A terceira e última temporada que deveria consolidar a nova Batwoman traz uma trama promissora, mas que logo se torna repetitiva numa narrativa que não consegue fugir dos seus problemas, mesmo sendo a sendo a série mais diversa e representativa da atualidade.
Spoilers Leves da Temporada

Quando a segunda temporada de “Batwoman” estreou ano passado tinha a ingrata missão de se reinventar para sobreviver depois que Ruby Rose deixou o papel principal, a bela Javicia Leslie teve que assumir o manto da heroína de Gotham e ainda manter o que foi estabelecido antes numa troca de bastão com altos e baixos, mas que tinha potencial para tornar a série uma das mais interessantes do quase morto “arrow-verse”.
Infelizmente a série foi cancelada depois uma terceira temporada que tentou dar uma sobrevida e consolidar Ryan Wilder como protagonista mesmo com vários coadjuvantes querendo tomar o holofote para si. A temporada anterior havia terminado mostrando potencial, fechando arcos, introduzindo Luke assumindo o manto de Batwing e apontando um caminho bacana para Ryan seguir explorando mais seu lado Batwoman com uma possível nova ameaça.
Eis que chegamos então ao início de uma nova temporada que ao invés de 18 episódios, teve apenas 13 episódios exibidos no canal CW e no streaming do HBO Max, o que não é habitual para séries de tv aberta. A season premiere “Mad as a Hatter” (3×01) começa eletrizante com a introdução do Chapeleiro Louco vilão da vez, ao mesmo tempo que novos arcos envolvendo a policial Reene Montoya (Victoria Cartagena) e a vilã Hera Venenosa (Nicole Kang) começam a tomar forma.
O primeiro episódio ainda traz o foco para Ryan ao colocar dois membros de sua família biológica para dar mais solidez a personagem e explorar seu arco dramático na figura da executiva Jada Jet (Robin Givens) e seu filho Marcus Jet (Nick Creegan). A série, além de introduzir novos personagens, precisa ainda dar espaço e função para Luke Fox (Camrus Johnson) ainda lidando com seus problemas após assumir o manto de Batwing. Mary Hamilton (Nicole Kang), Sophie Moore (Meagan Tandy) e Alice (Rachel Skarsten) complementando o núcleo principal da temporada.

O mais difícil para “Batwoman”, foi se manter regular na maior parte do tempo, algo que a temporada anterior sofreu para manter, aqui na primeira metade o seriado consegue ir bem ao trazer ameaças corriqueiras e semanais que ajudavam a desenvolver os personagens e acabam servindo para vermos a heroína em ação chutando bundas, derrotando vilões e salvando Gotham como no episódio “Loose Tooth” (3×02) e no arco dos episódios “Freeze” (3×03) e “Antifreeze” (3×04), onde sabiamente os roteiristas usam elementos e vilões ligados ao Batman como Killer Croc e Mr. Freeze para fazer a trama andar.
Isto funciona por um tempo resultando também no ótimo episódio “A Lesson From Professor Pyg” (3×05), que apesar da trama meio casos de família de Ryan com sua mãe e irmão, o resultado é um episódio que sai um pouco fora da curva e entrega um estilo com toques de suspense e terror no melhor estilo gênero “home invasion”.
Se a primeira metade da temporada tem um foco voltado em casos pontuais da semana com vilões, a segunda metade começa a trazer um arco mais serializado. A partir disto, a série entra num ciclo interessante, mas acaba por repetir bastante sua própria fórmula ao apostar em personagens loucos, dramas clichês e uma diminuição de ritmo que que não ajuda os arcos evoluírem. Nos episódios “How Does Your Garden Grow?” (3×06) e “Pick Your Poison” (3×07), temos finalmente a trama de Hera Venenosa inicialmente focado em Nicole Kang atingido seu ápice dando um fôlego novo para a narrativa.
Talvez o grande trunfo de “Batwoman” nesta temporada seja focar na dinâmica entre os personagens, o elenco regular parece bem mais entrosado, com isto, temos um crescimento de relações entre Ryan e Sophie tanto no lado da amizade quanto na parte romântica, assim como Alice e Mary que traz uma inesperada união criando um vínculo de amizade que nunca pensei que iria ocorrer, essas duas relações acabam por reforçar a importância desse quarteto dentro da trama da temporada.

