“Soul” – Crítica

Tentando encontrar as respostas sobre o propósito da vida, a nova animação da Pixar consegue fazer uma obra única e extremamente profunda e necessária.

3 Indicações ao Oscar 2021
Vencedor de 2 Oscars
Incluindo:
Melhor Longa de Animação
Melhor Trilha Sonora
Fonte: Disney Plus

Os filmes da Pixar nos encantam a gerações e isso não vem de hoje, eu sempre gosto de dizer que ao contrário dos outros estúdios de animação (bem competentes por sinal), esta empresa tem um fator chave que sempre pega o público de um jeito inigualável, eu costumo chamar de “elemento Pixar” ou “momento Pixar”, aquele momento em que você se emociona e fica até com os olhos marejados, aconteceu na cena do ferro velho em “Toy Story 3”, aconteceu em todo o primeiro ato silencioso de “Wall-E”, aconteceu novamente na abertura inesquecível de “Up – Altas Aventuras”, aconteceu quando Jessie contou sua triste história em “Toy Story 2” e aconteceu recentemente quando Ian descobre o valor das pessoas que estão ao seu lado no recente “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica”, e isto aconteceu de novo com a recente estreia do longa “Soul” onde mais uma vez fomos arrebatados por uma Pixar tocante e que nos marca de uma forma inesquecível.

O longa estreou no Natal do ano passado direto no Disney Plus, algo novo para quem está acostumado a ver essas animações no escurinho da sala de cinema, porém isso não afeta o resultado. “Soul” apesar de alguns por menores, se mostra a animação mais madura da Pixar até o momento, trazendo nuances narrativas poucas vezes vista em uma animação, tudo isso sem perder as características que fizeram da Pixar o que ela é, ainda que o humor aqui seja mais tímido do que em outros longas da empresa, ainda assim são efetivos para quebrar todo clima dramático e as vezes até melancólico que a trama longa carrega.

A premissa de “Soul” conta a história de Joe (Jamie Foxx), um atarefado pianista de jazz que de repente se vê numa estranha localidade situada entre a Terra e a pós vida, a partir de então ele tenta de tudo para voltar a sua vida mundana de forma fazer a apresentação de sua vida num clube de Jazz famoso. O roteiro escrito a três mãos por Peter Docter (Monstros S.A.), Mike Jones (Os Incríveis 2) e Kemp Powers (Uma Noite Em Miami), consegue rapidamente situar o expectador e criar uma atmosfera acolhedora, dando espaço para vermos Joe na sua vida, simples, atarefada numa rotina operante que lhe traz um pouco de satisfação apenas quando tenta perseguir seu sonho de ser um pianista de Jazz famoso.

Fonte: Disney Plus

O início simples da narrativa, vai ganhando um ar mais complexo à medida que Joe sofre um acidente e se descobre nas escadas rolantes de um lugar desconhecido indo para o “grande além”, até claro as coisas darem errado e ele  cair num local chamado “Seminário Você”, um centro de distribuição de almas onde elas se desenvolvem e ganham personalidade, é lá que ele conhece a extrovertida 22 (Tina Fey) e é onde começará a reavaliar a si mesmo ao embarcar com sua nova amiga numa jornada para tentar voltar a Terra. Tudo aqui é muito familiar, até este ponto sabemos como Peter Docter trabalha, ele que também co-dirige o longa com Kemp Powers sabe moldar suas peças de forma dizer ao telespectador o que quer fazendo-o pensar além da premissa estabelecida.

A parte da pós vida, se assemelha bastante aos mundos já criados por Peter em “Monstros S.A.” e no brilhante “Divertidamente”, cada lugar tem uma função e um propósito, seja na parte onde as almas são selecionadas e amadurecem, seja no local onde elas ganham personalidade, seja aonde elas vão quando perdem seu propósito. A animação é inteligente, pois apresenta tudo aquilo que você precisa saber de uma forma bem dinâmica na primeira metade no filme, antes de te mergulhar na parte mais séria e dramática.

