“Falcão e o Soldado Invernal” – Minissérie – Crítica

Continuando a fase 4, a Marvel traz ação, revolução e mudanças para seu universo cinematográfico continuando as histórias de Sam Wilson e Bucky Barnes numa série complexa em seus temas e que abraça a diversidade entregando um produto cheio de boas reviravoltas.

Alerta de Spoilers da Temporada

Fonte: Disney Plus

Se fosse anos atrás, não imaginaria que teríamos a fase 4 da Marvel deixando os cinemas e começando primeiro nas telinhas, mas devido a pandemia tudo mudou e com isso todo o planejamento de Kevin Feige e sua equipe. Eis que estamos nos aproximando no meio do ano, e a fase 4 continua se expandindo rapidamente através do streaming Disney Plus, que começou no início do ano com a ótima WandaVision e agora continua a trajetória injetando ação e adrenalina com “Falcão e o Soldado Invernal” (The Falcon and the Winter Soldier, 2021), que tem mais a dizer do que poderíamos imaginar em um universo que se torna mais engenhoso a cada novo produto lançado.

A série segue os eventos pós “Vingadores: Ultimato”, diferentemente da série protagonizada por Elizabeth Olsen que passava semanas depois, esta narrativa protagonizada por Sam Wilson (Anthony Mackie) e Bucky Barnes (Sebastian Stan) se passa meses depois em um mundo que ainda sofre as consequências do retorno de metade da população mundial e se mostra ainda perigoso e instável precisando de super-heróis para protegê-lo. A série foca nesses dois personagens com personalidades diferentes lidando com seus próprios problemas pessoais ao mesmo tempo que tentam continuar exercendo seus papéis de vingadores.

A atmosfera mais sóbria de “Falcão e o Soldado Invernal” é visto logo de cara quando assistimos ao piloto do seriado intitulado “Nova Ordem Mundial” (1×01), dirigido de uma forma excelente por Kari Skogland (The Handmaid’s Tale) e escrita de forma precisa pelo roteirista e showrunner da série Malcolm Spellman (Empire: Fama e Poder) que inicialmente situa o expectador mostrando a rotina de Sam Wilson (Mackie) que continua fazendo missões militares como Falcão, capturando bandidos e salvando civis, ao mesmo tempo que tenta resolver problemas mundanos como conseguir um empréstimo para manter o barco da família junto com a irmã Sarah (Adepero Oduye) no interior da Louisiana, além é claro lidar com a decisão de tornar ou não o próximo Capitão América, depois que Steve lhe deixa o escudo.

Por outro lado, temos Bucky Barnes que encontra na reparação e na terapia uma forma de lidar com os próprios demônios e assim conseguir seguir em frente. Em paralelo a tudo isso, vemos a crescente ameaça de um grupo rebelde denominado “Flag Smashers” ou “Apátridas” liderados por Karli Morgenthau (Erin Kellyman), grupo esse que tem super força advindo do mesmo soro que criou Steve Rogers. O seriado mostra a que veio numa enorme cena de ação com Falcão em ação, logo de cara vemos que a narrativa irá impressionar nesse aspecto e é algo que realmente se mantém posteriormente.

Fonte: Disney Plus

A trama de “Falcão e o Soldado Invernal” fala muito sobre legado, família, amizade e mudança, que está presente em cada episódio da série ganhando camadas e mais camadas à medida que vamos assistindo a curta temporada que tem apenas seis episódios. Como citei anteriormente, o bom de ter séries dentro do UCM, é que ganhamos bastante no desenvolvimento de personagens, além de uma expansão deles dentro desse universo permitindo aparições pontuais até mesmo de outros super-heróis, como Rhodes (Don Cheadle), o Máquina de Combate, ou vilões misteriosos como Val (Julia Louise Dreyfus).

