“O Canto do Cisne” – Crítica

Arrebatador! Com uma premissa interessante, este drama protagonizado por Mahershala Ali levanta o questionamento sobre prolongamento da vida tendo como pano de fundo a decisão mais importante da vida de um pai em relação a sua família.

Fonte: Apple TV Plus

Se você pudesse prolongar sua vida, você faria? Se você pudesse transferir sua mente para outro ser viver sua vida, você faria? A humanidade esta preparada para viver com clones? Estas perguntas são levantadas durante o filme “O Canto do Cisne” (Swan Song, 2021), nova produção da Apple TV Plus que chega como aposta do streaming para tentar concorrer ao Oscar nesta temporada de premiações.

O longa é protagonizado pelo ator duas vezes vencedor do Oscar, Mahershala Ali (Moonlight – Sob A Luz do Luar), contando a história desse pai (Ali) que descobre ter uma doença terminal, resolvendo entrar para um experimento onde é clonado e assim ganhar a oportunidade de evitar outra perda trágica na família que deixe sua esposa grávida Poppy (Naomie Harris) e seu filho Cory (Dax Rey) desamparados.

Uma coisa que precisa ser dito antes que você embarque neste filme, é que “O Canto do Cisne” não é uma narrativa que vai entrar nas polêmicas sobre clonagem humana, sobre os efeitos éticos desta prática, ou suas consequências. O roteiro escrito por Benjamin Cleary que também dirige pega esta premissa e explora os aspectos humanos e dramáticos do conceito, ambientando sua obra num futuro próximo, tecnologicamente mais evoluído e capaz de replicar com precisão um ser humano, conseguindo extrair as memórias da pessoa original e as transmitindo para o ser clonado o tornando uma versão quase idêntica.

Fonte: Apple TV Plus

A narrativa começa com Cameron Turner indo para este local inóspito onde precisa começar o processo de transição que vai mudar sua vida para sempre. O primeiro ato do longa mostra um pouco da vida de Turner, suas indecisões e um pouco do problema de saúde que o aflige e o faz continuar com esse processo que vai leva-lo a passar pelo projeto criado pela Dra Jo Scott (Glenn Close).

Talvez este drama não seja algo que você esteja acostumado, o arco narrativo aqui é mais lenta situando o que pode deixar nervoso o expectador menos paciente e nos deixando familiarizado com Turner e sua família para que possamos sentir o peso de sua decisão e do que o mesmo está abrindo mão. A direção de Benjamin é calculada, com uma tensão palpável e o risco da morte pairando durante vários momentos com Turner cada vez mais próximo do fim tendo que lidar com o outro indivíduo que irá viver sua vida.

Desta forma, não há como não dizer que “O Canto do Cisne” só funciona porque conta da entrega de Mahershala Ali em um papel que exige muito dramaticamente. O ator simplesmente brilha ao dar vida a Cameron e seu clone Jack, em uma atuação extremamente calculada o ator consegue passar as vulnerabilidades de um, enquanto emula de forma assustadoramente eficaz sua versão genérica, mas bastante semelhante. Aqui o público consegue distinguir quem é Turner e quem é a cópia muito porque o Ali consegue passar muita verdade em ambos papéis.

Fonte: Apple TV Plus

Muito disso também vale ressaltar, é muito bem capturado pelas lentes de Benjamin que vai tecendo uma história que vai preparando aos poucos ao público dando informações importantes que vão pesar na possível decisão do protagonista. Personagens como Kate (Awkwafina), uma corretora que também passa pelo mesmo processo que Cameron, mostra que o experimento tem seus benefícios.

Outro ponto que achei interessante na narrativa, é o aspecto científico que como citei anteriormente, é explorado de forma mais superficial. A equipe da Dra. Jo aparece, mas não é muito bem desenvolvida, mas claramente isto é uma decisão artística do diretor, porém fica claro que personagens como Dalton (Adam Beach) foram inseridos ali para mostrar que nem tudo é perfeito num experimento que ainda não está totalmente consolidado.

O filme consegue explorar um pouco o lado científico em confronto com lado humano da história, onde a Dra vê seu projeto como mais uma etapa a ser vencida, enquanto por outro lado sentimos o peso na Turner deixar que uma versão sua viva com sua família. Mais uma vez sentimos este peso porque a performance de Ali é excelente, isso fica muito claro na cena em que fica frente-a-frente com Jack, num dos pontos mais emocionantes da trama.

Fonte: Apple TV Plus

O aspecto técnico é outro ponto forte de desta obra, a fotografia limpa do laboratório nas montanhas, dá uma sensação de isolamento em contraponto com o mundo tecnológico que vemos quando Cameron está na cidade, aliás, os efeitos visuais são sutis, mas bem usados, a ambientação e a direção de arte são inclusive bem usadas mostrando que estamos num futuro bastante desenvolvido, com hologramas, carros futuristas dentre outros recursos usados de uma forma bem inteligente.

A trilha sonora é delicada e sensível, utilizando inclusive música de Frank Ocean que casam bem com a atmosfera melodramática da trama. Além de Ali, o elenco também se destaca com Naomie Harris (007: Sem Tempo Para Morrer) numa atuação simples e sensível, Awkwafina (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis) ótima no papel de Kate, além é claro da veterana Glenn Close (Era Uma Vez Um Sonho) que é sempre um prazer ver atuando.

De uma forma mais abrangente, “O Canto do Cisne” é um belíssimo drama com toques de romance, que não subestima a inteligência de quem assiste, apresentando conceitos interessantes sobre clonagem e prolongamento da vida abrindo discussão para o público debater, se apoiando nos aspectos do amor familiar para construir uma carga dramática que é simplesmente catapultada pela forte atuação de Mahershala Ali, juntando isso a uma direção sólida em um filme que é interessante do início ao fim, levando a questão “você é substituível?” para o outro nível, onde a ciência abre um caminho sem volta para um tipo de imortalidade humana, onde nos leva a questionar se faríamos isso para manter nosso familiares imunes a dor. E você, o que faria?

Gostou? Veja o trailer abaixo e se já assistiu ao filme, comente na área de comentários também abaixo.

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