suas crianças crescidas, nos episódios seguintes “Capítulo 2: A Maldição de Vecna” (4×02) e “Capítulo 3: O Monstro e a Super-heroina” (4×03) eles e seus roteiristas introduzem novos mistérios calcados no suspense e no terror numa homenagem explicita aos clássicos filmes de terror dos anos 80, como “A Hora do Pesadelo”, “Candyman”, dentre outros do gênero.
A figura do vilão Vecna (Jamie Campbell Bower) é um ponto positivo que surge como um grande mistério nesta nova temporada e uma ameaça ainda mais perigosa que as anteriores que vai ganhando força à medida que vamos avançando na história. Ao dividir a série em pequenos arcos narrativos, ganhamos bastante em movimentação de tramas em uma série que só cresce em mitologia e grandiosidade, mas sem esquecer o desenvolvimento de seus personagens resultante em ótimas cenas de drama.
E digo isso citando a personagem Max, que nesta temporada é um dos grandes destaques e o cerne do episódio mais marcante da série até então e um dos mais poderosos narrativamente falando revelando um talento dramático bem vindo da jovem Sadie Sink (Rua do Terror: 1978). Em “Capítulo 4: Querido Billy” (4×04) vemos até onde a força do texto do seriado pode chegar, conseguindo construir um episódio cheio de ação, suspense, riscos com um final no mínimo brilhante.

E a série não para por aí, apesar do episódio “Capítulo 5: O Projeto Nina” (4×05) mostrar que a temporada não é perfeita e que as vezes se estende demais em flashbacks ao explorar o passado de Onze, tornando a jornada um pouco maçante, somos compensados com a progressão sólida do arco de em Hawkins à medida que Dustin, Robin (Maya Hawke), Steve (Joe Keery), Nancy (Natalia Dyer) e Lucas se aproximam dos assassinatos que ameaçam a paz na cidade.
Outro arco que tem um começo problemático é o arco da Rússia que acompanha Joyce e Murray (Brett Gelman), porém toda a jornada de resgate de Hopper em terras comunistas começa a ficar melhor a partir do momento que chegam na prisão. O episódio “Capítulo 6: O Mergulho” (4×06) é o estopim que dá um gás final a primeira parte da temporada que só aumenta a ambição de sua história trazendo momentos espetaculares e revelações ainda mais surpreendentes.
O fato é que “Stranger Things” se transformou num blockbuster de verão norte americano se mostrando caro e gigantesco a cada novo capítulo, isso fica nítido desde a fotografia deslumbrante, passando pelas grandiosas cenas de ação e efeitos visuais e práticos, até chegar na trilha sonora pomposa que transformou a música “Running Up That Hill (A Deal with God)” da cantora Kate Bush em um verdadeiro fenômeno de vendas 37 anos desde seu lançamento mostrando a força da série em catapultar outros produtos.

No geral o volume 1 da quarta temporada cumpre tudo aquilo que esperamos da série e muito mais, sem falar que o “Capítulo 7: O Massacre no Laboratório Hawkins” (4×07) é um final antecipado cheio de emoção, grandes revelações costurando um ambicioso arco narrativo que se mostra um desafio para os personagens e uma jornada emocional para todos os expectadores criando uma hype muito alto para os dois episódios finais entregando um gancho de tirar o fôlego.
Volume 2
“A conversão de histórias, um épico de milhões e o começo do fim”

A estreia do Volume 2 no último dia 1° de julho estava cercado de teorias e ansiedades por parte dos fãs da série, os episódios finais prometiam a mesma ambição do episódio 7, mas com uma jornada ainda mais intensa e com a chance de morte para seus protagonistas nos dois últimos capítulos da quarta temporada.
O mais interessante aqui é que os episódios “Capítulo 8: Papai” (4×08) e o épico final de temporada “Capítulo 9: E o Plano de Onze” (4×09) trazem grandes resoluções apesar de estenderem muito em alguns momentos. Veja bem, ao criar várias histórias que acabam se cruzando em um determinado momento, corre-se se um risco da história se prolongar mais do que deve, a verdade é que isso aconteceu, mas devido a pretensão dos irmãos Duffers que apostaram em dar simbólicos momentos para personagens como Onze, Lucas, Max, Eddie Munson (Joseph Quinn) dentre outros importantes personagens, a série ganha em apelo emocional em uma montanha russa de emoções, ao mesmo tempo que entrega ação e aventura da boa nos deixando na ponta do assento.
Enquanto o penúltimo episódio traz um bem vindo desfecho para o arco de Eleven e do doutor Martin Brenner (Mattew Modine) entregando uma sequência final de tirar o fôlego e talvez uma das melhores da personagem em toda a série usando seu poder mental, o último episódio é a execução de um plano para destruir Vecna que explora não só riscos e tensões sofrida entre os protagonistas, como consegue mostrar um capítulo final coerentemente bem dosado em uma temporada que amadurece seu texto numa jornada bastante consistente, assim como bem desenvolvida fazendo convergir todos os arcos de uma forma bem orgânica e apoteótica.

O volume 2 é a consolidação magistral de uma trama que dá ignição a um final que promete ser intenso, revelador e um divisor de águas para Mike, Will, Eleven, Lucas, Erica, Robin e outros personagens que habitam a pequena Hawkins.
Veredito
“A série evento do ano”

A quarta temporada de “Stranger Things” é a melhor até agora, ainda que a série tenha se arriscado ao trazer episódios com mais de 1 hora e 20 de duração, o roteiro soube explorar suas qualidades a começar pelo forte apelo do público com os personagens principais. Ao trazer suspense, terror e amadurecimento, a série continua sua crescente desde a primeira temporada acompanhando o crescimento do núcleo principal criando um vínculo emocional difícil de desvencilhar. Uma série que entrega grandes cenas de ação, drama nos momentos certos, nostalgia, aventura, trilha sonora de qualidade e um controle narrativo invejável fazendo jus ao fenômeno que se tornou. Ao deixar dois grandes ganchos para o último ano, o seriado abre um leque de possibilidades que só deixam as expectativas ainda mais altas, porém se forem metade da qualidade apresentada neste quarto ano, a temporada derradeira promete ser ainda mais fantástica e espetacular.

Elo Preto
Personagem: Lucas Sinclair
Ator: Caleb McLauglin
Idade: 20 anos
O destaque da nossa coluna de hoje é o ator Caleb McLauglin, o ator que faz o personagem Lucas Sinclair cresce bastante neste quarto ano, surgindo em um dilema entre deixar os amigos nerds, ou se tornar um jogador de basquete na escola e se tornar um dos populares. A verdade é que Sinclair foi um desafio para Caleb neste quarto ano, tanto na forma dúbia que o personagem se mostrou no Volume 1, quanto na parte dramática com sua relação com Max no Volume 2. O ator mostrou aqui que sabe atuar e está pronto para outros papéis. Caleb teve destaque em “Stranger Things”, mas já apareceu em um filme protagonizado por Idris Elba (Vingança & Castigo) chamado “Alma de Cowboy” da Netflix, o ator poderá ser visto em breve em “The Deliverance” onde atua ao lado de Glenn Close e Rob Morgan (A Fotografia).
Gostou? Veja o trailer do Volume 2 abaixo. Se já assistiu, diga o que achou nos comentários.



4 comentários sobre ““Stranger Things” – 4° Temporada – Crítica”