“Eternos” – Crítica

Magnífico! “Eternos” sai um pouco da curva e entrega um belíssimo filme que consegue equilibrar uma boa história, ótimos personagens e um futuro bastante promissor para o Universo Marvel.

Fonte: Marvel Studios

A Marvel nos acostumou mal, depois de 23 filmes e uma conclusão épica em “Vingadores Ultimato”, atingir esse patamar de novo seria um teste ainda mais desafiador para Kevin Feige e companhia, porém tudo é sobre construção, tempo e paciência. O começo da fase quatro com “WandaVision” abriu uma nova era para o “Universo Cinematográfico da Marvel” (UCM ou MCU), agora intercalando seriados (no Disney Plus) e filmes para construir seus arcos, adicionando novos personagens e expandindo ainda mais seu universo trazendo novas mitologias e mundos inexplorados.

Seguindo essa linha, “Eternos” (Marvel’s Eternals, 2021) dirigido pela ganhadora do Oscar, Chloe Zhao (Nomadland) é mais uma peça nesse novo tabuleiro construído pelos roteiristas da Marvel. O longa conta a história desses seres místicos criados pelos deuses que deram origem ao Universo da Marvel nos quadrinhos, chamados de Celestiais, assim os chamados “Eternos” tinham como principal missão destruir os Deviantes, criaturas místicas também criadas pelos Celestiais, mas que fugiram ao controle ao destruir qualquer forma de vida existem no lugar que habitavam.

O roteiro escrito a quatro mãos pela própria Zhao, Patrick Burleigh (Peter Rabbit 2), Ryan Firpo (Ten Years) e Matthew K. Firpo (Refuge), mostra o esforço para manter a coerência numa história inchada que possui dez protagonistas que compõe a equipe eterna que embarcou na Terra a milhares de anos sendo fundamentais para o desenvolvimento da raça humana até chegar aos dias atuais.

Fonte: Marvel Studios

A narrativa se passa no presente com o grupo separado precisando se reunir para lutar contra uma antiga ameaça, porém constantemente flashbacks sobre os personagens é inserido para entendermos suas motivações, habilidades e impacto de cada um durante algum período da história humana ligada a algum evento importante. Assim como o filme dos “Guardiões da Galáxia” em 2014 e “Doutor Estranho” de 2016, “Eternos” se passa numa realidade isolada do resto dos eventos do MCU com um escopo bem ambicioso, porém o cuidado do roteiro em mostrar o período que os eventos se passam e porque os personagens não interferiram no ataque do Thanos em “Ultimato” é simples, didática bastante eficiente.

Talvez a maior dificuldade de Chloe Zhao na direção deste filme seja o fato dela conseguir mostrar a visão do que queria mostrar sobre esses super-heróis, praticamente deuses, equilibrando seu estilo indie com um blockbuster de 200 milhões de dólares. Acredito que a cineasta consegue isso bem, apesar de nem sempre ser bem sucedida, durante alguns momentos o longa tem uma sensação de ser extenso demais e as vezes as cenas de ação carecem de um polimento melhor na questão do tempo de duração e um pouco mais de impacto, apesar de serem coerentes dentro do contexto.

Tirando essas ressalvas, “Eternos” é praticamente um espetáculo, tanto visual, quanto técnico que não só traz algo novo, mas que abraça finalmente uma representatividade racial e de gênero que o Universo Marvel tanto necessitava. Talvez este seja o longa mais adulto do estúdio até agora, tratando de temas mais maduros, com personagens complexos, lidando com problemas mundanos que aqui levam a questionamentos e conflitos interessantes sobre imortalidade e também sobre humanidade num embate de ideias que só engrandece ainda mais a jornada dos protagonistas e do enredo em desenvolvimento.

Fonte: Marvel Studios

Se no aspecto de produção o filme entrega, do lado do elenco também, com dez heróis protagonistas no contexto, o roteiro usou o aspecto de família para unir e criar um vínculo entre eles que se torna a espinha dorsal da narrativa. Na minha opinião, “Eternos” só funciona porque Sersi (Gemma Chan), Ikaris (Richard Madden), Thena (Angelina Jolie), Ajak (Salma Hayek), Kingo (Kumail Nanjiani), Sprite (Lia McHugh), Phastos (Brian Tyree Henry), Makkari (Lauren Ridloff), Druig (Barry Keoghan) e Gilgamesh (Ma Dong-seok) funcionam em sintonia e até mesmo quando alguns deles entram em conflito, o impacto é sentido em tela mostrando uma carga emocional e dramática muito boa de acompanhar.