Toda a base mundana de “Soul” claramente tem as mãos de Kemp Powers, sua concepção do mundo do Jazz, além das cenas do guetto situando-se principalmente na parte aonde é localizada a comunidade negra de Nova York, onde se encontram os familiares e amigos maravilhosos de Joe, além das figuras inusitadas que o personagem cruza no caldeirão cultural de Manhantan fazem desta parte do filme um presente, isso sem falar na forma e no capricho de como os animadores capturam a essência do Jazz nas cenas do clube e na forma como Joe toca seu piano (simplesmente mágico).

Fonte: Disney Plus

Ao juntar intercalar as duas narrativas mencionadas, os diretores tentam através de muita criatividade tentar explicar o significado da vida, tudo isso através da dinâmica entre Joe e 22, o primeiro tentando encontrar uma forma de voltar para seu corpo físico e suas obrigações, a segunda tentando de uma forma mais leve possível achar seu propósito como alma e uma personalidade definitiva. Ao trazer uma troca inusitada no decorrer da trama, a animação oferece um pouco dos dois mundos e abre espaço para o público entender o que significado da vida humana e o propósito que cada um de nós temos aqui na Terra, tudo isso sem ser muito didático, fazendo o público refletir e não se dispor de respostas prontas.

“Soul” é excelente por isso, ele confia no público que tem, por isso a segunda metade vem como um soco no estômago, um apelo emocional que dificilmente vai te deixar quando os créditos começarem. É claro que ao apostar numa trama mais séria e um humor pontual, o filme talvez afaste um pouco as crianças, apesar de ter seus momentos fofinhos no além vida, por outro lado acredito que será um deleite para adolescentes e adultos que buscam algo mais sóbrio, reflexivo e com bastante emoção.

A parte técnica desta obra é simplesmente um espetáculo, a animação é caprichadíssima no seu tradicional 3D com um fotorrealismo poucas vezes vistos no formato. Ao misturar animação em 2D em determinados momentos temos aqui animadores que não tem medo de inovar ou se arriscar transitando entre layouts diferentes. O roteiro é ótimo, a fotografia é deslumbrante e a trilha sonora composta por Trent Reznor (Mank), Atticus Ross (Mank) e Jon Bastite (Sonic: O Filme) é brilhante, principalmente nas cenas de Jazz, que aliás, mereciam ainda mais espaço na trama, mas o tanto que é mostrado ainda é muito bom de assistir. É bom ressaltar que para quem quer saber sobre a dublagem, ela é muito boa e muito bem feita.

Levando em conta tudo que foi dito, pode-se dizer que “Soul” é  de longe uma das obras primas da Pixar, após o excelente “Viva – A Vida é uma Festa”, esta empresa da Disney traz uma animação com seu primeiro protagonista negro (e senão me engano seu primeiro diretor negro de longa metragem também) e se sai muito bem ao construir um mundo bastante rico, realista e que não perde a doçura ao explorar os fundamentos básicos da vida se utilizando de uma trama mais espiritualista que no final das contas traz uma mensagem muito simples, porém bastante reflexiva que irá fazer seu público se emocionar, ainda que a última cena entre Joe e 22 seja um pouco melancólica e deixe um gostinho de quero mais, é ali que finalmente notamos, que estamos diante de mais um inesquecível “momento Pixar”.

“Explorando vários aspectos da vida humana com muito cuidado e muita emoção, esta animação dirigida por Peter Docter e Kemp Power é um deleite narrativo arrebatador, que explora a cultura negra através da música trazendo momentos lindos visualmente, indo além ao usar a narrativa do plano espiritual para explorar o propósito do que é ser humano. Simplesmente encantador!” –

Certificado Excelência Negra

Gostou? Assista ao trailer. E se já assistiu este excelente filme, comenta ai abaixo.

4 comentários sobre ““Soul” – Crítica

Deixe um comentário