Marvel com coração! A série produzida por Ryan Coogler traz o encontro entre magia e tecnologia entregando uma narrativa bem desenvolvida que se torna uma das boas surpresas do ano.
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No mês de maio, a Marvel encerrou sua fase 5 nos cinemas com o bem recebido “Thunderbolts”, mas ainda faltava uma produção para completar o pacote desta fase que teve seus altos e baixos, sofrendo da mesma sensação de capítulo avulso que a fase 4, com poucas ligações, tramas com começo, meio e fim, mas com cenas pós créditos que não conseguiam ligar bem o todo, com exceção de “Capitão América: Admirável Mundo Novo” e o já citado “Thunderbolts”.
A produção que faltava encerrar esta fase, era a minissérie produzida por Ryan Coogler (Pecadores), “Coração de Ferro” (Marvel’s Ironheart, 2025), que conta a história de Riri Williams (Dominique Thorne), após sua estreia no filme “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre”, focando na sua vida cotidiana em Chicago. A garota prodígio tenta encontrar seu caminho no mundo, acaba se envolvendo na gangue do misterioso Parker Robbins (Anthony Ramos), embarcando numa sequência de roubos enquanto tenta lidar com o luto e uma tragédia do passado.
A verdade é que Riri Williams é uma criação recente dos quadrinistas Brian Michael Bentis e Michael Deodato Jr, a personagem que surgiu em 2016 tem pouco mais de nove anos de existência tendo sua primeira aparição nos quadrinhos do Homem de Ferro na edição “O Invencível Homem de Ferro #7”, desde então tem sido bastante recorrente nas HQs sendo bastante elogiada pelo QI acima do normal e sua capacidade de construir equipamentos tecnológicos.

A série criada por Chinaka Hodge (O Clube da Meia-Noite) segue esta vibe e traz uma atmosfera juvenil com uma pegada afro-americana explorando a periferia de Chicago no seio da comunidade negra onde a trama explora a vida dessa garota genial que desafia os limites da sua própria inteligência para criar trajes fantásticos numa clara inspiração ao legado deixado por Tony Stark.
O primeiro episódio da narrativa “Take Me Home” (1×01), encontramos Riri no seu modo rebelde, sendo expulsa da famosa Universidade M.I.T, onde entrou com apenas 15 anos, e tendo que lidar com as consequências de seus próprios atos. Ao ser convidada por Primo John (Manny Montana) para uma oportunidade de ganhar um dinheiro se apoiando em suas habilidades, conhecendo assim um grupo criminoso liderado pelo já mencionado, Parker Robbins.
O roteiro de “Coração de Ferro” na maior parte do tempo, tenta situar os expectadores que não são familiarizados com a personagem. Entendemos bem suas motivações, descobrindo que sua vida está sendo marcada pelo luto após perder seu padrasto e sua melhor amiga Natalie (Lyric Ross), tendo que lidar juntamente com sua mãe Ronnie (Anji White), com o vazio e a dor ausência.

O melhor do seriado, é o fato de Dominique Thorne conseguir atuar muito bem trazendo uma personalidade sisuda, obstinada e às vezes até egocêntrica, característica semelhante há muitos super-heróis inteligentes do Universo Marvel, diga-se de passagem. Isso inclusive pode causar incômodo nos chamados nerds tóxicos, mas para quem gosta de heróis com este tom, a personagem é simplesmente muito boa de acompanhar.
A melhor característica de “Coração de Ferro” é conseguir focar primariamente em estabelecer um universo onde a protagonista habita, colocando aliados como, Joe (Alden Enrenreich) para ajuda-la a conseguir equipamentos para atualizar suas armaduras, ou seu interesse amoroso, Xavier (Matthew Elam), irmã de Natalie, o pequeno Landon (Harper Anthony) que está sendo próximo para ajudar a personagem com algo corriqueiro, ou sua própria mãe, com quem a personagem está sempre em conflito, mas para quem sempre volta como seu porto seguro.
É desta forma que esta região de Chicago vai ganhando cara e identidade visual se apoiando na negritude local misturado a cultura afro. É assim que a série cresce e se preocupa mais em contar uma boa história, terminando a primeira metade da temporada com o sólido episódio “We in Danger, Girl” (1×03), onde a primeira reviravolta da narrativa ajuda a potencializar os dramas pessoais da protagonista para alavancar os episódios finais.

A série não é livre de ressalvas, ainda acho que falta um senso de impacto maior nas sequências de ação e aqui não é diferente, apesar de bem feitas e bem dirigidas, falta aquele apelo marcante que você fica querendo revisitar. Isto, infelizmente é algo que anda acontecendo em algumas produções da Marvel e aqui não é muito diferente.
Felizmente, isto é apenas um detalhe em “Coração de Ferro”, que se torna uma ótima série na sua reta final com uma sequência muito boa de episódios. Enquanto a primeira parte foca na parte tecnológica do universo de Riri Williams, vemos que a personagem precisará mais do que apenas inteligência e equipamentos sofisticados para vencer o vilão Capuz.
Neste ponto, a série sobe de patamar ao colocar em evidência o lado sobrenatural e estabelecer o embate entre magia versus tecnologia, trazendo uma aura mais sombria a partir do episódio “Bad Magic” (1×04), ao introduzir a personagem Zelma (Regan Aliyah), uma das personagens mais legais que já apareceram no MCU e uma das mais intrigantes também, fazendo ponte com um certo feiticeiro.

Em termos de produção, “Coração de Ferro” é bastante consistente, apresentando uma trilha sonora bem executada com músicas que misturam desde o melhor do hip hop e rap, até mesmo pop rock saudosistas como de Alanis Morissette. A direção é um ponto positivo, assim como a ambientação e os efeitos visuais, estes últimos sendo criativos o suficiente para mostrar cenas de Riri usando seus trajes das formas mais inusitadas possíveis.
Os dois últimos episódios são os melhores do seriado e fazem jus a todo a boa repercussão que a série anda tendo. Enquanto “Karma’s a Glitch” (1×05) temos uma narrativa que sabe colocar uma heroína em situações complicadas, exigindo que a mesma confronte seus próprios demônios interiores. Por outro lado, o último episódio “The Past is The Past” (1×06) é a catarse bem trabalha graças a direção eficiente de Angela Barnes (Atlanta) que inclusive traz uma das melhores surpresas da série introduzindo um dos vilões mais aguardados do Universo Marvel sendo interpretado por ninguém menos do que Sasha Baron Cohen (Borat), fique atento para outras sutis revelações no meio do caminho.
De uma forma geral, “Coração de Ferro” é aquilo que esperamos de um seriado da Marvel, uma trama bem amarrada que expande o universo, sem apelar por conexões baratas, mas focada no drama dos personagens e nos seus respectivos desenvolvimentos. Riri Williams é uma ótima personagem que promete render bastante, ainda mais após o gancho deixado na última cena. Misturando elementos bacanas, boas surpresas em uma história que cresce linearmente, a mais nova heroína da Marvel é negra, inteligente e simplesmente incrível. Resta saber se a Marvel vai acreditar na personagem e trazer mais aventuras, pelo bem deste universo, esperamos que sim. Nós fãs agradecemos.
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