Um fenômeno! O documentário sobre Vini Jr. da Netflix possui momentos de pouca profundidade, mas acerta quando mostra a trajetória do jogador e sua luta antirracista contra a liga espanhola de futebol.

Ser jogador futebol no Brasil é algo que todo garoto ou garota amante do esporte almejam ou já sonharam em ser um dia. Daquele futebol de várzea, daquelas peladas na rua, passando pelas peneiras de escolas e escolinhas de futebol, até conseguir uma chance de profissionalizar e mudar sua vida e da família, além da fama e ganhar o mundo.
É claro que esses sonhos são para poucos, é claro que isso ocorre bastante com potenciais talentos. E neste caso aconteceu com Vinicius Jr, que estreou na última semana o documentário sobre sua história chamado “Baila, Vini”, que conta sua trajetória desde o começo em São Gonçalo, passando pelas escolinhas de base do Flamengo, até chegar ao profissional e conseguir o topo de melhor do mundo jogando pelo Real Madrid, um dos maiores clubes de futebol do mundo.
Esta produção da Netflix, dirigido por Andrucha Washington e Emilio Domingos, se beneficia de um bom material focando na vida de Vinicius José Paixão de Oliveira Júnior, trazendo depoimentos pontuais de pessoas conhecidas como: Neymar, Cazé, Roberto Carlos, Ronaldo, além dos seus companheiros de clube como Rudiger, Bellinghan, Courtois, Rodrygo, até mesmo o técnico do Real Madrid, Carlos Ancelotti (agora técnico da seleção brasileira), bem como seus familiares que ajudam a humanizar o jogador.

O documentário as vezes peca por não se aprofundar mais nas origens de Vinicius, apresentando apenas o básico, mas com um primeiro ato que começa a mil por hora, antes de desacelerar, para voltar no passado lá em São Gonçalo para mostrar a vida simples desse garoto que sonhava em ser jogador de futebol, passou por dificuldades como quase toda criança preta de periferia em um bairro violento, conseguindo através do esporte prosperar.
A narrativa intercala muito entre depoimentos, cenas de arquivos e sequências bacanas de momentos decisivos da carreira do jogador. Tudo é bastante protocolar, mas como mencionei, o depoimento de seus pais, sua avó, tias e amigos, ajudam a mostrar que Vinicius Jr é uma pessoa que tem a casca dura, com personalidade forte, ama a família, que busca o perfeccionismo em campo e é bastante impaciente por bons resultados como profissional.
A trama mostra como o jogador precisou se aperfeiçoar para chegar no nível que se encontra hoje, pena que o documentário não explora muito sua trajetória no Flamengo, mas ao menos sua trajetória no Real Madrid é bem desenvolvida na narrativa do documentário, levando o expectador a reviver momentos decisivos entre 2017 a 2024 nos jogos da difícil e popular “Champions League” ou “Liga dos Campeões”, o torneio mais popular do mundo e um dos mais difíceis e imprevisíveis do mundo do futebol, onde o jogador marcou gol em duas finais e fez história.

Falta ao documentário “Baila, Vini”, um pouco mais de sentimento, mas nos poucos momentos que o filme consegue envolver, é quando o jogador está passando por alguma dificuldade. A doída desclassificação da Copa do Mundo do Qatar em 2022, a lesão que teve pós jogo da seleção, e principalmente os ataques racistas que sofreu das torcidas espanholas, em especial a torcida do Valência.
É neste ponto que a narrativa ganha nossa atenção, ao mostrar que Vinicius Jr enfrentou e enfrenta um sistema de futebol racista com pessoas racistas que o provocavam o tempo todo. Por mais frieza que o jogador tivesse, o sangue quente e fato de não se calar diante de tantas ofensas, fez dele um ícone na luta antirracista na Espanha ganhando repercussões internacionais, neste ponto o longa acerta muito.
As cenas de xingamentos e ofensas, capturados pelas câmeras são de subir o sangue para aqueles que sentem empatia e são fãs de Vinicius Jr. A reação da mãe ao ataque dos torcedores em Valência, é onde o documentário mostra que uma pessoa preta não sofre essas ofensas sozinho, todo mundo com o mínimo de dignidade sofre junto e torce para que a justiça seja feita no meio de tanta escrotidão.

Ainda que “Baila, Vini” sofra um pouco com um ritmo irregular, para aqueles que são fãs e mesmo os que não são, o documentário funciona para conhecer um pouco mais do jogador, mas nada muito diferente do que já não tínhamos visto antes. O fato da sua carreira ser cuidada como uma grande empresa, com amigos se tornando assessores, família sempre perto para dar o apoio, mostra que para ser grande, você precisa ter uma base forte.
Em termos de produção, o filme é bem produzido, mas nada que seja fora da curva, a edição é boa e ajuda a narrativa ganhar ritmo, a trilha sonora recheada de funk com Ludmilla, Racionais MCs, Papatinho, L7nnon, MC Hariel, dentre outros, é muito boa. A câmera tenta respeitar o espaço do jogador, mas é nos momentos mais íntimos que enxergamos o verdadeiro Vinicius, gente fina, coração grande, assim como sensível e molecão, como a maioria dos jogadores profissionais que vivem para isto.
De uma forma geral, “Baila, Vini” é um bom documentário, daqueles que vale se você gosta de futebol, inclusive ver aonde o jogador chegou e sua luta antirracista é um dos pontos fortes que mostram que Vinicius Jr com a cabeça no lugar e focado, consegue ser fantástico com a bola no pé, com passadas rápidas e conclusões decisivas. Aqui vemos um jovem preto que não é só o maior jogador da atualidade, mas também com potencial de se tornar um dos maiores ídolos na luta contra o racismo e preconceito.
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