“Liga da Justiça de Zack Snyder” – Crítica

Depois de alguns anos de espera, finalmente o SnyderCut ganha vida trazendo um filme bastante longo, mas por incrível que pareça, satisfatório e muito melhor que a versão original.

Fonte: Warner Bros

Não é de hoje que a campanha “Release The SnyderCut” (“Lancem a versão do Snyder”) tomou conta da internet, na verdade começou em 2017 após a estreia da versão da “Liga da Justiça” no cinema se tornar um fracasso de crítica e de público, filme este remodelado por Joss Whedon (Os Vingadores) que ainda tinha o nome do diretor Zack Snyder (Batman vs Superman) assinando, mas sem sua mão criativa no processo, depois que o diretor teve que se afastar devido a uma tragédia pessoal.

Lembro muito bem de ter assistido ao filme da Liga naquele ano no cinema e por mais que tivesse minhas ressalvas, tinha achado um longa decente mesmo tendo curtas duas horas de duração. Ainda que tivesse a sensação de que era uma visão de dois diretores se chocando em tela, o longa tinha Batman (Ben Affleck) e seu aliados enfrentando em batalhas razoavelmente boas e um vilão vindo do espaço para recuperar caixas mágicas serviriam de portal para a chegada do verdadeiro inimigo, o Darkseid.

Porém todo mundo naquela época, já tinha a sensação de que o filme não tinha muita personalidade, faltava desenvolvimento de personagem para os membros da Liga, faltava sal nas batalhas e faltava o impacto visual característico dos filmes do Snyder. Desta forma e após um longo período de espera, finalmente a Warner depois de uma enorme campanha na internet, com o próprio Zack Snyder, o elenco do filme e outras figuras importantes, além é claro dos fãs fiéis ao estilo do diretor que queriam ver sua visão única da equipe da Liga se unindo para enfrentar uma grande ameaça.

Confesso que não sou tão fã do Snyder atualmente, adoro “Madrugadas dos Mortos”, “300” e “Watchmen”, mas nunca morri de amores por “Homem de Aço” e “Batman vs Superman”, primeiro porque o roteiro desses filmes não são muito inspirados e segundo porque o Snyder se viciou em certos aspectos da sua própria direção e se repetiu muito nesses filmes, até as cenas de ação características do diretor, se perdiam em uma montanhas de efeitos visuais em sequências aceleradas que não tinham muito respiro ou sentido. É claro que o diretor entrega muito no visual de seus filmes, mas só visual não resulta numa boa história.

Fonte: Warner Bros

Chegando agora em 2021, mesmo torcendo o nariz no começo e desconfiando se o diretor conseguiria entregar algo consistente, fui arrebatado pelos trailers do chamado “SnyderCut”, que mostravam um filme familiar, mas com cenas novas e com um tom narrativo diferente do que foi apresentado em 2017. Decidi que mesmo sabendo que versões estendidas costumam acrescentar pouco ao material original, assistiria de mente aberta, apesar de o longa ter potencial para ser outra versão estendida tediosa como foi “Batman vs Superman”.

Eis que quinta feira dia 18 de março chegou o grande dia, “Liga da Justiça de Zack Snyder” ganhou vida estreando no streaming HBO Max nos EUA e em outras plataformas pagas nos demais países (inclusive no Brasil) que ainda não possuem este serviço de streaming, antes cotado para ser uma minissérie em quatro partes, virou um longa completo com quase quatro horas de duração e a promessa de um filme mais completo e que iria fazer jus ao legado da equipe de super-heróis da DC Comics.

Como um grande evento e como se o público estivesse lendo quadrinhos, o longa foi dividido em seis partes, mais um prólogo e um epílogo. Zack Snyder optou pela resolução de 4:3 em formado de caixa ao invés do mais atual 16:9 em widescreen, confesso que não gostei disso, ainda mais em um blockbuster como este, mas o diretor justificou que o filme foi projetado para ser exibido no cinema em telas em IMAX, desta forma cada frame foi feito para ser exibido dessa forma, dando também uma alusão de ler um quadrinho e ainda acrescentou que se fosse no formato original, perderíamos algum frame, já que os efeitos foram projetados também para este formato em caixa.

