“Cannon Busters” – 1° Temporada – Crítica

Um anime quebra tabus ao colocar vários personagens negros protagonizando uma narrativa de fantasia que nada mais é do que um faroeste futurista cheio de ação e boas surpresas.

Fonte: Netflix

Animes são os desenhos mais comuns e viciantes do momento, de “One Piece”, passando por “Demon Slayer” até chegar nos fenômenos atuais “Attack on Titan” e “Jujutsu Kaisen”, para citar alguns exemplos que compõe apenas uma gama da quantidade enorme de produtos criados no Japão e que se tornaram um verdadeiro colosso global que hoje tem diversos públicos em diversos país mundo a fora, incluindo no Brasil, onde existe uma quantidade enorme de fãs de animes japoneses, incluindo este que vos escreve.

Lembro como se fosse hoje quando vi o trailer de “Cannon Busters” (2019) pela primeira vez a dois anos, e o que mais me surpreendeu na prévia além da ação desenfreada e bacana, foi a quantidade de personagens negros na narrativa do anime, que não é muito comum, diga-se de passagem, ainda mais porque a maioria dos animes tem representações de pessoas japonesas, afinal a maioria é produzida lá. Porém este era diferente, além do protagonista Philly the Kid (Kenn Michael) ser negro, a personagem co-protagonista também era uma android de serviço de nome Sam (Kamali Minter) que também era negra e isso me despertou o interesse imediato para saber se o anime seria bom uma vez que abraça uma certa diversidade que na minha visão é sempre bem vinda.

O anime é baseado num mangá de fantasia norte americano de mesmo nome criado por LeSean Thomas e publicado entre 2004 e 2005 em três partes. Depois de uma longa jornada Thomas (que é muito fã de animes, inclusive saiu dos EUA para morar e trabalhar nesse meio na Coreia do Sul e posteriormente no Japão por conta desse amor) conseguiu financiamento para transformar seu mangá em uma série animada, isso em 2014, três anos depois a Netflix adquiriu os direitos do anime e dois anos após este período em 15 de Agosto de 2019, depois de vários adiamentos, finalmente “Cannon Busters” foi lançando no catálogo do streaming contando com 12 episódios dirigido por Tetsuya Kumagi (Boku No Hero Academia) junto com o próprio LeSean Thomas com os designs de Tetsuya Kumagi (Paprika) e o roteiro de Matt Wayne (Hellboy – A Espada da Tempestade), os estúdios que ficaram responsáveis pela animação do desenho foram as empresas japonesas de anime Satelight e Yumeda Company.

Fonte: Netflix

O anime conta a história da androide S.A.M e de sua melhor amiga a robô Casey Turnbuckle (Stephanie Sheh)  que viajam pelas terras perigosas de Gearbolt em busca de um herdeiro perdido de um reino sitiado. Durante suas peripécias, elas cruzam o caminho com Philly The Kid, um jovem imortal e fugitivo que dirige um exagerado Cadillac Eldorado que se transforma num robô gigante. Juntos o trio parte para uma jornada em busca do herdeiro perdido participando de diversas aventuras perigosas que vão testá-los ao limite.

A narrativa do anime é bem escrita, a forma como conhecemos o trio protagonista é inusitado e cheio de ação no piloto “High Risk, Low Reward!” (1×01). A dublagem em português do anime é um achado, principalmente do Philly The Kid que é engraçado, sarcástico e deprê, ele faz o contraponto perfeito a inocência e doçura de Sam. A trama começa como uma aventura isolada, mas logo o passado dos personagens começa a ser revelado nos episódios seguintes, incluindo toda a trama envolvendo o reino do tal príncipe perdido e sua relação com Sam.