O seriado bebe muito do clima de paranoia e tensão de “Capitão América: O Soldado Invernal” e “Capitão América: Guerra Civil”, mas agora com Sam e Bucky tentando manter o legado de Steve ao mesmo tempo que tentam encontrar cada um seu caminho para seguir em frente. Ao renunciar às responsabilidades de assumir o manto do Capitão América, Sam deixa o caminho para livre para o surgimento de John Walker (Wyatt Russell, ótimo) no papel do novo garoto propaganda do governo dos EUA, o que acaba colocando Walker como espinha dorsal do seriado servindo de contraponto perfeito para a jornada de Bucky e Sam.

O episódio “O Herói Americano” (1×02) reforça que a série é um drama com toques de ação, mas que também tem muito de “buddy cop” em sua essência ao trabalhar a dinâmica entre Sam e Bucky, que apesar dos conflitos, parecem um casal cheio de intrigas bobas e tensão (a cena da terapia é engraçadíssima), mas que no final das contas estão prontos para ação quando a hora chega, vale um destaque para a ótima química entre Anthony Mackie (O Banqueiro) e Sebastian Stan (O Diabo de Cada Dia), moldada desde 2016 quando mostraram entrosamento em “Guerra Civil”, aqui ela está melhor do que nunca.

Fonte: Disney Plus

A série funciona como uma escalada de tensão a cada episódio, mas acredito que os showrunner Malcolm Spelman tem um pouco de dificuldade em manter a atenção do público o tempo inteiro, com menos mistérios, a série não consegue se segurar muito com apenas os “Apátridas” sendo uma ameaça para a dupla de vingadores e John Walker sendo uma pedra no sapato da dupla, mas felizmente a trama tem algumas cartas na manga ao trazer Daniel Brühl (Rush: No Limite da Emoção) de volta no papel do vilão Barão Zemo, além da presença sempre bem vinda de Emily VanCamp (Revenge) voltando no papel de Sharon Carter.

Em “Mercador do Poder” (1×03), a série apresenta aos fãs do Universo Marvel, a exótica e perigosa cidade Madripoor, conhecida nos quadrinhos por ser uma cidade comandada por mutantes, aqui chega como uma oportunidade de expansão que promete ser centro de várias outras histórias futuramente. Neste contexto é importante notar o quanto a direção de Kari Skogland cresce em sequências de ação quando a narrativa está muito amena, seja ela protagonizada por Sam e Bucky, ou apenas por Sharon Carter, o seriado cresce a cada nova cena de pancadaria, se elas não são 100% marcantes, funcionam bem como catalisador progressivo da narrativa.

A série “Falcão e o Soldado Invernal” entra em outro patamar quando começa a peso as ações de seus personagens num desenvolvimento sublime, isso fica nítido no episódio “O Mundo Está Vendo” (1×04) este com um foco em John Walker que nos leva a uma sequência de ação espetacular com um dos finais mais sangrentos e chocantes da história do Universo Cinematográfico da Marvel, mostrando que os roteiristas da Marvel não só estão dispostos a surpreender, como a elevar o peso das histórias dessa nova fase ao trazer uma crítica simbólica a paranoia norte americana de querer resolver os problemas do mundo e as consequências de uma pessoa instável assumir o papel de herói num momento crítico.

Fonte: Disney Plus

Isso tudo rebate em Sam e Bucky, dois personagens que possuem trajetória distintas, mas que encontram um ponto em comum para lutar juntos. Bucky está numa jornada de superação e aceitação, aqui o roteiro traz seus traumas, mas mostra um caminho de recuperação ao colocar Sam para ser sua âncora para um caminho mais feliz, neste aspecto Sebastian Stan entrega muito ao personagem em uma mistura carisma e confiança. O personagem cresce em densidade quando Ayo (Florence Kasumba) e suas perigosas Dora Milajes aparecem na narrativa nos fazendo lembrar do seu tempo em Wakanda e trazendo uma nostalgia mais que bem-vinda daquele universo.

Por mais que seja uma série sobre dois personagens, a reta final fica claro que Malcolm Spellman e sua equipe de roteiristas (de maioria negra) construíram esta narrativa como transição e evolução para Sam Wilson assumir o manto de Capitão América. “Eles nunca deixarão um negro ser Capitão América”, diz o personagem Isaiah Bradley (Carl Lumbly) a Sam em um determinando momento da série, este que nos quadrinhos era conhecido por ter sido uma das cobaias do super soro, mas acabou sendo torturado pelo exército e escondido depois do fracasso de seus experimentos.