O primeiro ato do longa que começa com um prólogo mostrando a morte do Superman numa cena que liga diretamente o final de “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” a esta narrativa, revelando as diversas raças sentido um tipo de distúrbio no ar e dando o ponto de ignição para a trama deste filme. Na parte um “Don’t Count On It, Batman”, vemos Bruce Wayne (Affleck) começando sua jornada para recrutar novos indivíduos para sua equipe, começando por Arthur Curry (Jason Momoa), mais conhecido como Aquaman.

Fonte: Warner Bros

A história aqui não diferencia muito do original, mas com certeza vemos que o tom da narrativa, a trilha sonora e a forma como o filme se desenvolve inicialmente é bem diferente da versão dirigida por Whedon. Zack Snyder é cuidadoso em situar o expectador trazendo na primeira metade vários arcos diferentes, mas com foco em Bruce e na presença de Diana Prince (Gal Gadot) em ação como Mulher Maravilha na boa sequência do assalto ao banco, ao mesmo tempo em que mostra a chegada do Lobo das Estepes (Ciarán Hinds), agora com novo visual, a Terra com seus parademônios para executar  seu plano de adquirir as caixas mães foco central da trama.

A mudança de tom foi benéfica, o filme tem cenas de ação inicialmente, mas navega por várias narrativas, concentrando sempre seu foco em um ou dois dos membros da Liga que fazem a história ir progredindo aos poucos. Na segunda parte “The Age of Heroes”, vemos o Lobo das Estepes atacar as amazonas lideradas pela Rainha Hypolita (Connie Nielsen) que aqui ganham mais espaço e mais cenas de ação, sem falar que o vilão, antes bastante genérico, agora com um pouco mais de presença e um tom mais ameaçador com um objetivo mais claro, cumprir sua missão de trazer seu mestre para Terra através dos três itens citados.

Uma das coisas que me fez gostar desta versão do diretor da “Liga da Justiça”, é o fato da história ter um melhor desenvolvimento de personagens, tudo que faltava no longa anterior, aqui tem tempo e espaço para amadurecer, os grandes destaques prá mim são as histórias do Flash (Ezra Miller) que aqui ganha espaço para uma introdução mais apropriada salvando inclusive a Iris West (Kiersey Clemons) de um acidente e interagindo com pai (Billy Crudup) na prisão. O outro destaque é Victor Stone (Ray Fisher) como Ciborgue, de longe o personagem com o arco mais dramático e trágico, ainda que falte peso em alguns momentos, os flashbacks que ficaram fora do filme anterior, aqui são usados para enriquecer a história do super-herói tornando inclusive importante para resolução da trama a partir do terceiro capítulo “Beloved Mother, Beloved Son”.

Fonte: Warner Bros

O ritmo do filme nos dois primeiros atos são ótimos e bastante fluídos, tanto que as duas primeiras horas de projeção passam num piscar de olhos, apesar do Snyder insistir em povoar cada frame com câmera lenta pesando a mão mais uma vez, aqui em diversos momentos funcionam e são até aceitáveis, no caso das cenas do Flash (que continua sendo o membro mais carismático da Liga), por exemplo, porém desnecessárias em cenas com a Lois.

Um dos pontos que não gostei muito, foi o arco do Arthur Curry, ainda prefiro o Aquaman no seu filme solo dirigido pelo James Wan do que aqui, pois ele apesar ter espaço suficiente, Momoa parece um pouco deslocado da equipe e com menos carisma que no filme de 2018. É claro que o personagem consegue entregar bastante nas cenas de ação, mas é só também, nem a presença de Vulko (William Dafoe) empolga muito, mas devo dizer que Mera (Amber Heard) lutando com Lobo das Estepes e depois aparecendo no epílogo foi interessante.

No capítulo quatro “Change Machine” a história começa a trazer elementos do roteiro de Chris Terrio (Batman vs Superman) já conhecidos do filme de 2017, com arco para trazer o Superman (Henry Cavill) de volta tomando forma até culminar no ótimo capítulo cinco “All The King’s Horses” onde as narrativas se encontram dando ao início a parte final da trama. É claro que o roteiro não é lá muito brilhante, alguns diálogos são bem ruins, mas nem todo blockbuster precisa ser brilhante neste quesito, se souber manter-se coerente nas motivações dos personagens e aqui Snyder consegue esse feito, tudo que foi desenvolvido antes, faz sentido e torna a virada da narrativa mais interessante.

