Tecnicamente impecável e com duas atuações de gala, incluindo a excelente performance de Denzel Washington, este drama ainda se prende muito a sua origem teatral faltando se consolidar como uma narrativa cinematográfica.
| 3 indicações ao oscar 2022 |
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| Melhor Ator: Denzel Washington |

No cinema existe diversas adaptações cinematográficas de origem diferentes, sejam de livros, quadrinhos ou peças teatrais, dentre outras que fazem sua transição de um formato para salas de projeção, estas sempre tiveram espaço e conquistaram seu espaço se transformando em sucessos de bilheterias, ou produções prestigiadas em premiações pela qualidade técnica e atuações impecáveis.
Seguindo esta linha, estou aqui para falar de mais uma adaptação cinematográfica que estreou brevemente nos cinemas e agora ganha espaço no streaming como original Apple TV sendo uma produção da A24. Estou falando de “A Tragédia de Macbeth” (The Tragedy of Macbeth, 2021), longa baseado em uma das peças mais prestigiadas de William Shakespeare de mesmo nome, adaptada para as telas por Joel Coen (sim um dos irmãos Coen) que aqui voa solo também na direção.
Tomando liberdades criativas e embarcando no aspecto sobrenatural e fantástico do texto, o filme conta a história de Macbeth (Denzel Washington), um aristocrata de grande de ambição que um dia encontra três bruxas e é convencido a tomar o trono da Escócia para si contando com apoio de sua ambiciosa esposa Lady Macbeth (Frances McDormand) em uma trama que mistura conspiração, traições e um grande jogo político.

O roteiro mantém o lirismo da peça teatral e tenta construir uma narrativa que tem drama, mas se apoia na fantasia para construir seu universo e suas mitologias. Nem sempre o texto de Coen surpreende, mas com certeza se vê um esforço para tornar a obra um evento cinematográfico sem precedentes trazendo um cinema mais artístico ao invés de seguir uma linha mais tradicional.
Talvez por isso “A Tragédia de Macbeth” soei mais como teatro do que cinema, mostrando que adaptações teatrais ainda são um desafio para cineastas que precisam manter o espirito da obra original e ainda assim imprimir seu próprio estilo tornando o filme algo único e diferenciado. Acredito que Joe é bem sucedido no que quer contar, mas ainda lhe falta mais personalidade para arriscar numa trama que poderia ser ainda mais intensa.
Não que o longa seja algo desperdiçado, pelo contrário, em muitos aspectos o que torna esta obra algo que vale a pena ser assistida é exatamente seu aspecto técnico. A cinematografia é um deleite visual e uma pintura em tela, a paleta em preto e branco é usada de uma forma bastante criativa em cada frame apresentado, sempre mostrando algo que contribui para narrativa em termos de ressaltar uma atuação, ou antecipar algo que acontecerá no decorrer da história, ou deixar o aspecto sobrenatural ainda mais sombrio e intimidador, como a sequência da aparição das bruxas.

A trilha sonora é boa, mas a edição e sonoplastia são um destaque positivo e acima da média, sem falar que a direção consistente de Joel Coen (A Balada de Buster Scruggs) consegue deixar o filme ainda mais envolvente neste aspecto, sem falar que a direção de arte é impecável e os cenários são bem construídos, assim como todo o aspecto da ambientação interna e externa também. Na questão do ritmo, o primeiro ato é um pouco lento, mas o longa ganha mais dinamismo a partir do momento que as reviravoltas vão acontecendo, mas é preciso ter paciência que aqui é recompensado com um maravilhoso e devastador terceiro ato.
Além do aspecto técnico, “A Tragédia de Macbeth” se destaca pelas atuações de seu elenco, gosto que o filme não se prende apenas nas características físicas dos personagens daquela época, tendo um protagonista negro do calibre de Denzel Washington (Um Limite Entre Nós) fazendo o papel de Macbeth, aqui o ator é simplesmente visceral numa atuação meticulosa que consegue trazer a complexidade que o personagem requer, mostrando sua ambição e talento conspiratório, assim como seus delírios de uma alma atormentada por culpa na metade final.
Outro destaque é Frances McDormand (Nomadland) no papel de Lady Macbeth em outra atuação consistente de uma mulher que tenta trazer senso para o marido enquanto alimenta sua própria ambição pelo poder. Gosto também da atuação de Kathryn Hunter (Harry Potter e a Ordem da Fênix) no papel das bruxas, a atriz é simplesmente assustadora numa atuação física impressionante e assombrosa. O resto do elenco ainda conta com Brendan Gleeson (A Balada de Buster Scruggs), Harry Melling (O Gambito da Rainha), Moses Ingram (O Gambito da Rainha) e Corey Hawkins (Em Um Bairro de Nova York).
No geral “A Tragédia de Macbeth” é um ótimo filme, que poderia ser ainda melhor se conseguisse desvencilhar um pouco de suas amarras teatrais e abraçasse mais seus aspectos cinematográficos, as vezes o texto realmente parece uma peça com vários monólogos em diálogos mais poéticos e menos comuns, sendo um empecilho para o público geral abraçar, se limitando aos admiradores do cinema de arte. Isto não torna o filme ruim, mas menos acessível, ainda assim com uma atuação excelente de Denzel Washington, uma produção impecável e uma direção sólida, este drama merece uma atenção especial e todo prestígio que anda recebendo.
Gostou? Veja o trailer e comente logo abaixo sobre o que achou do filme.

4 comentários sobre ““A Tragédia de Macbeth” – Crítica”