Esta frase ecoa de forma forte na reta final de “Falcão e o Soldado Invernal”, sobre o peso de assumir um legado, mas mais que isso, causar um impacto cultural de mudança na forma como enxergamos nossos heróis. O episódio “Verdade” (1×05) que funciona como calmaria antes da tempestade, temos o confronto final entre Sam e Bucky contra John Walker, mas a parte mais importante da narrativa é o fato de a história, além de consolidar a amizade dos protagonistas, muda o foco para que Sam possa abraçar o legado e a mudança de se tornar o novo Capitão América.

Fonte: Disney Plus

O seriado trata de temas atuais e muito próximos da nossa realidade como xenofobia, extremismo, falso patriotismo e racismo, tudo isto serve como catalisador de tudo aquilo que Sam Wilson irá enfrentar ao decidir abraçar seu destino. Claramente a Marvel manda um recado bastante objetivo aqui sobre abraçar a diversidade e tornar suas histórias o mais inclusivas possível dando um peso maior aos seus personagens não brancos funcionando como um divisor de águas para o próprio estúdio.

Se Kevin Feige sabe que o futuro é diverso, é no apoteótico final de temporada “Um Mundo, Um Povo” (1×06) que ele e sua equipe mandam um recado para os nerds reaças e consolidam sua visão de mundo onde um Capitão América negro é bastante significativo não só como agente da mudança, mas como porta crucial para diálogos diplomáticos em conflitos globais. É aqui que Anthony Mackie se consolida como um dos melhores atores do Universo Marvel atual, detentor de um carisma quilométrico e uma segurança notável, o ator abraça de vez o manto de um dos maiores heróis deste universo, criando algo só seu, sem precisar de soro, sem precisar ter super força, ainda que seu novo uniforme espalhafatoso seja bastante tecnológico e surreal, mas no final das contas ainda é um humano sem poderes, mas com determinação, um discurso forte e reflexivo, humildade e camaradagem de sobra.

Por tudo aquilo que foi citado, devo dizer que “Falcão e o Soldado Invernal” é uma grande série, não é perfeita, ainda acho que seis episódios é pouco, oito episódios seriam o ideal para deixar a narrativa ter mais respiros, mas não há como negar que a série é recheada de tudo aquilo que o expectador quer ver, ação, aventura e drama na medida, além de apresentar temas relevantes e atuais, mas sempre colocando o desenvolvimento de seus personagens acima do espetáculo visual e por isso funciona. Usando o carisma de Mackie e Stan, e se apoiando no legado e na mudança para transformar a história de Sam e Bucky, o seriado é mais uma produção bem-sucedida da Marvel que merece ser assistida e apreciada do começo ao fim, te prometo que não receberá nada menos do que satisfação garantida.

Elo Preto

Personagem: Sam Wilson/Falcão
Ator: Anthony Mackie
Idade: 42 anos

O grande destaque da coluna hoje é Anthony Mackie no papel de Sam Wilson, carismático e bastante profissional, este vingador que antes era conhecido como Falcão, teve a oportunidade de crescer através desta série de uma forma espetacular e assim assumir o manto de Capitão América. Mackie entrega muito para um personagem negro que só fica melhor, mas que jamais esquece de suas origens, porém evolui de tal forma que é impossível não vibrar quando ele usa a roupa e o escudo em ação pela primeira vez no final da temporada. Anthony é conhecido por diversos trabalhos em Hollywood, os seus mais recentes são: “O Banqueiro”, “Zona de Combate” e “Sincrônico”, porém já foi confirmado a algumas horas atrás através de fontes oficiais em “Capitão América 4”, desta vez como protagonista absoluto da trama. 

Gostou? Assista ao trailer da série e já conferiu os seis episódios comente logo abaixo.

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