“Hedda” – Crítica

O caos tem nome! Tessa Thompson é uma força da natureza num drama sexy, perigoso e extremamente bem executado pela diretora Nia DaCosta que ainda tem a atriz Nina Hoss como outro grande destaque.

Foto/Reprodução – Prime Video

Não é de hoje que o cinema retrata bem Era Clássicas em filmes de época sempre conseguindo uma ambientação impecável em termos de tema e história, sempre retratando de forma crível e reproduzindo na maioria das vezes com precisão eventos e narrativas que poucas vezes se deixam sucumbir a liberdades criativas que possam trazer elementos anacrônicos para história, isso normalmente acontece quando releituras são feitas.

Este é o caso do longa de drama “Hedda” (Hedda, EUA), produção da Amazon MGM Studios que estreou no catálogo da Prime Video no dia 29 de outubro e parece não ter tido muita repercussão, cabendo aqueles que vos escreve elucidar o quanto este filme baseado na peça de teatro do norueguês Henrik Ibsen de 1891, é provocante o suficiente para chamar sua atenção.

O filme é uma reimaginação da peça de Ibsen pelas mãos da cineasta Nia DaCosta (As Marvels) que dirige e escreve dando uma roupagem que se passa em uma determinada época, mas traz o emponderamento negro para o centro da trama ao transformar a protagonista Hedda Gabler (Tessa Thompson) em uma mulher preta poderosa, casada com um rico professor, George Tesman (Tom Bateman), que juntos dão uma festa para alta sociedade fazendo emergir uma teia de revelações.

Foto/Reprodução – Prime Video

O roteiro é sofisticado, bem cuidado, onde DaCosta estabelece bem o gênio manipulador e metódico de sua protagonista que está preste a dar uma grande festa em sua mansão e precisa que seu marido impressione um famoso Professor, para conseguir subir um patamar dentro do corpo docente e ascender socialmente.

A parte técnica de “Hedda” é simplesmente deslumbrante, daquelas produções que impressionam pela ambientação, pelo figurino impecável, pela fotografia e principalmente pela direção que privilegia atuações. A forma como a narrativa se estabelece nos primeiros minutos e como atiça nossa curiosidade a medida que acompanhamos o desenvolvimento da festa já sabendo do desfecho trágico, é simplesmente empolgação pura.

Assim como um drama, a obra também é um romance lésbico da melhor qualidade, principalmente quando trata a bixessualidade de Hedda como uma arma usada ao seu bel prazer para seduzir seus convidados e principalmente persuadir sua maior obsessão, Eileen Lovborg (Nina Hoss), que quando aparece na trama, dá ainda mais ritmo a uma história que é sensualmente provocante.

Foto/Reprodução – Prime Video

É fato que o filme fica ainda melhor, porque o embate entre Tessa Thompson (Creed III) e Nina Hoss (Tár) é extremamente bem orquestrado, com Hedda usando sua persuasão para orquestrar uma espiral de acontecimentos que levam até a destruição da mulher que a rejeitou. Tessa está impecável, belíssima, com um olhar dissimulado e ao mesmo tempo cheio de doçura e firmeza, capaz de seduzir até mesmo a pessoa mais tímida.

Em contraponto, Nina entrega uma atuação ótima, compondo aquelas figuras fascinantes, gay assumida numa sociedade machista, sua personagem mostra uma profundidade incrível e personalidade intimidadora que deixa qualquer homem desconfortável, se mostrando inteligente, sedutora e que sabe exatamente o que quer num mundo difícil de agradar.

É envolto na órbita das duas personagens, que “Hedda” toma forma ao se passar antes, durante e depois de uma festa que se desenvolve com ótimos diálogos, câmera em movimento a todo momento ganhando ambientes e tecendo um mundo liberal em meio a fachada conservadora de uma sociedade cheia de hipocrisia, mas que ama uma boa promiscuidade e um entretenimento gratuito.

Foto/Reprodução – Prime Video

Felizmente na maior parte do tempo, o longa não oscila, o que é bom, pois a trama não para em nenhum momento, sendo desenvolvida em quartos fechados, em salões deslumbrantes, se aproveitando de conflitos para crescer em agilidade e diminuindo o ritmo quando precisa desenvolver a química de Hedda e Eileen, usando isto como força motriz para exacerbar uma relação tóxica que irá levar a reviravoltas interessantes no terceiro ato.

O melhor de Nia DaCosta, é que diretora consegue a todo momento usar sua câmera como uma dança que se move com uma trilha pulsante e atuações deliciosas que fazem da narrativa um verdadeiro caldeirão de ambiguidades que acabam por criar um tom imprevisível que só vai ficando melhor à medida que o filme vai chegando perto do fim.

Não há dúvidas que o longa é totalmente feminista ao ponto de fazer Hedda uma figura dona de um espetáculo capaz de tudo para seduzir, mas nunca ser seduzida, manipular, mas nunca ser manipulada e ainda assim, fica complicado taxar a personagem de vilã, com tantas camadas reveladas em apenas uma noite.

Foto/Reprodução – Prime Video

A direção firme e o roteiro enxuto dão ao filme qualidade imensa, que torna “Hedda” um drama com toques de romance uma narrativa envolvente e imperdível. As atuações de Tessa Thompson e Nina Hoss dão um tom de enredo intrigante que nos leva numa espiral de acontecimentos com um final reflexivo para expectador refletir, porém extremamente explosivo. De uma forma geral, longa é daqueles imperdíveis que merece sua atenção entregando aquilo que promete com muita sensualidade e emponderamento feminino de qualidade. Simplesmente arrebatador!

Gostou? Veja o trailer abaixo e se já assistiu comente nos comentários sobre o que achou.

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