Com um desenvolvimento cuidadoso, vários aqui se destacam, começando por Angelina Jolie (Malevóla) no papel da guerreira Thena, a atriz entrega na ação e brilha no quesito dramático quando descobrimos os problemas da personagem. Gosto bastante também da personagem de Lauren Ridloff (The Walking Dead) no papel de Makkari, com o poder de velocidade, ela é um dos destaques positivos da narrativa e tem uma das habilidades mais visualmente lindas do longa.

O ator Bryan Tyree Henry (Atlanta) é o maior destaque dramático, não só por ser o primeiro personagem assumidamente gay do universo Marvel, seu Phastos é coração e puro sentimento, além de umas das mentes intelectuais mais brilhantes dentre esses deuses. Gosto também de Richard Madden (Game of Thrones) como Ikaris, um personagem que toma rumos diferentes durante a narrativa e surpreende em vários aspectos. Gemma Chan (Podres de Rico) está linda como Sersi, mas as vezes lhe falta mais carisma e presença no quesito atuação, sua química com Madden é apenas ok.

Fonte: Marvel Studios

Outros destaques são: Lia McHugh (O Chalé) como a esperta Sprite, Kumail Nanjiani (Doentes de Amor) como o engraçado Kingo que tem como dupla com o ator Harish Patel (Maratona do Amor) no papel do carismático Karun, ambos servindo como ótimos alívios cômicos para dar um pouco de leveza a uma narrativa que na maior parte do tempo é bastante séria. Barry Keoghan (Dunkirk) no papel de Druid e Ma Dong-seok (Train To Busan) são bem aproveitados pelo roteiro, tendo papéis de destaque mostrando que não há grandes desperdícios nesta obra.

Talvez Salma Hayek (The Hitman’s Bodyguard) no papel da líder dos Eternos, Ajak merecesse mais tempo de tela, assim como Kit Harington (Game of Thrones) no papel de Dane Whitman, mas este segundo quem é fã de quadrinhos, sabe que seu personagem é muito importante e deve ganhar destaque no decorrer dos próximos filmes e séries da fase 4 da Marvel como o super-herói Cavaleiro Negro.

A verdade é que esta obra possui uma mitologia muito rica e que mesmo sendo longo, suas duas horas e trinta minutos são suficientes para desenvolver todos os personagens principais e ainda estabelecer um universo complexo e bastante promissor para Marvel, Chloe Zhao se mostra em sintonia aqui e mesmo que as vezes não consiga escapar das armadilhas narrativas e do aspecto gigantesco da produção, no geral a diretora se sai bem ao trazer boas atuações do elenco e uma construção  riquíssima que busca trazer um elenco bastante diversificado, moldado por etnias, que respeitas os diversos gêneros e que claramente esta em sintonia com o futuro mais inclusivo preparado por Feige e companhia.

Fonte: Marvel Studios

No geral “Eternos” é um filme incrível, que talvez se torne ainda mais especial com o passar do tempo, com aspecto de indie dentro de um blockbuster, o filme consegue equilibrar um bom drama, boas sequências de ação com efeitos visuais incríveis, além de uma fotografia que é puro deleite visual, sem falar numa trilha sonora maravilhosa e marcante cortesia de Ramin Djawadi (Game of Thrones).

O longa também conta com uma narrativa que se preocupa com desenvolvimento dos seus personagens e por mais que falte as vezes o aspecto ou sentimento de um filme de super-herói tradicional da Marvel, o filme ganha pontos por trazer um frescor, um elenco afinado e a promessa de uma trama cósmica ambiciosa que aqui é construída de forma meticulosa e que deixa um gostinho de quero mais, pois na minha visão, este primeiro ano da fase 4, tem tudo para ser igual ao filme de Chloe Zhao, eternamente misterioso e satisfatório.

Elo Preto

Personagem: Makkari
Atriz: Lauren Ridloff
Idade: 43 anos

O destaque da coluna de hoje, não poderia ser nada mais nada menos do que Lauren Ridloff no papel da rapidíssima Makkari, uma das personagens que mais se destacam nesta trama, ganha pontos por trazer a linguagem de sinais para um grande blockbuster e fazer muitos expectadores procurarem mais sobre Libras, a atriz Lauren tem a mesma deficiência que sua personagem. A atriz transmite carisma e intensidade numa atuação muito boa que ainda ganha também no aspecto visual, as sequências de Makkari correndo são inspiradíssimas e Lauren parece se divertir muito no papel. A atriz já tinha ganhado destaque ao entrar para o elenco de “The Walking Dead” na nona temporada, mas agora começa a ganhar notoriedade nos cinemas também, ela também participa do ótimo drama “O Som do Metal” e deve fechar sua participação na última temporada da série de zumbis em breve. 

Gostou? Veja o trailer abaixo e comente também. Bem vindo ao HN 2022.

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