“Destacamento Blood” – Crítica

O épico drama de Spike Lee traz uma abordagem crítica e relevante para os tempos atuais em um de seus melhores trabalhos.

Uma Indicação ao Oscar 2021
Melhor Trilha Sonora
Fonte: Netflix

Um épico de guerra no melhor estilo Spike Lee, este poderia ser a definição de “Destacamento Blood” (“Da 5 Bloods”, 2020), novo drama do diretor do também ambicioso e espetacular “Infiltrado da Klan” de 2018. Porém este drama vai além, de uma simples retratação fictícia situada na guerra do Vietnã, aqui vemos todo um paralelo poderoso com a história traçando todo período de luta do povo negro dos EUA até chegar nos tempos atuais.

Os minutos iniciais do longa são poderosos, nele Spike Lee traça exatamente aquilo que quer contar, antes de nos apresentar a trama central da história. O roteiro foi escrito por Lee e mais três roteiristas, e vemos aqui como a narrativa é minuciosa para se desenvolver, intercalando presente e passado de uma forma simples como é evidenciado nos primeiros minutos diferenciando períodos distintos, dando assim uma base forte para que possamos saber quem são esses os personagens e suas motivações.

A trama conta a história de amigos veteranos da guerra Vietnã que retornam ao país para buscar um tesouro perdido na selva. A primeira metade da narrativa foca em desenvolver os personagens de Paul (Delroy Lindo), Otis (Clarke Peters), Eddie (Norm Lewis) e Melvin (Isiah Whitlock Jr.), tanto no presente como no passado quando lutaram ao lado de Norman (Chadwkick Boseman) que liderava o esquadrão para resgatar uma carga em uma missão especial no meio da selva.

A segunda metade da trama é mais urgente e mais violenta, com acréscimo de David (Jonathan Majors), filho de Paul, a procura pelo ouro na floresta se torna algo imprevisível e cheio de reviravoltas inesperadas. Spike Lee não está interessado em sutilezas, mas sim em levar a mensagem, se a primeira parte tem uma base bastante firme com pé no cinema documental retratando uma guerra do Vietnã que se passa em paralelo aos protestos ferozes dos direitos civis nos EUA, o longa toca na ferida ao escancarar a forma indulgente como o governo norte americano trata vida negras, não as dando direitos civis dentro do território, ao mesmo tempo que utiliza essas mesmas vidas para lutar sua guerra em território inimigo, o texto expõe injustiças de décadas sem meio termos.

Fonte: Netflix

A segunda parte se torna ainda mais espetacular devido a tudo que foi construído antes e se torna imprevisível ao colocar elementos narrativos inesperados, colocando “Os Bloods”, como o esquadrão se denomina, a prova. As cenas de ação não são o ponto alto do longa, mas servem ao seu propósito, mas o ponto forte do filme está na direção esperta de Lee, no roteiro e principalmente nas atuações.

O elenco de “Destacamento Blood” é um presente, as atuações são extremamente consistentes, podemos destacar aqui Clarke Peters (His Dark Materials) na pele de Otis, se mostrando a âncora moral da história servindo de contraponto perfeito para o personagem Paul. Outro que brilha é Jonathan Majors (O Último Homem Negro Em San Francisco) no papel de David, o arco do personagem com pai é um dos pontos altos da narrativa. Chadwick Boseman (Pantera Negra) é um destaque que merece uma boa menção, seu Stormin’ Norman respira a negritude e lembra muitos heróis negros de outrora.

De todos esses citados, nenhum consegue chegar em um nível tão alto quanto Delroy Lindo (The Good Fight), seu personagem Paul é um achado e o ator corresponde todas as expectativas possíveis em uma atuação marcante e poderosa que poderia ter rendido uma indicação ao Oscar deste ano, se academia não cometesse tantas injustiças. Lindo consegue trazer complexidade a um personagem atormentado pelos horrores da guerra, um de seus melhores momentos é um monologo que faz na floresta, simplesmente de arrepiar.

Com um elenco afinado, “Destacamento Blood” consegue ir além, a narrativa cria tantos parâmetros interessantes e traz tantas referências em suas entrelinhas, que é impossível terminar a história e não sentir à vontade revê-la. É um filme rico em detalhes, ainda que tenha duas horas e trinta minutos de duração, o ritmo não é cansativo e como citei, a reta final é explosiva o bastante para deixar o expectador curioso para o que estar por vir.

Fonte: Netflix

De uma forma geral, “Destacamento Blood” chega para estabelecer um novo patamar e cravou-se como uma das melhores obras de 2020. Esta produção da Netflix é caprichada, bem dirigida e muito bem atuada, os destaques técnicos vão desde a fotografia excelente, passando pela trilha sonora regada a música boa do Marvin Gaye, sem falar na edição bastante consistente, mas acima de tudo temos aqui um produto com uma mensagem forte, que tece um forte paralelo sobre racismo estrutural, preconceitos e injustiças sofridas pelo povo preto norte americano ao longo das décadas e que a Guerra do Vietnã é só mais um exemplo como os EUA negligencia e falha em dar direitos iguais àqueles que sempre estiveram ali servindo a nação.

De uma forma geral, “Destacamento Blood” chega para estabelecer um novo patamar e cravou-se como uma das melhores obras de 2020. Esta produção da Netflix é caprichada, bem dirigida e muito bem atuada, os destaques técnicos vão desde a fotografia excelente, passando pela trilha sonora regada a música boa do Marvin Gaye, sem falar na edição bastante consistente, mas acima de tudo temos aqui um produto com uma mensagem forte, que tece um forte paralelo sobre racismo estrutural, preconceitos e injustiças sofridas pelo povo preto norte americano ao longo das décadas e que a Guerra do Vietnã é só mais um exemplo como os EUA negligencia e falha em dar direitos iguais àqueles que sempre estiveram ali servindo a nação.

Spike Lee aumenta a temperatura em uma obra crítica, urgente e visceral. O elenco negro principal é um espetáculo a parte.” –

Certificado Excelência Negra

Gostou? Veja o trailer e se já assistiu ao filme, nos dica logo abaixo o que achou.