Refinado e brilhante! Produzido pela Shondaland, esta série de mistério da Netflix tem um elenco excelente liderado por Uzo Aduba numa trama bem desenvolvida, equilibrada e engraçada em uma das melhores séries do ano.

Histórias de assassinato estilo Ágatha Christie viraram tendência no cinema desde sempre. Um dos filmes mais famosos sobre o tema, “Assassinato no Expresso do Oriente (1974)”, baseado no livro de mesmo nome da escritora, é um dos maiores exemplos de como uma trama bem elaborada, um detetive inteligente e uma lista de suspeitos pode tornar a história algo envolvente com um desfecho surpreendente.
Digo isto, para falar do novo drama de mistério em formato de minissérie, “Assassinato na Casa Branca” (The Residence, 2025), levemente inspirado no livro de Kate Andersen Brower, “The Residence: Inside The Private World of the White House”, sobre os bastidores da residência mais famosa do mundo e lar do Presidente dos EUA, temos aqui um livro documental que carrega todos elementos de uma boa história.
É desta forma que o criador do seriado Paul William Davies (For The People), cria seu enredo através dos 132 quartos da Residência, com 157 suspeitos e um cadáver. Onde a detetive Cordelia Cupp (Uzo Aduba) é designada para descobrir o culpado por matar o secretário geral da Casa Branca, A.B. Wynter (Giancarlo Esposito), durante uma festa presidencial, fazendo com que não só os funcionários, mas os convidados sejam os principais suspeitos de tal acontecimento.

O que você precisa saber sobre “Assassinato na Casa Branca” é que a minissérie é um refinado e bem elaborado quebra cabeça que se beneficia principalmente do seu talentoso elenco e também sua produção caprichadíssima que nos leva aos corredores de uma réplica exata da Casa Branca que é apresentada da forma mais glamourosa e misteriosa possível.
Tudo aqui é muito bem executado, a começar pela trama se inicia numa audiência no Congresso, com o depoimento de vários personagens que testemunharam o trabalho de Cordelia Cupp meses atrás. Ao voltar no passado intercalado com o presente, somos levados a uma montanha russa de revelações e pontas soltas que ficam ainda mais empolgantes à medida que a história progride.
E a série não para por aí, pois não é só uma trama que replica a fórmula Ágatha Christie, mas presta homenagem ao gênero como um todo e das melhores formas possíveis, tanto que os títulos dos episódios são referências a algum filme, livro ou série do gênero mistério, investigação e assassinato, simplesmente maravilhoso como a narrativa também é um tributo declarado cheio de easter eggs em cena.

Quando somos apresentados aos personagens no ótimo episódio “The Fall of the House of Usher” (1×01), embarcamos numa jornada que requer de seu público paciência e atenção. Veja bem, temos uma série que não tem pressa, mas que te convida a degustar cada detalhe, observar cada centímetro e desconfiar de todos ali, exceto nossa detetive e seu parceiro, o agente do FBI, Edwin Park (Randall Park).
O aspecto técnico de “Assassinato na Casa Branca” grita qualidade nos quatro cantos, tanto pela direção milimétrica de Lisa Johnson (A Diplomata) nos quatro primeiros episódios, ou na direção eficiente de Jaffar Mahmood (The Great) nos quatro últimos, sem falar que a edição que é um espetáculo a parte, tanto para conseguir enfiar as diversas pistas no contexto, quanto para trazer um humor simplesmente delicioso enquanto solta pistas para o expectador em diversas linhas temporais diferentes.
Quando assistimos aos episódios “Dial M for Murder” (1×02) e “Knives Out” (1×03), percebemos que estamos diante de algo único, com personalidade própria e que trabalha para nos apresentar uma lista de ótimos suspeitos, como: o político Harry Hollinger (Ken Marino), a dedicada Jasmine Haney (Susan Kelechi Watson), a maluca cozinheira Marvella (Mary Wiseman), a bondosa Elsyie Chayle (Julieth Restrepo), o responsável faz tudo Bruce Geller (Mel Rodriguez), o maluco irmão do presidente Tripp Morgan (Jason Lee), a pinguça Sheila Cannon (Edwina Findley), dentre outros excêntricos indivíduos que engrossam o coro de possíveis culpados.