A verdade é que este seriado tem seus méritos por ser não só um dos mais representativos da TV (temos três atores negros principais liderando o elenco), mas por ter um elenco majoritariamente de mulheres dominando vários aspectos da narrativa, na frente e atrás da câmeras, sem falar que esta é de longe uma das séries mais gays da atualidade, com várias personagens abertamente assumidas com arcos que se estende entre relacionamento entre mocinhas, relacionamento entre vilã e mocinhas, tudo inserido organicamente e com a importância que essa representação merece.
Ainda que a série tenha suas ressalvas, como o arco de Marcus, que é de longe um dos pontos mais fracos da série por tentar ser uma versão do Coringa, porém falhar miseravelmente, a introdução de Bridget Regan (Person of Interesting) como a Hera Venenosa original neste contexto, é um alívio trazendo uma reviravolta entre os episódios “Trust Destiny” (3×08) e o ótimo “Meet Your Maker” (3×09) que ajudam a enriquecer ainda mais o arco dramático de Mary que cresce bastante na temporada.
Os três últimos episódios têm cara de despedida e é onde a série tenta entregar um último respiro de criatividade e ainda fechar seus arcos narrativos de forma inserir mais ação conseguindo atingir seu objetivo parcialmente ao colocar Batwoman para deter Hera Venenosa no bom episódio “Toxic” (3×10), que finaliza um arco e deixa boas consequências para serem trabalhada nos episódios seguintes.
Talvez o grande ponto positivo desta terceira temporada, seja no fato de finalmente a série conseguir estabelecer Ryan Wilder como protagonista, tudo gira em torno da personagem e sua trajetória como Batwoman, aqui Javicia Leslie consegue entregar na parte dramática sendo a relação com a mãe um dos destaques como fica claro no episódio “Broken Toys” (3×11), temos ainda o fato da atriz sobressair ao conseguir manter os olhos do público vidrados no seu potencial interesse amoroso com Sophie, ambas atrizes transbordam química e carisma.

Um dos pontos que sempre me incomodaram na série foi o fato de darem destaque além do necessário para Alice, enquanto a mesma funcionava na primeira temporada e ficou completamente deslocada na segunda temporada, na terceira ela esta melhor inserida dentro da história, além disto, somando o fato da atriz Rachel Skarsten ser muito boa ajuda bastante quando ela faz dupla na primeira metade da temporada com Ryan e na segunda metade com Mary Hamilton, resultando no ótimo episódio “We’re All Mad Here” (3×12), mostrando que um personagem quando cai no gosto popular e a atriz entrega um bom trabalho, é difícil não ser valorizado.
De uma forma geral, “Batwoman” consegue fazer uma temporada boa que em muitos aspectos transita entre altos e baixos, mas garante a diversão para quem se importa com esses personagens. Nem todos os arcos funcionam, mas é uma série representativa que tenta fazer o que pode com um orçamento limitado, mas que vê na força do seu elenco uma forma de carregar a série, que ainda bebe muito da fonte da galeria de vilões do Batman, mas ainda assim encontra espaço para ter sua própria identidade mesmo apresentando certo desgaste.
O final da temporada “We Having Fun Yet?” (3×13), que aqui funciona como final da série, é correto e fecha o arco de todos personagens principalmente o da protagonista Ryan, deixando aquele gostinho de quero mais, porém com as mudanças internas da Warner buscando um público mais conservador, uma série claramente “queer” como Batwoman infelizmente não tem espaço nesta nova era que se inicia, uma pena ver esse retrocesso, pois a série merecia continuar por pelo menos mais uma temporada, mas fica a saudade e a lição de que uma série de super-herói pode ser representativa, feminista e popular.
Gostou? Veja o trailer da temporada e comente abaixo sobre o que achou desta última temporada.