Em “Grifters Gonna Grift” (1×02) e “Watch Out for The Wet Spot” (1×03) percebemos que o anime vai sempre fazer histórias mais fechadas no presente, com Philly, Sam e Casey encontrando problemas por onde passam e enfrentando inimigos perigosos e vilões inusitados em lugares inesperados. A série começa a dividir sua linha narrativa principal com plots secundários, como o do príncipe Kelby (Zeno Robinson) e seu guarda costas Odin (Darien Sills-Evans) que tem que fugir da sua terra natal o Reino de Botica, devido ao ataque de um inimigo misterioso. O anime começa a adicionar novos personagens em “9ine” (1×04) e “21 the Hard Way” (1×05) com a aparição do samurai bêbado 9ine (Greg Chun) e assassinos perigosos que passam a ser novas ameaças para os protagonistas.

Fonte: Netflix

O ritmo da narrativa é bom, apesar de que começa a acelerar mesmo a partir dos episódios “Unfettered” (1×06), “Lady & The Kid” (1×07) e “Turnbuckle Ex-Machina” (1×08) onde ganhamos uma sequência de bons ganchos e revelações inusitadas de personagens já conhecidos. Inclusive é onde a narrativa começa a andar mais e onde vilões como Lady Day começam a se tornar ameaças mais constantes, sem falar que por outro lado vemos Philly, Sam e Casey começando a criar um vínculo mais forte de amizade, apesar de várias tentativas frustradas de The Kid de romper com as garotas.

Os episódios “Lullaby of the Stars” (1×09) e “Squeaking Springs Afternoon” (1×10) enrolam um pouco na narrativa, mas quando o expectador chega neste ponto, já está afeiçoado aos personagens e dificilmente se irrita com esse tipo de filler (episódios que tem pouca ou nenhuma relação com o plot principal) na reta final, é claro que o episódio 10 ainda guarda boas surpresas para potencializar os dois últimos episódios da temporada prometendo muita ação e emoção para os protagonistas. “Cannon Busters” é um belo anime, a produção é caprichada, o design é bem bacana e bem desenhado, é um desenho vistoso e colorido, misturando técnicas em 2D e as vezes em 3D e ganha o expectador por ter uma mitologia que cresce bem ao longo da temporada e personagens carismáticos e bem-humorados que cativam a cada episódio, cada um com suas peculiaridades.

O maior trunfo prá mim são seus personagens mais diversos, inclusive temos uma personagem com vitiligo com papel bastante emocionante na narrativa. Os dois últimos episódios conseguem linkar todas as pontas soltas e plots desenvolvidos na temporada numa narrativa mais linear quando o trio encontra o príncipe Kelby e seu guarda costas, além de ficarem frente a frente com “A Fraternidade”, um grupo de assassinos treinados, na fortaleza de Gara que se torna o local do confronto decisivo entre mocinhos e bandidos.

Fonte: Netflix

No geral, “Cannon Busters” é bem divertido de acompanhar, com uma mitologia rica que só faz crescer ao longo de seus doze episódios, é claro que nem tudo é bom, o anime ainda sofre com algumas oscilações e alguns fillers desnecessários, mas no geral a obra criada por LeSean Thomas entrega um produto representativo, cheio de ação com muito sangue e que fica ainda melhor nos dois últimos episódios “Innocence Lost Parte 1 e 2” (1×11 e 1×12). A série tem lutas maravilhosas e um estilo que lembra os grandes anime e que promete deixar muito fã do gênero querendo mais, sem falar que Philly The Kid é um personagem bacana de acompanhar principalmente quando descobrimos como seu poder de imortalidade funciona, mas Sam e Casey são duas personagens maravilhosas que são a alma do anime, ainda mais quando uma delas se revela uma peça-chave na reta final da trama.

Desta forma, este anime é uma das apostas da Netflix (que cada vez se consolida mais apostando em animes) que deu certo, tem muita personalidade e muito desenvolvimento em termos de história. Ainda que não seja livre de defeitos, sua pegada futurista lembra até um pouco “Cowboy Bepop”, porém “Cannon Busters” tem uma personalidade própria misturando fantasia, ação e aventura de uma forma bastante consistente se tornando um dos animes mais interessantes da atualidade, sem falar que tem uma das melhores aberturas dos últimos anos que é impossível não vibrar e viciar.

Gostou? Veja o trailer, e se já assistiu ao anime, conta prá gente o que achou.

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