Porém, “Assassinato na Casa Branca” não está interessado em respostas fáceis, mas estigar quem assiste a pensar, ao mesmo que vai desconstruindo e desenvolvimento os personagens, inclusive a detetive, que tem uma obsessão peculiar por pássaros e um olhar meticuloso para tudo, como podemos ver no engraçado e ótimo episódio “The Last of Sheila” (1×04).
É por este motivo também, que a minissérie pode afastar os mais apressados, pois ao ter uma quantidade imensa de personagens, fica fácil de se perder no mar de nomes e suspeitos que aparecem, desde Hugh Jackman (???) até a cantora Kylie Minogue, acredite se quiser. Sendo que o ritmo acaba sendo dinâmico e cadenciado ao mesmo tempo, mas como mencionei, sem pressa para chegar numa resolução, afinal são oito episódios de quase uma hora cada, dificultando até mesmo para quem gosta de maratonar tudo de uma vez.
Felizmente, a trama não cai em nenhum momento, mas fica mais interessante essencialmente na reta final, principalmente quando a série chega no ápice do seu equilíbrio entre o drama e a comédia, que aliás, é um dos pontos fortes. É válido destacar também que toda produção da Shondaland é que a diversidade está presente em vários aspectos da produção, características sempre gritantes nas obras produzidas por Shonda Rhimes (Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton).

Temos assim um presidente assumidamente gay, com o marido e a sogra entre os suspeitos, temos personagens negros importantes incluindo nossa protagonista, bem como latinos e descendentes de asiáticos, sem falar em personagens femininas fortes, engraçadas e inteligentes. Diferente do chorume que habita a Casa Branca atualmente nos EUA, aqui temos um local mais voltado para o futuro, com funcionários formando uma família com laços de uma engrenagem que fazem cada aspecto de uma residência presidencial funcionar como uma indústria governamental.
À medida que episódios como “The Trouble With Harry” (1×05) e “The Adventure of the Engineer’s Thumb” (1×07) se apresentam, estamos completamente obcecados com esta série que tem muito a dizer sobre pessoas de diversas classes que habitam este ambiente e o que faria uma pessoa entre elas cometer tal ato tão cruel com um funcionário tão dedicado, mas cheio de possíveis inimigos.
Destacando assim, um dos melhores atributos de “Assassinato na Casa Branca”, a excelente seleção de atores e atrizes. Como é bom ver Giancarlo Esposito (Capitão América: Admirável Mundo Novo), Ken Marino (Party Down), Isiah Whilock Jr (Destacamento Blood), Edwina Findley (O Poder), Jane Curtin (The Good Fight), Randall Park (Wandavision), Elisa Coupe (Happy Endings), Molly Griggs (Servant), Timothy Hornor (Imparável) e Mary Wiseman (Star Trek: Discovery) brilharem em atuações pontuais, mas engraçadíssimas enriquecendo um contexto de peculiaridade e excentricidade que só fica melhor, porque a sintonia destes citados e o restante do elenco é um dos melhores aspectos da série.

Mas dois destaques merecem uma menção especial, o primeiro é Jason Lee (My Name is Earl) como irmão do presidente, engraçado em cada cena que aparece, simplesmente hilário com uma falta de noção que chega irritantemente bem humorada. Porém de todos mencionados, Uzo Aduba (Orange is the New Black) é a dona do espetáculo, uma detetive excêntrica, inteligente que tem um coração imenso e um amor por pássaros que nos deixa apaixonado. A atriz entrega uma atuação muito consistente inclusive mostrando uma química enorme com o resto do elenco.
As comparações com os a série de filmes “Entre Facas e Segredos” são inevitáveis, mas Paul William Davies é inteligente o suficiente para criar uma história que sabe explorar personagens coadjuvantes aproveitando o formato serializado que os filmes de Rian Johnson não têm. Sem falar que mesmo em episódios que parecem inúteis, como “The Third Man” (1×06), é onde a série tira suas melhores reviravoltas.
No final das contas, dizer mais é estragar as surpresas, mas “Assassinato na Casa Branca” é daqueles produtos sofisticados e bem executados que precisam ser apreciados aos poucos, como um bom vinho, até porque o episódio final da minissérie “The Mystery of the Yellow Room” (1×08), junta o quebra cabeça de uma forma tão magnífica que a resolução de quem matou A.B. Wynter é não mais que a cereja do bolo, mostrando não só que Cordelia Cupp (desculpe senhor Blanc) é a melhor detetive do mundo, mas merece ter mais de suas histórias contadas na telinha. Afinal, estamos diante de uma das melhores séries do ano.
Gostou? Veja o trailer abaixo e comente sobre o que achou da minissérie.