Fonte: Warner Bros

Em termos de produção, o “SnyderCut” é bem decente na questão dos efeitos visuais e principalmente dos vilões, tem uma textura mais palpável e ainda que design não seja um primor, vemos uma melhora gigante, tanto que conseguimos ver detalhes da armadura do Lobo das Estepes de forma mais nítida, assim como a armadura do Ciborgue do lado dos heróis, méritos da Weta, responsável pelos efeitos. Ainda não entendi o propósito da roupa preta do Superman, mas ao menos é bonita, apesar deu preferir a original. As cenas de ação as vezes carecem de emoção, mas são boas e visualmente bacanas de assistir, principalmente no grandioso terceiro ato.

Outros aspectos técnicos a destacar, gostei da trilha sonora, que varia bastante de acordo com o herói em tela, não é marcante, mas é bem executada. A edição as vezes pode parecer desconexa, mas prá mim parece bem proposital em alguns momentos, tanto que nos últimos capítulos, o que ficou mais em aberto é preenchido de alguma forma.

No geral, “Liga da Justiça de Zack Snyder” já fez história independente se você gostar ou não do estilo do diretor, o longa traz sua visão de forma honesta e bastante competente, não, ainda não é o melhor filme de super-herói já feito, mas com certeza pode figurar entre aqueles que são no mínimo bons. O sexto capítulo “Something Darker” é a culminação de um sonho, com Superman, Batman, Mulher Maravilha, Aquaman, Ciborgue e Flash lutando lado a lado, ganhando espaço quando necessário e cada um sendo crucial para derrotar o Lobo das Estepes, de uma forma bem mais interessante e mais empolgante que na versão de 2017, pelo menos o sentimento de satisfação é muito melhor, sem falar que o epilogo é um presente para o fã da DC mais fiéis, abrindo um leque de possibilidades para o futuro da saga (será que vem ai?), além de provar que apoiar a visão de um diretor realmente vale a pena, o longa é um presente e deve ser celebrado como tal, depois de anos, o fã da DC finalmente pode descansar sabendo que a luta por um sonho valeu a espera.  

Elo Preto

Personagem: Victor Stone/Ciborgue
Ator: Ray Fisher
Idade: 33 anos

O destaque da coluna de hoje vai para Ray Fisher no papel de Victor Stone, personagem que sofreu um acidente que levou a óbito também sua mãe, porém ele foi remontado com partes mecânicas e cibernéticas pelo pai, ficando conhecido popularmente como o super-herói Ciborgue. Fisher é muito bom no personagem e consegue passar um pouco da aura trágica que Stone tem no filme, inclusive essa versão do Snyder, traz um Ciborgue que lida com seus próprios demônios, mas encontra na equipe formada por Batman e Mulher Maravilha um alento depois de tanta tragédia pessoal, o personagem tem boas cenas de ação e tem o melhor arco do filme. Ray Fisher trabalhou em 2019 na terceira temporada de “True Detective” e logo será visto na série “Women of the Movement”, ainda sem data de estreia.

Gostou? Assista ao trailer, se já assistiu ao filme, comenta o que achou abaixo.

9 comentários sobre ““Liga da Justiça de Zack Snyder” – Crítica

  1. Muito interessante. Ainda não tive a oportunidade de ver o Snyder’s Cut, mas vou tentar ver em breve. Estou contente que a impressão geral é de que o filme é melhor que a versão de 2017, embora ela tenha muito mais tempo para isso.

    Lembro que na época tinham dito que o Ciborgue seria realmente o elo de ligação de todos os arcos do filme, mas na versão do cinema não foi assim. Acredito que a perseguição que o Whedon promoveu nos sets tenha algo a ver com isso.

    Excelente texto, adorei!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Cara, então acho que você vai gostar muito. Primeiramente obrigado por ler, segundo, realmente o Ciborgue é peça chave e o Flash também tem papel crucial. Acho que assim, quatro horas é exagero, mas ele consegue deixar tudo muito coerente e com sentido, a versão do Whedon não é ruim, mas você sente muita ponta solta como você mencionou, agora nessa versão do Snyder, muita coisa faz sentido, sem falar que acho que você vai adorar o epílogo.

      Curtir

Deixar mensagem para Leandro de Barros Cancelar resposta